Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Frestas


Vejo a vida passar pela vidraça
Por entre as frestas da veneziana
Não és Ana nem Veneza:
Uma selva de lixo e pedra.
A podridão dos igarapés
A má-educação dos motoristas
Corpos dilacerados em acidentes
Vidas ceifadas em meio às pistas.
Ou nos semáforos e calçadas
Vítimas de bêbados e imprudentes
Que conduzem os automóveis
E não enxergam os indigentes.
Vida que segue para os vivos
E que se foi para os mortos
Uma marca do nada no infinito
Luz que vence a vedação da porta.
Mas que não rompe o breu do fumê
Nem me traz o desenho da tua sobra
Miserável e suja cidade que te esconde
Só a tua lembrança me acode.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Famintos


Eles te olham nos olhos
Elas também de ferem com o olhar
São parte da rua, para muitos lixo
Humanos, pedintes, sem lar.
Moram nas pontes, nos viadutos
Embaixo do nada, do lugar nenhum
São famintos de amor e afeto
E não os encontram em lugar algum.
Eu passo, tu passas, nos passamos
E fingimos que nem os notamos
É essa frieza que mais acirra a fome
De serem notados como humanos.
Nos os fazemos bichos famintos
Não os tratamos como gente
São nossos irmãos de raça e terra
Para nós, porém, são meros indigentes.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Ensolarados


Os dias nascem, crescem e morrem
Como os seres
Humanos ou não
A cada ano
A cada hora
A cada dia.
Ensolarados
Iluminados
Cada um do seu lado
Dia a dia: a cada dia.
Mas se forem chuvosos?
Também são nossos dias.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Fôlego


A ao te ver a alma reanima
E me anima a continuar em busca
Dessa luz que me ofusca
Porém anima a minha alma.
Expresso nos olhos a calma
Que não tenho quando te toco
Lança-se sobre mim um foco
De segredos e desejos
Quero suspirar beijos
Que nascem dos teus lábios
Assentar-me no colchão
Tocar a palma da tua mão
E fingir que sou um sábio.

domingo, 26 de agosto de 2012

Mão aberta


Abro a mão para receber o teu sorriso
Tua alegria é tudo o que preciso
Para esquentar minhas noites vazias.
Tua ausência em minha cama, meu corpo clama.
Reacende do amor a chama
Toca fogo na frieza dos meus dias.
Quero-te de novo ao meu lado
Esqueçamos as marcas do passado
Aqui do meu lado levanto a bandeira
Abro os braços para recebê-la
De novo como minha, inteira.

sábado, 25 de agosto de 2012

Louco desejo


Deixo a loucura de mim tomar conta
Cada vez que você aponta
No canto da passarela.
A vida se ilumina em teu sorriso
Teus dentes brancos é o que preciso
Para morder os sabores da vida.
E em cada dentada ou mordida
Arranco teus urros, suspiros e gozos
O estremecer desse teu corpo em brasa
Invade os cantos da sala, da casa
E te faço minha sem pudor.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Demência


És a junção de todas as belezas
Da Amazônia em uma só mulher
Juntas a Rosa com a Ana
Depois se soma à Maria.
Escondes na Ana o "a"
...mudas um pouquinho para o "e"
Como um entardecer na Selva.
Depois deslizas pelos rios
Na régia rotina de uma vitória.
Maria, teu nome é santo.
Como é santa a tua existência.
Dos teus lábios quero arrancar a hóstia.
Vermelha volúpia: minha demência.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Deletar


Infelizmente você na mente
Não é uma mera tecla escrita DEL
Ou por extenso escrita Delete
Com possibilidade de dar Backspace.
O que vivi não posso apagar
Muito embora às vezes tente deletar
O que de você tem no meu HD.
Por mais que eu a arranque da memória RAM
Você reaparece como um “Control V”.
Deslizo os dedos por sobre o teclado
Na ilusão de tocar o teu corpo molhado
Quando abro os olhos apenas percebo
Teu vulto, na tela, todo desfocado.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Pratos


