Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Fêmea


Tive a felicidade
De encontrar um poema
Em forma de fêmea.
Onça em forma de deusa
Deusa em forma de onça
Felino jeito de me deixar sem jeito.
Deixei-me engravidar
Pelo tom do teu falar
Como quem desperta de um sonho.
Em minutos, menos de quarenta
Minha voz cruzou com a tua
Fugi para o meio da rua
Comecei a banhar-me na chuva.
Puro sonho de ao teu lado estar
Sentir os cristais daquela garoa
A tocar nossa pele, em série, a dois.
E esquecermos o hoje, o antes e o depois.

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