Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

terça-feira, 18 de junho de 2013

Ao zero

Minha imunidade chega ao zero
Cada vez que perdemos a sintonia
Oh Deus, como te venero
Razão de toda a minha alegria!
Não só te amo, sou teu devoto
A ti entrego meu corpo são
Que perde o rumo, fora de foco
Se em ti provoco alguma aflição.
Uma febre alta, chega e persiste
De mim toma conta a sinusite
Entrego-me, solitário, ao leito
Por tê-la magoado, no fundo do peito.
Como um poeta do romantismo
Desço ao poço, ao abismo
A lenta subida parece em vão
Se eu não ganhar o teu perdão.
Ao zero volto, sem apagar
Do peito essa mágoa que me corrói
Aqui do meu leito, enfermo, chego a gritar:
A cura só chega se eu puder te amar.
Resta-me expiar, resignado
Que eu consiga a mim perdoar
E tirar essa dor do supremo pecado
De ter conseguido a ti magoar.
Rogo a Deus, aos anjos e santos
Que consiga arrancar do meu corpo aos prantos
Os resquícios e marcas de um dia infeliz
Quando magoei a quem mais sempre quis.
Já fui por ti perdoado, plenamente amado
Preciso, porém, a mim perdoar
Para poder levantar, do leito, curado
E de corpo e alma poder te amar.


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