Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Tempo


O homem cria, recria, desfaz
Futuro, passado e presente
Assume a condição de macho
Recolhe e esconde a fêmea.
Esquece que em um ser convivem
Palhaços, atores e atrizes.
Cumpro meu papel no mundo
Ponteiros e dígitos não conduzem minha vida.
Ontem, hoje e amanhã
Não passam de uma loucura sã.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Des (Gosto)


Somo
Subtraio
Traio
Não traio.
Atraio
Olhares
Olheiras
Asneiras
Leseiras
De quem gosta
Ou não gosta.

Sou

Não sou do Norte
Nem do Sul.
Por isso:
Vão tomar...
Caruru!
Caxiri
Tacacá.
Vá daqui
Que vou de lá.
O mundo é meu território
Madureirense
No sense
Sou vasco!
Seja botafoguense
Fluminense
Ou até flamenguista.
Seja, se quiser, um idiota
Preconceituoso
Seja imbecil
Viril.
Até um nada, “vale a pena
Se a alma não é pequena”.

domingo, 27 de novembro de 2011

Fronteiras


Cada homem
Mulher
Menino
Menina
Ser vivo
Tem o crivo
Interior.
Expande o sonho
Cria o mundo.
Infinito
Sem limites
Nem ciência.

sábado, 26 de novembro de 2011

Delírio


Teus montes
Rurais
Urais.
Normais
Anormais.
Deixam-me insano
Louco
Profano:
A descobrir
A essência do humano.
Vivo a ser.
Ser vivo.
Morto
Torto
Roto
Absorto.
A levantar a vista
E descobrir na brisa
Um sopro de vida.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Oca


Sinto-me um nada
Vazia de ideias,
E de ti.
Bala mágica
Agulha hipodérmica.
Garrafa térmica
Geleia de mocotó
Um belo carimbó.
Bateson não é baita som.
Lembra o Barnabé.
Troco minha loucura
Pela tua ternura.
E o meu saber,
Pelo teu querer.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Bom-dia


Eles insistem
Voltam.
Dia-a-dia
Voam.
Apoximam-se.
Em gorjeios,
A me saudar.
Sons agudos
E eu mudo.
Novos sons
Em homilia.
Será que devo respondê-los com um bom-dia?

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Amanhecer


Ouço pássaros
No Paço
Na Praça
Do povo.
Sons antigos
Outros novos
Nova batida
Será ouvida
Será vista.
Vista boa
Boa vista
Branco é o teu rio
Arco-iris é cio
Que deságua macio
No mergulho sonoro
De quem acorda em teu leito
E te guarda no peito.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Margens


Emergem
Miragens
Nas margens
Da vida.
Bandida
Que leva
Sonhos
De entardecer.
O ocaso
Das coisas
Causa
Tristeza e dor.
Só nos testa o amor.

domingo, 20 de novembro de 2011

Aperto


O peito chora
Você na memória.
O corpo grita.
Você me excita.
O campo é verde.
Você me dá sede.
Se o nada fosse.
O tudo que és.
Dobraria os joelhos
Para tê-la aos pés.

sábado, 19 de novembro de 2011

Mato


Mato teu cheiro em mim
Mas você vive!
Como mato
Como erva.
Daninha.
Danadinha.
Sapeca imagem de santa.
A espalhar-se pelo cérebro
E se transformar em intangível substantivo: saudade.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Eu poético

Meu eu poético não sou eu.
E nem sei que és tu.
Equilibro-me entre você e nós.
Eles apontam o dedo.
Vós sois meu segredo.
Com as pessoas do discurso,
Não discuto.
Tento ser astuto
E não deixar que meu eu transpareça em você.

