Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sábado, 11 de setembro de 2010

Corina, a máquina dançarina (Quinta parte)

- Canto daquele jeito para alegrar um pouco mais a minha vida. Quando vi aqueles surfistas na televisão, encontrei uma forma de preencher o vazio que era a minha existência. Você já pensou no tanto de força que a sua mãe faria se eu não deslizasse nas roupas que nem um surfista?
- Ora, mas você me queimou...
- Já disse que não sou brinquedo de crianças. Minha missão é ajudar as mães a deixarem as roupas das crianças bem bonitas. Lisinhas e macias.
- Por que você é tão quente?
- Porque só assim as roupas ficam mais esticadas. Meu calor é tanto que ajudo os fios das roupas a relaxarem, a ficarem mais alongados. Assim, a roupa fica mais lisa.
- E de onde vem sua energia?
- Hoje, da rede elétrica. Mas nem sempre foi assim. No tempo da sua avó, eu era feito de ferro e tinha um buraco no meio. Assim como se fosse uma barriga. Sua avó levantava a tampa e me enchia de carvão. Depois botava fogo. Eu ficava com corpo inteiro em brasa. No entanto, eu pesava muito.
- Você não se queimava?
- Era um calor infernal. Principalmente quando, ao invés de carvão, sua avó botava aqueles coquinhos do mato e tascava fogo. A pressão deles é maior do que a do carvão. Eu quase morria. Agora ficou tudo melhor.
- Melhor como, se a ponta do meu dedinho está vermelha?!

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