Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Doce

Doce é o tu sorriso
Como doce és em tudo
Capaz de arrancar suspiros
E, de vez, me deixar mudo.
Doce é te olhar e languidamente
Não conseguir arrancá-la da mente
Deixar que te mim tomes conta inteiro
E me agarrar a ti, como meu travesseiro.
Da ponta do nariz cheirar a tua do língua
Se não te tenho sou mendigo: vivo à míngua
Por te querer demais sonho permanentemente com abraços
Como a delirar pela noite adentro em busca dos teus doces braços.
É quase um mel querer-te crua, inteira, sobre a mesa em pelo, nua
Não deixar que a sensatez o desejo intenso e infinito em nós destrua
Porque quando a minha pele inteira com o teu suor completa se lambuza
Dobro os joelhos como em intensa adoração de um servo que te faz eterna musa.


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Desistência

Deixei de tentar entender
O porquê de amar você
Tanto desejo incontido
Que parece até proibido.
Como se proibido fosse
Amar e ser amado
Por quem, talvez, nem esboce
Razões para ser tão adorado.
Entender o amor é loucura
Compromete até a lisura
Ainda mais a sanidade
De quem só vive de saudade.
Desisto: não quero entender
A mim me basta viver
Tudo em cada segundo
Quando te transformas em meu mundo.


domingo, 28 de setembro de 2014

Espelho

O espelho demonstra
O que a vida não mostra
Nele consigo ver
O que tentamos esconder.
Nossa loucura e desejo
Quase sempre animal
Nele vejo em desespero
Nosso segredo anormal.
Basta olhar para o espelho
E vê-la, nua, em pelo
Meu corpo gruda no teu
E a vida nos leva ao céu.


sábado, 27 de setembro de 2014

Tanta saudade

Por mais que eu tente
Não há quem aguente
Tanta saudade.
Por mais que eu siga
E o corpo me diga:
Não tenha vontade.
É a ti que quero
Adoro e venero
Por todas as horas.
O coração dilacera
Com a tua espera
Quando vais embora.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Sexto sentido

Ao te sentir pela primeira vez
Foi um ato de extrema insensatez
A segunda foi ousadia
A terceira, pura alegria.
Na quarta vez já era sonho
De uma vida a dos, na quinta
Na sexta, um vazio medonho
Volto à primeira de forma distinta.
E arrisco-me na segunda rodada
Pois na terceira te quero amada
Na quarta, ansiedade aflita
Por tê-la de novo na quinta.
E que a sexta seja o recomeço
De uma vida feliz que mereço
Estar pra sempre ao teu lado
E viver como se fosse namorado.


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Em transe

Meu olhar se perde
No horizonte.
Dos teus olhos
Retiro a fonte.
Dos sonhos
Do amor
Dos versos
Vistos em voo
Dos cânticos
Que entoou
Em prosa.
Visto-me de você
Mesmo quando não a tenho.
Detenho
Em ti
Razões para a minha loucura.


quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Promessas

Prometo:
Não cumpro.
Tento:
Não consigo.
Viver pra ti:
É meu abrigo.
Deixar-te?
Perco o juízo.
Perdê-la?
Viver sem eira.
Melhor se mim?
Sempre querê-la.


terça-feira, 23 de setembro de 2014

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Amar-te

Amar a ti
É amar-te.
Com arte.
Em parte.
Por parte.
Em partes.
Amo-te.
Louvo-te.
Adoro-te.
Em ti estou.
Em mim estás.
Estamos.


domingo, 21 de setembro de 2014

Às cegas

Confio demais
E sigo às cegas
Chego a ser piegas
De tanto te amar.
Mas quando o vaso quebra
O baque é como pedra
A me esmagar.
Hoje assim me sinto
Em um labirinto:
Só sei te amar.
O desgosto me ensina
A descer da crina
E parar de sonhar.
Viva o que é real
Esqueça a fantasia
O que foi sonho um dia
Será o meu mal.


