Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Tua ausência


Dilacera o coração
Essa ausência de você
Até no ar que respiro
Consigo te perceber.
O corpo acende, queima em brasa
Como uma febre terçã
Você em cada canto da casa
Sobe para uma febre quartã.
Avassaladora ocupação de espaços
Estás em mim até no quarto
Na cozinha, na sala de estar.
O que fazer para arrancá-la
Do fundo mais íntimo do meu ser?
Quanto mais tento, mais te aproprias
De tudo o que há em mim
Nunca, jamais em tempo algum
Senti um amor tão forte assim.
Só posso te olhar de longe
Como Tristão olhava Isolda
De ti, porém, jamais esquecerei
Minha Deusa, minha dona.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Ciladas


A vida me fez entender
Algo bem específico
Nem sempre quem mais eu amo
Termina a vida comigo.
Por mim pulava na chuva
Gritava feito um menino
"Amo-te, mais que a mim
Senhora do meu destino".
Vem a razão, porém, e me enfrenta
Olha-me nos olhos, atenta
E sussurra em meus ouvidos:
Quieto, rapaz, tenha juízo!
Amar à distância dói demais
Corrói o peito sem sentido
Melhor que não vê-la nunca mais
É ser sempre teu amigo.
Protetor, irmão, um pai
Muito além de um marido
"Prova de amor maior não há"
Do que um amor ficar escondido!
Amores não concretizados
Com o tempo viram passado
Tornam-se lindas lembranças
De belos sonhos criados.
Pela doce teia da vida
Que teima em tecer ciladas
Depois fica de longe rindo
Quando nos vê amarradas.
Eu, você e a teia
Como se no interior das veias
Circulasse o sangue de um no outro
A nos tirar o chão do conforto.
Então viramos geógrafos
Ou meros medidores de áreas
A demarcar sentimentos
Como a um lote de terras.
De cima a vida nos goza
Te faz Julieta e a mim Romeu
E baixa um permanente decreto:
Não serei tua, nem você meu!

Oração


Rogo aos deuses e deusas da arte
Da literatura, da poesia e da criação
Que mantenham essa sintonia
Esse encanto, essa magia
Que descobrimos existir.
Entre dois seres tão corretos
Generosos e honestos
Que a vida, porém,
Pôs em lados completamente opostos.
Dobro os joelhos e peço óh Pai!
Dela nunca mais me afastei
Quaisquer que sejam os rumos
Reservados por ti para nós.
Que nossas energias antes dissipadas
Jamais sejam apartadas
Pela inveja ou pequenez
Dos pobres de espírito que nos cercam.
Óh força cósmica, deusa dos destinos
Fazei com que eu permaneça menino
E não perca mais o encantamento
Que brotou do encontro dessas almas
Antes, separadas pela vida
Mas que se descobriram queridas
E que hoje não admitem que ninguém
Vos separe outra vez.
Que assim seja para o todo e sempre:
Amém!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Ciclos



Uma dor lacerante
Invade-me a cada instante
Quando me sinto isolada.
Quão cruel é a humanidade
Que te eleva a um pedestal
Depois, de modo cruel,
A ti isola, quer teu mal!
Sou feita de giros e ciclos
Doce, meiga e terna
Não pise, porém, nos meu calos
Pois me transformo, viro fera.
A doce e meiga pessoa
Antes, muito legal,
Paga pra não entrar em um briga
Mas, se entra, é animal.
Foge da jaula, ganha o mundo
A voz não mais embargada
Faz de adversários aliados
Passa a ser admirada.
Os súditos voltam a amá-la
Alguns até sonham em tê-la
Sobe aos céus, ganha as nuvens
Brilha, ao longe, feito estrela.
Veste-se de seda, faz-se bela
Ao som de pássaros na janela
Um brilho novo no olhar:
Eis a rainha guerreira.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Meus tesouros


Meus filhos são meus tesouros
Valem mais que prata ou ouro
Ou que qualquer diamante
São as joias que me transformam
Neste ser tão radiante.
Me fazem linda por fora
Tanto quanto sou por dentro
Tornam a vida mais bela
Não saem do meu pensamento.
Para defendê-los faço guerra
Sou capaz de virar fera
Não tentem atingi-los em nada
Pois enfrentarão um cão-de-guarda.
São a razão da minha vida
O que existe de mais sagrado
Não toquem em um fio de cabelo
De nenhum dos meus filhos
Pois quem assim o fizer
Terá de ser ver comigo.


