Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Teimosia (Segunda parte)

- O noivo tá desempregado. A noiva também não tem onde cair morta. O que eles têm muito é ódio: uma família da outra. Se essa casamento se realizar, não dura nem um mês.
- Já lhe disse que isso não é motivo para que o casamento não se realize.
- Depois não me venha dizer que eu não avisei.
Uma semana se passou.
- Padre...
- Vamos lá rapaz, me dê logo um motivo justo para que eu não realize esse casamento?
- Além de desempregados, resolveram que vão morar uma semana com os pais da noiva e a outra semana com os pais do noivo. Isso não vai dar certo. As duas famílias são inimigas ferrenhas. É casar num dia e separar no outro. O pai de um vai querer matar o filho do outro.
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Igreja enfeitada. Famílias nada contentes. Noivos risonhos e com ar de felicidade. Na hora do sim, o mesmo homenzinho dos domingos anteriores berra:
- Eu lhe avisei padre. Não vai dar certo. É casar hoje e separar amanhã.
Alguns dos presentes, que só aparecem na Igreja em dia de casamento, ficaram cochichando. Não sabia do que se tratava mas gostaram de ter mais um motivo para as fofocas. Sério, o padre continuou a cerimônia. Deu a benção aos noivos e às alianças. Que visse os olhares trocados pelos noivos imaginaria que aquela era um união maior que o ódio entre as duas famílias. Pelo jeito, era casamento para durar até que a morte os separasse.

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