Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

domingo, 30 de abril de 2017

Incrível

Basta uma ligação
Para revirar o coração
E reacender na alma
O espírito de calma.
De novo, fé no futuro
Amor que escala muro
Vence o invencível
De tanto que é incrível.
Por isso difícil crer
Que venha a se perder
Pois se realimenta
Daquilo que reiventa.


sábado, 29 de abril de 2017

Escuridão

Ainda acreditamos
Que um dia teremos
A chance de nos amar
Como sempre fizemos.
É isso que nos move
Empurra ao futuro
E faz com que se renove
O sonho hoje obscuro.
É quase uma escuridão
O que vejo agora
Nem a luz de um lampião
Vejo ao longe, lá fora.
Quando consigo ver
Um vento sopra tão forte
Penso no amor fenecer
Não resistir à morte.



sexta-feira, 28 de abril de 2017

Burocraticamente

Sinto você tão distante
Nada tem sido como antes
Sou burocraticamente mantido
Como um amigo querido.
Ainda considerado importante
Muito menos quanto doravante
Era olhado e desejado
E me sentia amado.
Hoje, no máximo, quando der
Não és mais minha mulher
Tudo do passado escondido
Lá em um canto, esquecido.
Lembrado quando necessário
Sou parte do teu relicário
De lembranças ainda mantidas
Cujas forças foram perdidas.