Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Tempestade

Bocas ardem.
Olhos grudam-se.
Mãos dançam.
Descontroladas.
Pelo infinito.
Ilimitada geografia.
Montes e vales.
Grutas, cavernas
Que se bifurcam
Em caravelas.
Naus sem rumo.
Vidas jogadas.
Sonhos expostos.
Terra arrasada.

Passos

Espaços
Ex-passos
Passos
Largos
Miúdos
Segundos
Após.
Há pós?
Há.
Após
Graduação.
Passo eu
Passa você
Não passamos nós.
Esparsos
Espargos
Aspargos
Pós-grátis
Pós-paga.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Corrida

Pessoas passam
A vida também.
Felizes
Ou sem ninguém.
Dada a largada
O zoide explode
Encontra o óvulo.
De um milhão
Um chega.
Perda
Quase total.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Nudez

Morra, morra!
Corra, corra!
Porra, porra!
Perigo.
Risco.
Desabamentos.
Cavalos.
Asnos.
Jumentos.
Eleitores.
Moradores.
Administradores.
Matadores.
Delatores.
Dedo em riste:
Morra, morra!
O velho oeste é aqui.
"Tá explicado!"

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Desvios

Placas
Bússolas
GPS
Caminhos
Sinalizados
Traçados
Nada imprevisível
Tudo programado.
Destinos cruzados
Novos amores.
Vulcões cospem fogo
Equipamentos desligados
Incertezas reveladas
Ainda bem que a Terra é redonda.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Raios

Deuses disparam raios
Rajadas de luzes
Descem céu abaixo.
Traspassam nuvens
Geram trovoadas
Tempestades cintilam
Iluminam planaltos
Florestas, cachoeiras.
Zeus aprontou das suas
Te queria nua!
Mas arrefeceu, estático
Quando os reflexos da límpida água
Singraram o teu sorriso.

Cheiros

Vais
Teu cheiro fica
Nas narinas
Nos dedos
Nas crinas.
Cavalgas
Teu cheiro sobe
Invade
Espalha-se
Explode.
Fragrâncias insondáveis
Na pele se instalam

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Excitações

O que gosto não é o que quero
O que quero não é o que tenho
O que tenho, nem sempre desejo
Compro porque me excita
O que me excita nem sempre compro
Quem me excita, às vezes não tenho
O ponto G se descola pro bolso
Carteira, cartão de crédito, bunda
Tudo excita
Quando a mulher e o homem se completam
No supermercado ou no Shopping Center
Dança das contas
Dança do ventre.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Unos

Decrépitas chamas
Faíscam
Entre olhos semicerrados.
Explosões multicoloridas
Dissipam-se infinitamente
Painéis anelares entrecruzam-se
A devorar Id, ego e eu.
Química dependência de ti
Outro
Laser
Lazer
Lazeres
Seres
Somados pelo nada.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Neolibertárias

FaceBook
MSN
Twitter
LinkedIn
Coitados de nós!
Dominados
Dependentes
Dessa nova droga
Dita social.
Excludentes
Autoritárias
Perdulárias
Narcisistas
Nazifascistas
Com ares de libertárias.

Barreiras

Cidade baiana
Obstáculos nas corridas
Estado civil
Consciência inteira
Impede avanços
Promove lareiras.
Mata sonhos
Enterra desejos
Controla o animal
Bestializa humanos
Que as rompem
Insanos.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Resistência

Não suporto quando me dizes sim
Como se dissesse não.
Detesto te amar de longe
E fingir que te quero perto.
Deito só, acordo mais ainda
Vivo a tentar
Conter a resistência
Entender a ausência
A falta que me fazes.
Venero o silêncio
O branco-azul dos meus áis.
Sonho com tua chegada
Vibro quando vais.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Pingos

Escorrem
Das unhas
Gotas
Vermelhas
Rosadas
Misturadas
Às tiras
De pele.
Presa
Estraçalhada
Transfigurada
Desfalecida
Resfolegas
Jatos de ar
Respingos
Lágrimas
Sangrentas
Mechas
Encharcadas
De nós.

Pânico

Atônito
Vislumbro teu vulto
Em culto
Dobro os joelhos
Toco o chão
Pés
Mãos
A sombra escapa
Fora do alcance
Do olhar.
Um grito
Ecoa
Gutural
(in) mortal.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Na estrada

Carros
Ônibus
Caminhões
Vegetações.
Pontes
Barro
Asfalto
Queimadas.
Luzes
Faróis
Neblina
Retina
Gás
Álcool
Gasolina
Garotos
Garotas
Meninos
Meninas
Feridas
Nas curvas
Esquinas.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O outro

Ao lado
Há alguém
Calado
Condenado
Ao silêncio.
Viole
Suas leis
Seu orgulho
Convicções
Diga algo
Some vida
Quebre o gelo
Seja elo

Beija-flor

Um colo
Uma flor
Colibri
Colo aqui
Colo lá
Beijo
Beijas
Tua flor
Minha flor
Do campo
Lascivia
Lá não via
Não se via
Teu pólen
Desejo
Em goles
Como a um vinho
Sorvo
O gozo.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Dois poetas

Ruas desertas
Lado a lado
Caminham.
Mulheres
Amores
Temores
Teorias
A vida passa.
Praças
Vidraças
Monumentos
Emolumentos
Vista Boa
Embaça.
Andam
Correm
Atravessam
Ruas
Bares
Somente
Duas mentes
Dois mundos
Moribundos
Vagabundos
Vagueiam
Rua à Praça.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Refluxo

Tomo-te!
Você sobe.
Bebo-te!
Você sobe mais.
Pedaços de ti
Saltam
Garganta a fora
Minúsculas gotas
Sanguíneas
Penetram as narinas.
Espirro
Escarro
Fragmentos de catarro
Com as suas digitais.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Extermínio

Virgem mata
Mato.
Animais
Selva
Agem
Homens maus
Bichos
Calafrios
Rios
Singram
Matas
Adentram
Vales
Vilas
Vômitos
Corpos
Expelem
Peles
Polimorfas.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Explosões

Faíscas de ansiedade
Pipocam corpo adentro
Sangrento episódio
Crava lembranças
Destrói esperanças
Constrói pesadelos
Como esquecê-lo?
Deuses do Olimpo
Instinto
Animal no cio
Sinto o teu cheiro
Inteiro
A alimentar as chamas.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Insanidades

O amor não se aquieta
Nem a tudo perdoa
Não aceita
Não releva
Não te transforma em cego.
Amor é gozo
É fogo
É perder o juízo.
É tesão
Desmaio
Explosão
Insaciável
Incontrolável desejo
Estampado no olhar.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Miragens

Descargas elétricas
Raios, trovoadas
Um arco-íris brota
No centro do cérebro
Olhos apertados
Imagens sufocadas
Tentam, em vão
Libertar-se
Fugir da mente.
Teu ego
Sem guia
Seguia o ID
Chovia.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Andes

Calor infernal
Não provoca degelo
Neste coração
Doente, enfermo
Fechado para balanço.
Fria
Gélida
Deserto de emoções
Saara de indignações.
Risco
Xizes
Da vida
Marca de gado
À fogo
À ferro
Marcaram teu cérebro.