Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Declives


Desço das sombras e só encontro descaso
O nosso caso virou ilusão
Nos momentos mais tristes da vida
Encontro-me comigo e minha solidão.
Olho pro barranco: quero esse voo
Do nada rumo a lugar nenhum.
Depois de alguns goles de álcool e rum
Aclives mudam de direção
E levam de lugar nenhum ao nada.

domingo, 29 de abril de 2012

Escombros


Nosso querer não passa de sombras
De uma relação que um dia já deu
De um sonho dourado de vida eterna
Juntos você e eu.
Só restam os restos do que foi um amor
E as dores sombrias do nosso desejo
Revejo o que foi parar na lata do lixo
Pedaços do que um dia foi um beijo.

sábado, 28 de abril de 2012

Evite


Dirija o olhar para os meus olhos
Acredito na força do desejo
Apenas por aquilo que vejo
E na reação dos poros.
Portanto não cerre as sobrancelhas
Nem impeça que eu veja
O quanto que me desejas
Evite não me olhar.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Fingida


Minhas verdades são tão críveis
Que muitas vezes parecem mentiras
Quando negadas se tornam incríveis
Quem sabe alguém um dia acredita.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Assexuado


Meu amor por ti é tanto
Que nem quero quebrar o encanto
Não chego perto nem noite nem dia
Por querer manter a magia.
Sempre me ensinaram que sexo é pecado
Então quero estar ao teu lado
Como o mais puro dos imortais
Dessa academia de elos e peles
Que não se tocam jamais.
Não quero sexo apenas manter o nexo
Dessa relação entre divinos seres
Que não maculam a pura beleza
Dos seus eternos instintos e quereres.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Marcas de sangue


Meu corpo sangra de desejo pelo teu
Pingos de lágrimas misturam-se com teu cheiro
Teu desejo explode junto ao meu
Embaixo desse quente travesseiro.
Meu querer não é interesseiro
Limita-se a te prender perto de mim
Nem que para isso não obtenha
Tudo o que de ti desejo.
O sangue que nos marca, porém,
Traz tua marca também
Comportam as gotas e cores
Impressões dos nossos amores.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Noites


Meus dias mais parecem noites escuras
De poucos sonhos e insondáveis fantasias
Tê-la em meus braços era o que mais queria
A esquentar minhas noites frias.
Um cheiro de sangue retira você dos meus sonhos
Nem noto o que faço, nem o que componho
Um medo assombra: pesadelo medonho
Desfaz o castelo erguido às escuras
Abro os olhos, não vejo a manhã
Pois meu amanhã virou um hoje de solidão.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Trovoadas


Trovões, relâmpagos e fortes ventos
Anunciam que você se prepara para chegar
As águas dos lagos, rios e igarapés
Turvam-se e curvam-se para recebê-la.
Óh bendita água que desce das estrelas!
A ti entrego a alma e a chance de tê-la.

domingo, 22 de abril de 2012

Velório


Adoro-te nas tuas incongruências
Amo-te nas tuas indecências
Desejo-te como a uma joia rara
Meus olhos, lágrima não mais suporta
Talvez, porque, já estejas morta.

sábado, 21 de abril de 2012

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Honestidade


Dizer não quando não te quero
Dizer sim, se te venero
Sentir prazer até em te ver
Endoidecer por não te querer.
Há certas coisas que só com a idade
Dentre elas a maturidade
Ser sincero durante todo o dia
Tem doses claras de hipocrisia.
Que cada um viva a sua verdade
Respeitar o outro é ato de bondade
Sejamos parte desse universo
Dos que respeitam quem é honesto.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Apenas bons amigos


Estupraram a decência
Fizeram-na passar de mão em mão
Desembolsaram dinheiro público mês a mês
E a isso deram o nome de mensalão.
Depois os ministros brincaram de dominó
Em uma disputa para ver quem dava mais nó
Enfiaram o pé na jaca dos ministérios
Ficaram livres, mais que mistério!
Passaram a se refestelar em festas
Como se não tivessem nada com isso
Disseram que todos eram pessoas honestas
Que não tinham nada que ver com o jogo-do-bicho.
Para eles contravenção é besteira
Pois na Caixa Econômica Federal tem jogo todo dia
Portanto, mal nenhuma haveria
Em serem amigos do Carlinhos Cachoeira.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Confesso


Tua falta, sinto, até na presença
Muito mais ainda na ausência.
Essa louca saudade provoca demência
Chego a perder até a decência
Se, por outro lado, não te tenho ao lado
De que me adianta te ter à distância
Viver de nada serve nessa inconstância
Em minhas orações ao pé da cruz, do padre
Pago cada pecado em tom de penitência
Para suportar esse vazio não há Ciência
Que apague essa dor que no meu peito arde.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Reações


Sinto, a qualquer distância, a tua presença
Ainda que pareça anormal, até em rede social
Meu corpo reage de forma intensa
Levanta-se, é o primeiro a dar sinal.
Tento esconder, ele não deixa
Sobe um quente-frio pra cabeça
São tantas e intensas reações
Que a pele te deseja sem que eu mereça.
Se te tudo, eu morrer sem que te tenha
Espero que a mim, tua alma venha
Para sentir como se fosse algo real
O que me provocas nesse ambiente virtual.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Punhal


Sinto o quente sangue a escorrer
Do golpe por ti aplicado em mim
Dilacerado coração em pedaços
Gotas pululam, tento contê-las
Dor maior é te querer e não tê-la.
As forças esvaem-se enquanto o sangue jorra
Dedico-me, aos poucos, a te perder de vista
Pois a vista turva-se, o mundo apaga-se, sou nada
Nessa luta inglória, vislumbro a morte na sacada.

domingo, 15 de abril de 2012

sábado, 14 de abril de 2012

Diversidade


De verso em verso
Faço poemas.
Às vezes em prosa
Digo um pouco menos.
Nada me obriga
A concordar contigo
Muito menos quero ser
Apenas amigo.
Se não te posso ter:
Vai! Aproveita teu mundo!

