Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Tempestade de ideias

Carolina, minha filha, me veio à cabeça. Felipe, meu filho, Yanka, Roger, as crianças da minha família, as crianças do meu estado, da minha cidade, do meu Brasil, do mundo. Imagens, passagens, o filme da minha vida, em 3D, passava na velocidade da aeronave, tendo o céu como tela. Raios, luzes da cidade. “Senhores passageiros, com a sua licença, dentro de instantes pousaremos no Aeroporto Internacional Jorge Teixeira de Oliveira ....”. “Tio, vou ficar em Porto Velho. O senhor vai para onde?”. Novo sorriso. “Vou para Manaus”. Outra voz surge: “Minha filha, você já arranjou alguém para conversar?”, disse a avó dela, que completou: ”É minha neta. Crio desde os 5 dias”. Que alívio! Um turbilhão de ideias passara pela minha cabeça. Além do susto que realmente tomei, talvez por sair do transe com o movimento daqueles bracinhos, fiquei com receio de falar com aquela menina doce e meiga que a mim se dirigia por ser um estranho: nunca se sabe como as pessoas reagem aos estranhos. Simpática, talvez por eu também ser do Acre, a senhora sorriu, contou um pouco sobre Bruna Grazielle, a Grazi, “não é a Massafera”, completou a Tia da criança. Grazi sorriu de novo e, pelo lado do banco, da poltrona 10A, estendeu a mão e apertou a minha: “Tio, já vou”. Apertava a minha mão com tanta ternura que eu sentia o desespero da Carolina (minha filha) com a minha ausência. Estava quase chegando em Manaus. Será que aquilo tudo era um tipo de aviso, de premonição? Algum sinal, alguma força atmosférica? “Grazi, a gente nunca mais vai se encontrar, nunca mais vai se vê”, murmurei. Ela não largava a minha mão, sempre pressionada e só sorria, cada vez mais largamente. “Queria escrever algo sobre isso tudo”, finalizei. Sua avó me passou o e-mail dela (avó) e fiquei a vagar na viagem das minhas ideias. Todas as firmeza e segurança a respeito do ato de voar esvaíram-se. O sorriso de Grazi amalgamava-se com o sorriso da Carolina. Seria aquilo tudo um sinal? Será que este avião não chega em Manaus? Gelei! Há muito não sentia medo. Decolagem. Tudo normal. Nuvens. Raios. Luzes. Os olhos voltam-se para o livro. Para a janela. Carolina me espera em Manaus. Grazielle, talvez, nunca mais surgirá na minha frente. “Quero escreve algo sobre isso”, pensei. O que fazer? Os dois sorrisos de menina se misturavam. Meu livro de moda, meus projetos. Tudo o que já produzi! Eureka! “Em ca(o)ntos” foi um livro de contos que escrevi em 1994. Seus 1.000 exemplares esgotaram-se rapidamente. Isso mesmo, ao chegar em Manaus, faria um Blog exclusivo para exercitar a minha ARTE, a única forma de exercer a plena liberdade de sorver os sabores e os saberes do universo. A sabedoria oriental nos ensina que há duas realidades: a física e a virtual. É na segunda que se insere a alma, a essência do ser humano. Ela é onipresente, onisciente e onipotente. É nessa realidade que se encontram o campo das potencialidades, das possibilidades. É aqui que todo o ser humano explode em produtividade, criatividade e inteligência. O ciberespaço, portanto, é o infinito campo da mente no qual se pode exercitar a saúde perfeita e o amor incondicional. O encontro com Grazielle foi um dos gestos de amor mais puros que a vida podia me proporcionar. Só comparável ao amor que dedico à Carolina e ao Felipe. Minha gravidez intelectual seria coroada com a criação do Blog Em Ca(o)ntos. Há pouco, descobri que o Blogger não aceita os caracteres “(“, “)”, o que desvirtuaria o nome inicialmente pensado. Pesquisei “Em Cantos’. Já em uso. Uma luz: ora, se não “Em Ca(o)ntos, por que não “Em Toques”, uma vez que tudo será no Ciberspaço? Assim surgiu nosso Blog! Boa leitura!

2 comentários:

  1. meu amigo Gilson, você nem imagina quando abri meu imail que encontrei uma história tão linda contada por você, as lagrimas cairam pois saber que agente ainda encontra pessoas tão especiais com você, vou ler tudo para Ana Grazielle a Grazi, numca queremos perder o contato com você, um grande abraço da Grazi da tia dela Cleice e a avó, sejá muito feliz.

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  2. Foi um econtro singelo, doce e de pura emoção. Momentos como aqueles me levam a apostar sempre no ser humano. Não tenho muito o que dizer: tentei apenas sentir. Beijos carinhosos em todos.

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