Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O Ismeril (Primeira parte)

Tiotoim e eu éramos parceiros de pescaria sempre que ele não estava matando mosquitos, como “matamosquitos” da hoje Fundação Nacional de Saúde. Antônio Almeida, marido da tia Francisca, para nós era o Tiotoim. Para a maioria dos moradores da cidade, era um Guarda da Malária. Quando voltava do alto, como ele chamada a subida para os seringais, sempre trazia um agrado.
- Olha o jabuti que eu trouxe - dizia ele no tempo que o Ibama deixava.
- Olha como essa paca tá gorda - chegava o Tiotoim com outro presente.
Nosso divertimento era mesmo as pescas de ispinhel, em Santa Rosa. Lá, nós tínhamos a Boneca, uma vaca com uma pinta branca nas ancas e o Tiotoim um garote de nome Ismeril.
- Qui diabu de nomi isquisitu? - Eu me perguntava sem nunca matar a curiosidade.
Naquele domingo, chegamos em Santa Rosa, encostamos a canoa e fomos cavar minhocas. Deixamos os espinhéis jogados no terreiro. Bem próximo ao local, o Ismeril pastava, como se nada tivesse acontecendo.

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