Dividido


Vivo
Dividido
Entre uma e outra
Mulher
Dívida
Dádiva
Diva.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Doce saudade


É doce a saudade
Dos anos primeiros
Da infância
Das brincadeiras
Da intolerância.
Do pecado da gula
Da gula em pecar.
Café-da-manhã,
Almoço,
Jantar.
Anos se foram
Poucos dias ficam
Gravados na mente
De quem vira “gente”.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Significados


Você diz “filho de uma égua”.
Eu respondo: “Pai d’égua”.
Ser filho dela também pode ser de uma puta.
Ser o pai, porém, é sangue bom.
Mas, conforme o tom,
Pode ser pura ironia.
Feliz é o Cavalo.
Cuja mãe é uma égua.
Relincha como se sorrisse
Se alguém disse “filho de uma égua”.
Acha tudo muito “pai d’égua”.
Ou até “pai de cavalo”.
Só não pise no meu calo
Que eu te mando em oração
Pra caverna do dragão.

Limites


Égua-te!
Que ego é esse!?
Que não tem fim,
Nem começo!
Não sei o endereço.
Ah! Deixa pra lá!
Melhor mundo que esse não há!
Se não for o “melhor do melhor do mundo”
Serei morador profundo
De um “fim de mundo sem fim”.

domingo, 13 de novembro de 2011

Acidentes


Pessoas se encontram
Separam-se.
Como flores murchas e vivas
Da mesma planta.
Desço do pedestal
Tropeço nos pensamentos
Escorrego nas lembranças.
A saudade me trai
Levanto!
Você cai
Nos meus braços de novo

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Sensibilidade


Comumente
Muitos mentem
Quando dizem:
Homem não sente.
Este ser
Não é macho
Nem fêmea.
Só não sangra.
Mas ama.



Nuvens


Chuvas
De luzes
Espumas
É Natal de um lado
Em Gramado.
É Natal do outro
Da outra
De quem estiver comigo.
Amigo? Amiga?
Nenhuma dúvida.
Abraços trocados
Saudades marcadas
Outros encontros?
Talvez jamais.
E daí?
Viver é aproveitar cada segundo
Ao lado quem te pôs o mundo
Para que cada nuvem pessoal
Seja o limite do sonho real.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Fogo


Chamas
Danças
Olhos a brilhar
Tholl a luzir
Salão de Atos
De fato
Um ato de amor.
Bailarinos
Bailarinas
Deslizam palco adentro.
Cá, olhos atentos
Cinzentos
Brilhantes
Fulgurantes
No compasso incrível
De algo inesquecível.


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Circo


Luzes
Sons
Cores
Palco
Talco
Plateia em êxtase
Artistas iguais
A vida em círculos
Circo
De horrores
De amores.
Palhaços em matizes
Fazem do riso
Motivo de risos.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

domingo, 6 de novembro de 2011

Roupas


Peles por sobre a pele
Cores quase incolores
Odores evocam o vestido
Que não o quero contigo
Nem em ti.
Meias, sapatos, adereços
Tiramos tudo.
É o começo.
De um jogo:
“Como viemos ao mundo”.

Descoberta


Aperto a mão
Num abraço simbólico
Bucólico
Eufórico.
No bico dos dedos
Descubro segredos
Tatuados em ti.

sábado, 5 de novembro de 2011

Frestas


Não abro fendas
Começo por orifícios,
Furos e cortes.
Mortes provocadas
Se forem nas veias.
O sangue pulsa
Chega às extremidades
Esvai-se.
Foge
Pinga na ponta dos dedos.
Um vulto de mulher
Desenha-se à janela.
Será ela?

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Reflexos


Cabelos brancos, dizem,
Refletem a idade.
Nem sempre espelham saudade.
Bondade de uns
Beleza de outros
Marcas no rosto
De um tempo:
Solitário burilador de mentes.
Ausências presentes:
Vidas em vidas que se vão.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Desencontros


No banco da escola
Nem vias minha bola.
Meus olhos só viam os teus.
Caminhava pro Sul
Cruzavas rumo ao Norte.
Reencontros no Facebook
Crash na vida real.
Eternos amantes do Ciberespaço
Jamais se encontram ao natural.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Empenho


Dedico cada segundo do meu tempo
A atingir o intento
De conquistar teu sorriso.
Nem tua atenção consigo.
Esboçada em um olhar.
Ignoras se existo
Ainda assim persisto.
Nesse jogo infinito
De me fazer exergar.

terça-feira, 1 de novembro de 2011