Há louças espalhadas
Como se loucas decisões fossem tomadas
Ou algo decidido na pancada.
Pratos parecem ter voado
A casa lado a lado atravessada
O lugar completamente desarrumado.
Nossas vidas da mesma forma
De quentes passaram a mornas
Um ao outro não importa.
O amor perdeu o prazo
Foi parar no SAC da vida:
Duas vidas reconstruídas.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Os Flintstones


Estou a ficar puto com essa zorra
De sonhar com o fim dessa porra
E chamar desesperado pela Vilma.
Aí me aparece o dia inteiro
Como em um terrível pesadelo
A presidente Dilma em pelo.
Com os dentes para fora
A ameaçar toda hora
Cortar o ponto, o meu salário
Como se eu fosse um salafrário.
Aqueles olhos esbugalhados
A perseguir meu destino
Sinto-me como um menino
A tentar escapar da sanha de Chuck
O brinquedo assassino.
Vivo a confundir a realidade
Não fiz nada de mais grave
Apenas aderi à greve.
Hoje vivo em um desenho animado
Que mistura Vilma com Dilma
Já não sei mais o meu nome
Será que sou Fred Flintstones?

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O fim


A mim pouco importa se dizes “é o fim”
O fim é o início de um novo começo
Que ao começar se aproxima do fim.
Nascer é o primeiro ato de fato
De quem se aproxima da morte em vida
Nada é eterno, céu ou inferno
O tudo é um vazio que turva a visão
Descer ao mais sóbrio inferno de Dante
É a comédia do sonho da grande paixão.
Viver um grande amor é aproveitar o desejo
Enquanto o corpo reage à pulsão e ao querer
Quando tuas mãos não me acendem ao tocar em mim
Por mais que não queiras, chegamos ao fim.

domingo, 19 de agosto de 2012

Imaginação


Quero essa vontade louca
De beijar tua boca
E comer teu corpo.
Morder as orelhas
Tocar os mamilos
E lamber o umbigo.
Descer pelo ventre
Passar pelas coxas
Voltar até a boca.
Fecho a janela
E a porta do quarto
Fique a imaginar
Aquilo que faço!

sábado, 18 de agosto de 2012

Retinas


Imagens gravadas na retina
Alimentam tua mente de menina
A passar pela mocidade.
Descobres os pontos da cidade
Nos quais a vida corre à vontade
E se encontra em cada esquina.
É nessas mesmas esquinas
Que ocorrem os desencontros
Amores cruzam com novos amores
E a ida segue em frente.
Só retorna nas lembranças
Do que já se viveu um dia
Mágicos momentos juntos
Na vasta solidão do mundo.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Animais


É uma tremenda bobagem
Tentar esconder a imagem
Que temos um do outro.
É uma grande bobeira
Insistir nessa besteira
De que não te quero mais.
Melhor é deixar o desejo
Acender-nos a cada beijo
E despertar os animais.
Que escondemos dia a dia
E despertam na poesia
E nos nossos rituais.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Comigo


Quero-te ao meu lado
Ainda que distante.
Mesmo que não seja teu
Nem mero amante.
Estar na tua mente é o primeiro passo
Para que um dia possa tê-la em mim
Como tatuagem a rasgar a pele
Doce, branca, cor de neve.
Desfaço-me de tudo o que tenho comigo
Para tomar conta da tua lembrança
E cultivá-la como tua flor
A desabrochar sobre minha mente.
Teu cheiro doce nem sei o gosto
Ainda assim, quero-te o tempo todo
Enraizada na bela lembrança
Como feliz brincadeira de criança.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Ritual


Desejo despir o teu corpo
A partir do momento que tocar teu rosto
Deixar a ponta dos dedos
Descobri segredos
E invadir tua alma em longo ritual.
De entrega mansa desses corpos quentes
Sem nenhuma pressa de ao fim chegar
Tuas carnes firmes provocam a mente
Dobro os joelhos na entrega total.
Então de faço santa e em adoração
Sinto cada milímetro do teu corpo-imagem
Até a textura dessa tatuagem
Que a roupa esconde sempre que te vejo.
São teus os meus dias, noites mais eternas
Cada vez que exploro tua doce caverna
E sinto os sabores na ponta da língua
Como se cada coxa fosse uma esquina
Nesse rito bendito, sorvo teus gemidos
Mordo todos os teus lábios, languido atrevido
E perco os sentidos ao ouvir teus urros
Descanso em teu ventre quase morto-vivo.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Você faz falta


