Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Proprietária


Esse tom meigo,
Doce.
Quietude de almas.
Acalma.
Percorre vasos.
Mansamente,
Toma a mente.
És dona de mim.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Segredos


Não duram muito!
São como bichos:
Querem liberdade!
Quando libertos, morrem.
Perdem a essência.
Deixam de ser o que são.
Fogem por entre os dedos.
Escorrem na palma da mão.
Povoam nossas ansiedades.
Querem voar de verdade.
Libertar essa paixão.

Vulnerabilidades


Negamos!
A cada dia nos queremos!
Mentimos!
Fantasias nos empurram.
Ao encontro:
Do tudo que não queremos.
Do nada que assumimos.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Recordações


Saudade louca não é
Lembrança tosca,
Muito menos.
Doce veneno.
Presença constante.
Em cada instante,
Estás em mim.
Se fecho os olhos:
Vejo o teu sorriso,
Tua boca
Louca vontade
De estar contigo.
Dia após dia.
Criar um sonho
Viver sem medo
Essa doce magia.

domingo, 25 de setembro de 2011

Impulso


Quis o teu beijo
Num desejo.
Deu vontade
No abraço
De não te deixar.
Nem beijei,
Nem fiquei.
Respeitei
A civilidade
Do teu estado.

sábado, 24 de setembro de 2011

Proximidade


Distantes.
Como antes.
Juntinhos.
Como nunca.
Pertinhos.
Quase sempre.
Sem estarmos.
Nem juntos
Nem perto
Colados
Grudados
Sem nunca nos tocarmos.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Presença


Teu rosto vermelho,
Meu espelho.
A demonstrar.
A saia-justa
Que
Sem querer.
Obriguei você a usar.
Doce, meigo
Aquele rostinho sem jeito
Insiste em não me abandonar.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Flutuar


Há pessoas
Que nunca foram do teu mundo.
Mas, quando nele entram
É como se do teu mundo já fossem.
Deixam um cheiro de saudade
Um gosto de felicidade
Na alma uma sensação de paz
Com jeito de quero mais.
São aves no pensamento
Flutuam ao vento
E conseguem te levar.
Leve, leveza de um corpo imberbe.
Pueril passeio em relva, em nuvens
Leve-me a ti nesse sonho breve.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Atração


Nem me fale de opostos
E daquele negócio
Que se atraem.
Opostos mal traem.
Desejo
Tesão
Vontade
Aparecem até entre similares.
Ainda que pareça vil
Desejo
Tesão e
Vontade.
Não possuem estado civil.

Desinteresse


Com quem estás?
Não me interesso.
Em quais bocas
Buscas meu gosto?
Pouco importa.
Não as conto.
A ti não conto
Mas aquele encanto de outrora.
Nada mais vale agora.

domingo, 18 de setembro de 2011

sábado, 17 de setembro de 2011

Fases


O que fazes
Só a ti diz respeito.
Respeito.
Não me queiras, porém,
No teu leito.
Rejeito.
Esse teu jeito
De ser minha
E de quem mais
A ti quiser.
Dono teu não sou.
Querer nem sei eu.
Mapas rabisco
No pé do altar.
Um dia, será que vais chegar?

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Vazio


Não tenho mais tesão
De escrever à mão.
Trago segredos
Na ponta dos dedos.
Por sobre o teclado
Escondo os medos.
Refaço meus elos
Com a solidão.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Letal


Esse veneno que me lanças com o olhar
Não satisfaz apenas meu ego
Entra pelo corpo
Invade meu cérebro.
Descargas elétricas
Sábios temporais.
Da têmpora descem
Rumo ao ventre.
Relâmpagos
Disparos
Rajadas.
Pulsa e repulsam
No fluxo do sangue.
Não querê-la e tê-la na mente
Sinal do veneno da saudade.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Posse


Apodero-me de ti
Posseiro de sonhos
Falácias de amor.
Encenamos paixão
Colhemos ilusão.
Plantamos alegorias.
Em pântanos, areais.
São teus todos os meus dias
Desejos e fantasias.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Não teres


Não sinto tua presença
Nem teu sorriso.
Teu olhar já não é mais meu
Não tenho nada,
Também não sou teu.
De ninguém somos
Tudo queremos
Nada temos.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Pureza


Todo ser vivo é puro.
Membranas densas de
Sinceridade e lealdade
Desenvolvem-se ao nascer.
A educação que formata
É a mesma que mata
Deforma
Aprisiona e destrói.
Tudo o que houve de puro
Naquele ser imaturo
Que ao chegar ao futuro
Por pura ironia
Aprende a lidar com a hipocrisia.