sábado, 26 de janeiro de 2013

Falta


Sinto saudades da tua voz
Do nada que houve entre nós.
Sonho com o tudo que não tive contigo
E que, talvez, nunca venhamos a ter.
Estar ao teu lado, ser amigo
Deu a mim um equilíbrio
Que há muito não achava.
Difícil explicar essa saudade
Toda essa intensidade
Você em meu pensamento
Preenche cada segundo
Como se a todo momento
Fosse parte do meu mundo.
Não és, e tenho certeza
Que o afeto e o carinho
Que nos une a cada dia
É fruto dessa magia
Da força e da energia
Que a própria vida cria
Sem que haja qualquer nexo
Cresce, porém, domina e provoca
A nos deixar meio perplexos.
Como posso sentir falta
De quem não tive, nem vou ter?
Resta-me, como Platão, admirá-la
Sem nunca poder tocá-la!
No máximo ter teu abraço
Como um infinito laço
Um nó a eternizar nosso bem-querer!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Teu abraço


Teu abraço me fez tão bem
Que fico a imaginar
Como pude viver sem.
Teu sorriso em cada esquina
Como se fosse de menina
Esconde tua realeza.
O creme das mãos exala
Um cheiro doce pela sala
Com gosto de simplicidade.
Será, meu Deus, loucura ou maldade
Passar a sentir saudade
Uma falta sem igual
De um ser MUITO LEGAL!?
Oh, força do universo
A ti rogo, imploro, peço:
Guiai o caminho, cada passo
Desse afetuoso abraço.
Que a amorosidade
E o sentimento de respeito
Iluminem nossas almas
Ao ritmo que bate no peito.
Que razão e emoção
Não entrem nunca em conflito
E o teu largo e lindo sorriso
Seja sempre infinito.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Acabada


Inábil e grosseiro
Um tanto estúpido
Fiz na brincadeira
Uma enorme asneira.
Você é um ser
De brilho e ternura
Jamais merecia
Tamanha grossura.
Desculpas nem sei
Se mereço um dia
Por ter externado
Tamanha heresia.
A tua beleza
É de contos de fada
Como pude dizer
Que estavas acabada?
Teu sorriso lindo
E a pele iluminada
Revelam que és sim
Muito bem-acabada.
Não mereço perdão
Nem que dobre os joelhos
Acabado estou eu
Aqui em frente ao espelho.
A expiar o pecado
De ter sido inábil
Rogo aos céus que um dia
Possa ser perdoado.

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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Quase lixo



Sinto-me um trapo humano
Quase um lixo
Quando me deparo com isso.
Em geral, não entendo a morte
Em particular, menos ainda
Choca-me, porém, quando se assassina.
Requintes de crueldade, tiram-me do chão
Que lixo sou eu, que lixo somos nós
Que transformamos nossos filhos
Em nossos próprios algozes?
Frutos de um consumismo
Desvairado e insano
Somos capazes de arrancar cruelmente
A vida de outro ente, somos humanos?
Não posso mais crer que existe
Qualquer traço de humanidade
Em quem degola pai e prima
Faz do cão da família obra-prima
Com lances de crueldade.
E ainda tira a vida da tia
Que a acolheu um dia
Num gesto lindo de bonança
Tudo em troca do vil metal
De uma droga de herança.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Sinto você


Tens o poder
De me fazer te sentir
Em cada canto da sala
Do quarto ou da casa
Teu cheiro circula como ar.
Um ar condicionado
Pela tua presença ao meu lado
Até quanto estás completamente distante.
É como se o teu espírito, bendito
Tirasse onda com a minha mente.
Ele pressente
Que te sinto, que me sentes
Em cada momento presente
A trazer marcas passadas.
Que se ainda não passaram
É porque não me deixaram
E talvez me acompanhem.
No quarto, na sala, no banho
Nas minha entranhas
Te entranhas
E sinto você.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Contradições


Contradições são benditas
Até quando verdades mal-ditas
Expressam sinais de maldição.
Se eu mal disser sobre ti
Não venham mal dizer sobre mim
Porque as pragas que a mim rogas
Espanto com benditas drogas.
Em ti o que mais prezo
É o gosto pelo desprezo
Às venais veleidades.
Teu desgosto por maldades
O vivo modo de dizer
Malditas verdades
Sem quem faças sofrer.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Canalhas


Usam as latrinas
Como esconderijo.
E a nós como escada
Em busca de prestígio.
A forma de eles agirem
Envergonha as cobras
Destilam veneno
Quase nada sobra.
Só pensam em cifrões
Agem nos porões
Sem nenhum respeito
Por qualquer humano.
Trucidam reputações
Com um telefonema
Sem nenhum remorso
Sorriem feito hiena.
Seres abjetos
São sujo dejeto
A idolatrar
Práticas levianas.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Especial


