Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Ciclo vital


Saí da minha mãe
Mas nem dela sou
Não sei de onde venho
Nem para aonde vou.
Um óvulo e um esperma
Encontraram-se ao acaso
E desse encontro improvável
Lá eu virei feto.
Há 49 anos
Após nove meses de espera
Botei a cara no mundo
Virei habitante da Terra.
Para ela voltarei
Corpo inerte em um caixão
Ou transformado em cinzas
Num rito de cremação.
Ano que vem chego aos 50
É pouco provável que aos 90
Dizem que a vida só começa
Depois que se completa 40.
Se é verdade estou com 9
Posso chegar aos 19
E nem passar dos 80
Milagre chegar aos 90.
Morre-se a cada segundo
Logo após o nascimento
Cumpro meu ciclo vital
Vivo cada momento.

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