domingo, 11 de setembro de 2011

Bichos digitais


Não me venha impor regras
Onde a regra é não tê-las.
Blogueiros, tuiteiros
E outros eiros digitais.
São nativos habitantes
Dos desertos e florestas
Das savanas virtuais.
Não queira prender um ser
Cuja essência é a liberdade
Para esse bicho-digital
Ser livre não tem idade.
Manuais de etiqueta
Padrões, regras da língua
Definham até bichos reais
Provocam morte à míngua!

sábado, 10 de setembro de 2011

Prisão


Convenções irritam-me!
Padrões e certezas?
Normas e regras?
Servem ao Estado,
Que serve aos políticos.
Que a nós não servem.
Servem, servimos, servos.
Subservos
Servientes
Serventes
Servidão
Escravidão.
Podridão.
Miséria dos míseros
Jogos humanos
De escravização.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Feridas


A vida cura
O tempo mais ainda.
Essas feridas,
Sofridas,
Doídas.
Que a mágoa deixou.
Palavras penetram
Irrompem carnes
Adentro cérebros
Esfacelam
Doem
Corroem até relações!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Sofrer


Estar longe de ti
Transforma meu existir.
Deixa-me com gosto azedo
De quem sofre por medo.
De um dia te perder.
Mas como perdê-la se não a tenho.
E como tê-la sem tocá-la?
Resta-me o sonho de querê-la.
Um dia poder amá-la.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Luto


É setembro!
Se a ti incomoda
A corrupção.
Diga não!
Nação digna,
Povo também.
Político nem.
Dê um grito
Contra isso.
Omisso
Seja não.
Mensaleiro
Mensalão.
Oprimido
Solte o grito
Seja nobre
Cidadão.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Timidez


Esses olhos infinitamente enormes
Absorvem
A iris dos meus.
Controlam.
Exploram.
Deformam minha sisudez.
Um medo desmedido
Até do reconhecido
Transformam meu jeito de ser.
Quando nossos olhos se cruzam
Os dedos, as mãos, a blusa
Tudo em mim acusa
Você se transforma em musa.
Viro poeta iniciante.

domingo, 4 de setembro de 2011

Frutaria


Sorvo, mansamente,
Com a ponta da língua,
O teu gosto açaí.
Ouço, de longe,
Teu cheiro cupuaçu.
Toco, com os olhos,
A textura do teu buriti.
Mordo, com zelo,
Fatias do teu tucumã.
Na garganta, flocos de romã.
Na saudade um cheiro de cajá
Desse teu corpo-taperebá.

Sem limites


Teu todo é tão lindo
Que os limites da composição
Impedem a narração.
Dos detalhes de cada sorriso.
Cada gesto
Desse olhar azul-neon.
Nas linhas de um poema
Semema e fonemas
São poucos para o todo
Desse corpo.
Lindo sorriso.
Paraíso.
De pecados veniais.

sábado, 3 de setembro de 2011

Outros eus


Quero assumir novas identidades
Aceitar veleidades.
Não me importar com idades.
Nem pra mais, nem pra menos.
Quero saborear o veneno
De te deixar sobre o feno.
Num amor sem limites.
Fazer parte das elites.
Comer caviar, tomar uísque.
Esquecer cerveja e cachaça.
Sorver óleo de linhaça.
Esticar as rugas do rosto.
Rir da tua cara com gosto.
Fazer do Twitter um entreposto
Do aulicismo cego
Que massageia o ego
De quem nunca botou um prego.
Numa barra de sabão.
Que não revela o que tem.
Que diz sempre ser do bem.
Nem que seja do bem bom.
Ser um inescrupuloso
Que abusa do povo.
Sem mostrar um rumo novo.
Só com papo e ironia.
Ilusão e hipocrisia.
Ficar nessa homilia
De te enganar dia a dia.
Político-profissional
Acima do bem e do mal.
Ser esse ser abjeto?
Nem mesmo em verso ou prosa.
Meu sonho mesmo é levar.
Sempre uma vida honrosa.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Sede


Tenho sede
De justiça.
Coletiva.
Social.
Pessoal.
Bebo injúrias
Difamações!
Decepções!
Sorvo as gotas.
Dessa sociedade hipócrita.
Que julga e condena a cada ato.
Que prende por desacato.
E solta por amizade.

Injusto


Injusto é o amor que sufoca
Aprisiona.
Prende até a respiração.
Que, ofegante, tenta se libertar.
Desse temor inconstante.
De você não voltar.