Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

domingo, 6 de outubro de 2013

Sinfonia da dor

Ouço pássaros da varanda
Presos pela gaiola da vida
Como se livres fossem
Mas tivessem as asas tolhidas.
Não pela falta de asas
E sim por querer e não poder
Assim como vivo eternamente
A te querer e não te ter.
Temo pelas borboletas
Cigarras e beija-flores
Sanhaçus e bem-te-vis
Em Sinfonia de Dores.
Todos cantam por suas fêmeas
Presos por uma tela invisível
Das convenções sociais
De um amor impossível.
Amor não deveria ser pecado
Nenhum ser vivo condenado
Pelo uso das suas asas
Ainda que depois do pleno amor
Voltasse para suas casas.
Pássaros que voam e voltam
Não são meros aventureiros
Adoram o ato de voar
E serem livres pra voltar.
Sem que façam da saudade
Um ato de sofrimento
Mas o exercício da liberdade
De por amar o firmamento.
Se te amo e não te tenho
Definho nesta prisão
Imunoafetado pelo desejo
A sonhar com o teu beijo.


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