Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Sobressalto (Primeira parte)

Manaus dos anos 70. Era exatamente junho de 1978. Copa do Mundo da Argentina. Pela primeira vez eu tinha saído de Sena Madureira para passar o mês da Copa na casa da Tia Waldelina Bulbol.
Segunda-feira. Nenhum jogo da Copa, resolvo passear pela cidade. O Paulo Guedes não queria que eu saísse. Tinha medo que eu me perdesse. Lembrei-me a historieta do Joãozinho e Maria. Ele quebrava os galhos das árvores, na floresta, para não se perder. Saí da casa da Tia Waldelina, quase na esquina da Pedro Botelho com a Rua dos Andradas e subi pela Rua dos Andradas. Ia olhando as placas com o nome das ruas e algum prédio ou casarão, para tomar como referência, na hora de voltar. Peguei a Joaquim Nabuco, fui até a José Paranaguá e desci, à esquerda, em direção à Praça da Polícia, localizada em frente ao quartel da Polícia Militar do Amazonas. Atravessei a praça e fui para na famosa (para nós lá do Acre) Avenida Sete de Setembro. Desci tranqüilo, passei em frente ao Líder Hotel e, quando levantei os olhos, vi um assaltante encostar a arma nas costas de um velhinho e dizer:
- Isso é um assalto. Passa as jóia e o dinheiro. Qualquer reação e eu te mato.

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