Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Sinais

Quando decides falar comigo
Sou apenas um grande amigo
Alguém com quem desabafas
E contas tudo o que se passa.
Contigo e na tua vida
Qualquer que seja a ferida
Eu finjo que não sofro
Faço todos os teus gostos.
Mas, você tem dado sinais
De o quê houve, nunca mais
Porque já fez tua escolha
E pra ti, talvez eu morra.
Se já não tiver morrido
Com todo o ocorrido
Vivo a interpretar sinais:
Você não me quer mais?


terça-feira, 30 de maio de 2017

Inesperado

Tenho pouco a dizer
Do tanto que te amei
E talvez ainda ame,
Apesar do abandono.
E da solidão cortante
Desde que estás diante
De fatos inesperados
Que refazem o passado.
No presente inesperado
O vaso que parecia quebrado
Resta fortalecido
Nada foi estremecido.
Então, nada aconteceu
Foi só um sonho e morreu
Nas nossas fantasias íntimas
Hoje pareço uma coisa ínfima.


segunda-feira, 29 de maio de 2017

Estremeço

Sonho contigo o dia inteiro
Com aquela ponta do dedo
Que toca meu corpo ligeiro
E se apossa de cada segredo.
Até de longe estremeço
Em cada novo recomeço
Bate enorme ansiedade
Que se confunde com saudade.
Vontade de sentir o te carinho
De me alojar inteiro no teu ninho
Prazer assim não há igual
Nosso desejo de animal.
Materializado em cada toque
Teu beijo é tudo o que envolve
E me transforma em um menino
Que segue a vida sem destino.