Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Acabada


Inábil e grosseiro
Um tanto estúpido
Fiz na brincadeira
Uma enorme asneira.
Você é um ser
De brilho e ternura
Jamais merecia
Tamanha grossura.
Desculpas nem sei
Se mereço um dia
Por ter externado
Tamanha heresia.
A tua beleza
É de contos de fada
Como pude dizer
Que estavas acabada?
Teu sorriso lindo
E a pele iluminada
Revelam que és sim
Muito bem-acabada.
Não mereço perdão
Nem que dobre os joelhos
Acabado estou eu
Aqui em frente ao espelho.
A expiar o pecado
De ter sido inábil
Rogo aos céus que um dia
Possa ser perdoado.

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