Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

domingo, 30 de março de 2025

Queda de braço

O muro tem 10 metros

O coração de arame farpado.  

Do lado de cá, um soldado ajusta o fuzil.  

Do lado de lá, uma criança desenha o mar

 Com giz de lousa e sangue. 

No vento, um lenço vermelho 

— talvez dela, talvez minha —  

Balança como bandeira de um país que não existe.  

Quantas pátrias soterradas

Na desventura desta jornada.

Cujos braços não caem

Porque quedar não se admite

Forças que se esvaem,

Paz (buscada) que não existe.


Poema do dia 16 de março de 2025


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