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Vorazes


Todos os amantes
Nos primeiros instantes
São vorazes e fortes
Juram amor eterno
Só quem separa é a morte.
Nem bem passam a viver juntos
O eterno amor vira defunto
A morte chega primeiro.
A vida em sociedade
Gera a saciedade
E o fogo inicial
Torna-se um sopro frugal.


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Tempestades


Há dias de chuvas torrenciais
Nos quais os ventos sopram mais fortes
O gélido frio da morte
Espalha-se nos mananciais.
Desce ladeira abaixo, chega aos rios.
Pela coluna, sobem calafrios
Quando trovões e relâmpagos
Cortam os ares.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Despeito


Credite tuas vitórias
Ao teu esforço em se superar
Deixe a modéstia de lado
Aprenda a se valorizar.
Aquele que de ti desfaz
Com apetite voraz
Esconde um desejo ferino
De te ver sucumbindo
Ao obstáculo mais fugaz.
Supera esse olhar carregado
Desse seca-pimenteira
Perceba que estás atado
Desata os nós ao teu lado
Retome a alegria inteira.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Cruzamentos


Há pontos de ruas e destinos
Que se cruzam e entrecruzam
Quando menos esperamos.
Rios desviam seus cursos
Estradas, caminhos e percursos
Encontram-se quando os desviamos.
Entre destinos e ruas
Meninos e garotas nuas
Nas esquinas da Djalma
Ou na Estrada de São Jorge.
Enquanto infâncias são perdidas
O resto da cidade dorme.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Desistência


Desisto de entender os humanos
Por serem extremamente profanos
Burlarem a lei dos Deus
E dos próprios seres inumanos.
Prefiro lidar com os anormais
Que se portam como os animais
A conviver com hereges
Profanadores do tempo
Da ignorância e da hipocrisia
Que domina a vida em sociedade
Em troca do pão de cada dia.

domingo, 8 de abril de 2012

O que der


Não te quero pra vida inteira
Porque nem da vida sou dono.
Se não viver o agora
Terei como assombro o abandono.
Quero-te em meus braços a cada minuto
Ser o dono do teu tempo absoluto
Sem viver abnegado
Por um fantasma do passado.
Não te quero pra minha mulher
Nem quero ser dono do teu corpo
Quero sim, viver o que der
E estar em teu pensamento mais absorto.

sábado, 7 de abril de 2012

Amor impuro


Se existe amor puro
É porque impuro também há
Mas se não coisas do coração
Quantos tipos de amores hão?
Pureza ou impureza
São formas de uma olhar objetivo
Ou são moedas de um mesmo ser
Sentidos de um só adjetivo.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Entrega


A sexta-feira é da paixão
Da entrega do filho
Do homem que se fez pai
Filho e espírito santo.
Para os católicos
Mas há quem proteste
Deteste
Essa coisa de imagem
Quanta bobagem!
Melhores dias virão
Piores homens também
No outro dia irão
Com suas mulheres ou não.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Tristeza


Tento entender essa dor lacerante
Que dominantemente inocente
Destroça a alma na tua ausência
Provoca demência, atroz inocência
Desfaço o sorriso, em gritos de dor.
Sem ti sentir é algo improvável
Contigo desligo-me do mundo real
Nem sei se é amor esse infame desejo
De me afogar em delírios e beijos
E deixar que essa dor
Qualquer dia transforme-se em amor.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Obrigações


Ventos nos movem em direções
Nem sempre obrigatórias
Que transformamos em obrigações.
Sou coletivo ser-indivíduo
A abrir mão de viver emoções
Quando o que é de todos supera os sentidos
O branco da luz brilha em decisões
A reluzir entre cores e odores
Sabores de uma vida levada a dois
Para que de um todo renasçam um só
Poeta de todos os tipos de nós.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Prazeres


Às vezes o que escrevo
Não me dá prazer, dói nos nervos:
Transformo em poema um cortejo
Quer seja até um enterro.
Não creio em vida após a morte
Por isso não quero caixão como suporte
Prefiro em vida ser amado
E ao morrer, ser cremado.
Quero minhas cinzas jogadas
Em um rio alagado
Ou jogadas das turbinas de um jato
Na mais alta das nuvens em velocidade
Para que de mim só fiquem as lembranças
Do que fiz de bom ou de todas as maldades.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Verdades


Mentiras são verdades
Que perderam a identidade
Verdades são mentiras
Que ganharam integridade.
Um dia verdades viram mentiras
No outro, mentiras são verdades
É nesse jogo de falsas identidades
Que as verdades nem sempre são mentiras
E as mentiras quase nunca são verdades.
Todas dependem, em verdade,
Do que vos digo e da fé que de ti tenho
Em assim não sendo, o que obtenho,
É pura e falsa verdade.

domingo, 1 de abril de 2012

Mentiras



Verdades que querem se firmar
Começam como mentiras a se espalhar
Nascem, ganham vida dia a dia
Como se fossem elegia
O mundo per o rumo, o verso a rima.
Uma mentira bem-contada
É capaz de transformar o real
Deixa você se sentir o tal
Alegre como ninguém viu
Falsa alegria como um falso dia
Do início do mês de abril.