Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Entardecer

A força do vento balança a rede
Arbustos se curvam ao rei-natural
Na vida pouca gente mede
A força de um divino temporal.
Nuvens deslocam-se com velocidade
O céu, que era azul, de cinza se pinta
Bate um desespero: é a tua saudade
Nada impede que, de longe, eu te sinta.
Sonho com o dia, que chegarás, enfim
Com simplicidade, na mão, uma Hugo Boss
Joga-se na rede e ali mesmo se entrega pra mim
Para celebrarmos, na varanda, o tudo de nós.
Arrancamos as roupas, perdemos a vergonha
Cada peça é usada como se fosse fronha
A carne é fraca, mas somos muito fortes
Que delícia seria gozarmos até a morte.
E sem perceber que o entardecer virou dia
Noites e noites não domaram a euforia
Grudados, suados, perdemos a hora
Por isso, daqui, nunca mais vais embora.


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