Você tem um brilho no olhar
Que a torna especial
Diferente de qualquer ser
Por isso fora do normal.
Sinto tua presença
Até mesmo na ausência
Gosto tanto do teu jeito
Que te carrego no peito.
É um lindo bem-querer
Que não me deixa te esquecer.
Não preciso te tocar
E nem ser o teu homem
A mim me basta te amar
Mesmo quando você some.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Ternas


São ternas, as tuas pernas
Que me tiram o juízo
Até quando respiro.
Nelas penso dia e noite
Como se um açoite
Atormentasse meu sono.
Acordo e nada vejo
Você não está ao meu lado
Tuas pernas não passam de imagens
De um inútil e recente passado.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Fazeres


Faço de ti meu amuleto
Meu objeto de sorte
Porque sem ti não sou gente
Sou caricatura da morte.
Paira um silêncio sepulcral
Quanto não estás por perto
Perco a noção de moral
Viro um homem-objeto.
Sem ser abjeto me entrego
Ao sôfrego desejo do apelo
De tê-la na palma das mãos
Ou a deslizar na ponta dos dedos.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Ser teu


Sou hoje apenas
Teu amigo e irmão
Quero, no entanto,
Domar o teu coração.
Apoderar-me do teu corpo
E dominar tua mente
Ser teu homem para o todo
Para o hoje e para o sempre.
De domador a domado
Importa-me estar ao teu lado
Não quero ser só amigo
E sim vermos sempre
Eternos enamorados.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Temor


Temo não ser entendido
Por quem me ouve e não me dá ouvidos
Pior que ser ignorado
E sentir que as palavras
Entram pelo outro e saem pelo lado.
Ouvidos surdos parecem absurdo
Comuns, porém os são ao longo do dia
Como se nos cantos se escondessem sorrateiros
Significados, símbolos e guerreiros.
Esses últimos sem significado algum
A simbolizar o nada e o lugar nenhum
Palavras não se grudam ao significante
Perdem o valor: se é que tinham antes.
Sou um quase-nada e por assim o sê-lo
Selam em mim essa etiqueta
Da pequena Ética, do ignorado
Amorfo, sem nenhuma marca, quiçá do passado.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Raro


Há quem esconda no olhar
Um raro jeito de vida
Por trás de um belo sorriso
Marcas de uma era sofrida.
Não parece ser o caso
Do teu intenso brilho
Que é capaz de traduzir a ternura
No infinito sorriso.
Terna, meiga e doce
Rara como se fruta fosse
Tão linda e original
Quanto o pecado venial.
Atiças todos os sentidos
De quem desvenda o cristalino
Do raro cristal dos olhos
Do teu sorriso divino.
Oh musa do sorriso largo!
Que a ti os deuses iluminem
E que a terapia do riso
A mim e aos outros contamine.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Talvez


Sou o que talvez não seja
Parte do que quero ser
Um ser de poucas palavras
Quando tem muito a dizer.
Ou que, talvez, diga nada
Quando tudo pensa dizer.
Ao fingir que sou poeta
Finjo poemas fazer
Imagino que te emocionas
Quando finges me ler.
Talvez poeta eu não seja
Muito menos escritor
E o máximo que consiga
E te trazer até aqui, meu leitor.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Capitalista


Fui educado para vencer
Até debaixo d´água
Para não gostar de perder
Nem disputa de cusparada.
E se for por dinheiro
Quero ser o primeiro
Entre os que perdem o sono
E vivem noites de pesadelo.
Não me convence a balela
De que o importante é participar
Só entro em uma disputa
Para vencer ou ganhar.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

PArtes


Se não faço parte tua vida
Não faço arte, nem na minha
Partes e artes fazem parte
Da mesma moeda livre.
Se é livre, sem neuras nem crises
Sem fases de baixos e altos
Partes de um lindo salto
Rumo ao infinito, à liberdade.
De até se prender a ti
Sem, talvez, me aproximar
Partes, fazem parte da arte
De se redescobrir o que é amar.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Presa


Vivo a desfilar desejos
Às vezes apenas em troca de beijos
Como se fosse um bicho no cio
Feito de nada e vazios
Exponho, com isso, minha história
A eterna falta de memória
De um amor que tenha brilho
A ponto de me tirar desse exílio.
Que é natural e perene
Por não poder ser sereno.
E me mata dia após dia
Como constante veneno.
A me subir pelas veias
E me envolver com teias
De uma aranha virtual
Presa em suporte real.