Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sábado, 23 de novembro de 2013

Entregue

Sinto-me teu por inteiro
Entregue em tudo o que faço
Alma e corpo em um só canto
Vítimas do teu encanto.
Da textura da tua língua
Que desce inteira, felina
A explorar os milímetros
Do que tenho e do que sinto.
Transforma-me em um ser indefeso
Totalmente entregue, ileso
Ex-fera, hoje cordeiro
Teu alimento de felina-fera.
Lábios respigam
Gotas da presa
Preso, eu, teu, todo
Arquejo gritos de gozo.
Teus olhos ainda me comem
Os dentes, potentes mordidas
Lábios que sugam, consomem
Engolem forças escondidas.


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