Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

É loucura!


É loucura!
Sentir sem ser tocado
Amar sem ser amado
Gozar do outro lado.
Como se tocado tivesse sido
Num impulso enlouquecido
Todo o gozo sentir
Como se tivesses aqui.
É loucura!
Essa mais louca ternura
Que de nós se apossou
E inteiramente nos dominou.


quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Sumiço


Espero você surgir
De algum lugar do presente
Porque no passado recente
De mim, você só fez sumir.
Este teu sumiço
Mais parece capricho
Você não quer admitir
A minha falta sentir.
Então, assumo teu sumiço
E convivo com o feitiço
De não mais te ter
E não conseguir te esquecer.


terça-feira, 29 de outubro de 2019

Altar


Já tentei te encontrar
Até ao pé de um altar
A única coisa que consegui
Foi apenas lembrar de ti.
Dos momentos que passamos
E juntos, quase oramos
Na tua frente eu me ajoelhava
E nosso ritual, eu rezava.
Orava e rezava por ti
Teu corpo era o altar de nós
Ainda consigo sentir
O timbre da tua voz.
No gozo, a gemer baixinho
Estremeço com o teu carinho
As teus pés, naquele altar
Descobri o que é amar.