sábado, 20 de setembro de 2014

Personagem

A vida em cena
Aos poucos ensina:
Cumpra sua pena
Pague sua sina.
Caia na real
Siga a tua vida
Sem sonhos nem nada
Sem contos-de-fadas.
Não sejas piegas
Nem sigas às cegas
A falar de amor
Como se não houvesse dor
Amar é bobagem
Lenda ou miragem.
Segue teu caminho
Não desfaça ninhos
Recupere o leme
Desta carruagem
Seja o personagem.
A vida é tua
Bela ou crua
Afasta-te em tempo
De todo o sofrimento.


quinta-feira, 18 de setembro de 2014

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Melhor fase

Vivíamos a melhor fase
Mas parece não haver base
Quando amor e dor se misturam.
E quando mágoas profissionais
Expõem nossos animais
Escondidos no temperamento.
Que as lembranças sirvam de consolo
E nos ajudem a engolir o choro
De tão profunda e decepcionante tarde.
Que o amor, sem alarde,
Recupere o seu posto
E me faça sarar tamanho desgosto.


terça-feira, 16 de setembro de 2014

Inconsciente

É triste não te ter
Toda vez que te quero
Chego a não entender
Por que tanto te venero?
Será loucura ou desejo?
Ou a falta do teu beijo?
Que me faz dependente
Desde o inconsciente.
Sou barco que vaga no rio
A suportar calor e frio
Sem ti perco o rumo
O equilíbrio e o prumo.


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Fetiche

Sinto teu corpo
Feito louco
A me provocar.
Em cada curva
A vista turva
A te admirar.
Dobro os joelhos
Em frente ao espelho:
És meu fetiche.
Se em ti toco
Reações provoco
Ainda que não visse.


domingo, 14 de setembro de 2014

Encaixes

Encaixo
Teus cachos
Em minhas cochas.
Louco e o desejo
Quando vejo
Teus pelos.
E apelo
Para o elo
Que nos une.
Então sorvo
Teu gozo
Em goles.
Engoles
O que há de mim
Em ti, sem fim.


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A vagar

De amor não vivo nem morro
Mas sempre terei de pedir socorro
Se um dia você decidir
Amor por mim não mais sentir.
A vida perderá o brilho
O arco-íris ficará sem cor
Meu trem sairá do trilho.
Certamente serei um zumbi
A vagar por noites escuras
Pois se você não está mais aqui
Escancararei as minhas loucuras.
Como morto-vivo estarei a vagar
Um passo aqui, outro acolá
Já não saberei mais o que fazer
Se acontecer de eu te perder.


quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Antigo amor

Não posso desqualificar
Um amor do passado
Apenas porque a pessoa
Não está mais ao meu lado.
Mesmo que aqui esteja
E eu tenha compaixão
Por quem, ora veja,
Antes batia meu coração.
Se hoje não bate mais
Sinto, porém, gratidão
E um respeito contumaz
Por quem já foi minha paixão.
É quase impossível assumir
Tudo o que sinto por ti
Meu amor, não suportarei a dor
De destroçar um antigo amor.
Amo-te perdidamente
Tu não me sais da mente
Meu sonho é viver ao teu lado
Sem fantasmas do passado.


terça-feira, 9 de setembro de 2014

Paixão-amor

A sensação da paixão
Não é a mesma do amor
Seja lá o que for
Não se confunde com tesão.
É possível se sentir
Tudo por uma só pessoa?
Tenho de admitir
Não acontece à toa.
Mesmo quando causa dor
É sinal de paixão-amor
Que aumenta todo dia
Razão da nossa alegria.
Por isso nos entregamos
A um desejo intenso
E quanto mais nos amamos
Mais se torna imenso.
Não é amor, não é paixão
É muito desejo e tesão
A nos empurrar com furor
Para viver esta paixão-amor.


segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Agradecer

Há pouco a pedir
E muito a sentir
Quando se descobre que amar
É melhor que odiar.
Pensar que se ama é comum
Neste mundo do espetáculo
No qual você é mais um
E amar não tem impacto.
Até que se descobre
Um sentimento nobre
Então dobre os joelhos à vida
De forma agradecida.
Por um sentimento perfeito
Que se apoderou do peito
Transbordou para as extremidades
E me transformo em gotas de saudade.


domingo, 7 de setembro de 2014

Talvez

O cheiro que sobe pelas paredes
Lembra-me nos nas redes
Que nunca deitamos e nem sei
Se um dia deitaremos, talvez.
Mesmo que assim não o seja
Quero que na lembrança esteja
Como pérola ou rubi
Pra eu nunca esquecer de ti.
Talvez a incerteza seja pouca
Diante da vontade louca
Que a nós, inteiros, fascina
Santo amor, loucura divina.
Que, talvez, não passe disso
Fica o eterno compromisso
Amar-te para o todo e sempre:
Que a nossa vida se reinvente.


sábado, 6 de setembro de 2014

Dia do sexo

Quisera poder passar o dia inteiro
No quarto, na sala ou no banheiro
A dizer coisas sem nexo
Como se só pensasse em sexo.
Em sexo penso todo dia
Cada hora, minuto e segundo
Mas disso eu não sabia
Até descobrir você, meu mundo.
Quero-te nua, inteira
Na cama, na cabeceira
Em noites e dias de amor
Esqueço que existe a dor.
Ainda que doloridos
Do sexo saíamos todos
Mas ao ouvir teus gemidos
Recomeço tudo de novo.
E quanto mais tenho mais quero
Por isso a ti tanto venero
Até no meio da rua
Quero-te sempre nua.


sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Homilia

Presente estás em mim
Até mesmo na ausência
Amor tão grande assim
Também pode ser demência.
Mas se demência for
A ti devo reverência
Por mais que exista a dor
De longe sinto tua presença.
E é por ti reverenciar
Que te amo dia a dia
Para aos teus pés me curvar
E ser teu em homilia.


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Mais...

Sinto-me mais apaixonado
Do que era no início
Amor que me deixa perturbado
Até parece ser vício.
E se viciado estou
Leve costumo ficar
Como pluma em pleno voo
Corpo inteiro a levitar.
Alma que me sai do corpo
Corpo que me deixa louco
De ti não quero só o sexo
Nosso amor é mais complexo.
Por isso perco o juízo
Digo não à sensatez
Quanto mais de ti preciso
Mais te quero outra vez.


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Emerge

Vejo-te debruçada em minha cama
Tento confirmar não ser miragem
O maior delírio de quem ama
É imaginar que seu amor é só visagem.
Sinto teu amor subir cortinas
E eliminar nossas as barreiras
Cada vez que, na cama, me dominas
Perco a sensatez e as estribeiras.
Entrego-me ao teu cheiro, à tua pele
Escravo dessa tua sensualidade
A força do amor que em mim emerge
Quando vais é transformada em saudade.


terça-feira, 2 de setembro de 2014

Em ação

A brisa sopra mansamente
Por entre as folhas da vegetação
A vida se mostra plenamente
Com a natureza em ação.
Tão natural quanto nós dois
Sem ter nem antes nem depois
A viver sempre o agora
Antes que a vida vá embora.
Que graça haveria em não te ter
Em não poder te conhecer
Meus dias não seriam os mesmos
Vegetaria feito um enfermo.
Ainda bem que existe o sonho
Que se confunde com a realidade
És minha nos versos que componho
E quando vais deixas saudade.


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Trilhos

De tanto te querer pensei em não querer
Como se pudesse não te querer um dia
Logo você que enriqueceu o meu viver
E foi capaz de transformar tristeza em alegria.
Devolveste ao meu olhar um brilho
Que pareceu ter perdido a magia
Se hoje choro é mais de alegria
E pela vida ter voltado aos trilhos.
Por isso espero viver ao teu lado
Cuidar de ti até o fim dos meus dias
Perto de ti apaguei meu passado
Quero sentir os trilhos da alegria.