Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

terça-feira, 14 de maio de 2013

Invasão


Vida, por que és tão injusta
E, justo, agora,
Ousas me por frente a esta senhora
Que se assenhoreou de mim, assim
Sem pedir licença.
Apoderou-se do pensamento
Da alma
Arrancou o pouco que havia de calma.
Destruiu planos
Enterrou enganos
Descobri a saudade
A ansiedade
A vontade incontrolável de vê-la
De tê-la, inteira, em mim.
Lambendo,
Entrando,
Invadindo
De mansinho
Cada furinho:
De pele
Do corpo.
A me deixar louco.
Entra!
Arrebenta!
Arranca!
Toma conta do meu eu.
Que já não sou mais meu:
Completa e inteiramente teu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário