Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Quase lixo



Sinto-me um trapo humano
Quase um lixo
Quando me deparo com isso.
Em geral, não entendo a morte
Em particular, menos ainda
Choca-me, porém, quando se assassina.
Requintes de crueldade, tiram-me do chão
Que lixo sou eu, que lixo somos nós
Que transformamos nossos filhos
Em nossos próprios algozes?
Frutos de um consumismo
Desvairado e insano
Somos capazes de arrancar cruelmente
A vida de outro ente, somos humanos?
Não posso mais crer que existe
Qualquer traço de humanidade
Em quem degola pai e prima
Faz do cão da família obra-prima
Com lances de crueldade.
E ainda tira a vida da tia
Que a acolheu um dia
Num gesto lindo de bonança
Tudo em troca do vil metal
De uma droga de herança.

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