É curiosa essa certeza
De tê-la sentada à mesa
Ainda que nem perto esteja.
Depois da troca de sorrisos
O que era quase um abismo
Transformou-se em proximidade.
Viver com toda intensidade
O gosto dessa saudade
É a prova de que você faz falta.
Tua imagem gravada na mente
Teu sorriso contente
Deixam-me a imaginar
Que também sentes o mesmo.

domingo, 12 de agosto de 2012

Cartas marcadas


Penso em ti a cada segundo
Como se já fizesses parte do meu mundo
Muito embora pouco tenha te encontrado.
Pouco importa se és solteira ou casada
Tesão e desejo não possuem cartas marcadas
E sexo não tem estado civil.
Como animais no cio a desejar um ao outro
Que só de sonhar com o primeiro encontro
Somos capazes de emitir sinais de gozo.
Nem sei de onde veio esse desejo ardente
Que te marcou no fundo da minha mente
Como tatuagem gravada na memória
Posso até não te ter agora
Mas meu querer não fenece
Enquanto não te tenho faço poemas
Até que consiga vencer esse jogo de cartas
E te faça real como marca na vida.

sábado, 11 de agosto de 2012

Algodão


Adoro a tua pele-algodão
A deslizar pela palma da mão
Até tocar teu fruto proibido.
Seja por baixo da saia ou vestido
Ou escondida naquela blusinha
Que ao te roçar ficas vermelhinha.
É neste rosado bailado de cores
Que sinto a pele, os pelos, os odores
Desses momentos de sonhos e amores
Por sobre os lençóis que protegem tua alvura.
Toco a pele jambo, teu fruto sem casca
Faço desse sonho minha ayuasca
A me embebedar nesse louco desejo.
Quero a cada dia com o primeiro beijo
Com a lascívia e o fogo desse tesão
Para explorar cada pelo viçoso do fruto
Molhado pelo desejo da entrega a dois.
E em cada lambida, languida e atrevida
Esquecer o mundo e essa fuga-bandida
Desse tesão-proibido que é fogo entre nós.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Natural


Entre uma linha e outra
Do branco da página.
Surge um encanto
Do canto do olhar.
Brotas em mim
Como flor em poema.
Surge dos bits e bites da página
A tua imagem a me sorrir inteira
Revejo teu rosto rosado, vermelho
A tentar esconder que te provoquei
Tesão e desejo ligaram faíscas
A pele falou o que não quisemos dizer
Que aflore até o que não permitirmos
Nesse natural germinar de quereres
E que eu sinta a maciez dos teus pelos
Ainda que não os toque e nem chegue a tê-los.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Espírito evoluído


Adoro esse teu jeito descolado
De jogar tudo para o alto
E encarar a vida
Como se fosse mera brincadeira.
Ou um passeio pelo campo
A sentir o cheiro das flores
E a gozar o prazer dos amores.
Gosto desse “teu não querer prender”
Nem de não querer ser presa
Somos apenas parte dessa natureza
Primos ou irmãos dos animais.
Quero te querer sem querer mais
Cheirar tua pele, teu ventre teu nariz
Tremer de medo e prazer como um aprendiz
Ao despir cada milímetro do teu corpo.
Ousado, voraz, destemido
Mastigo teu corpo, atrevido
Para assim demonstrar
Nosso espírito evoluído.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Anseios


Ë quase um desejo esse sentimento
Que por ti cultivo a cada momento
Na troca de olhares, nos gestos contidos
Que tua tez vermelha não deixa negar.
Feliz e surpreso aceito o convite
Passo a integrar uma parte da elite
Das pessoas mais próximas
E que te fazem bem.
Essa pele branca, macia, leitosa
De tão vermelhinha fica quase rosa
Quando nossos olhares se cruzam vorazes
A engolir um ao outro, loquazes desejos
Esse é meu anseio: querer-te sempre mais.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Elegância


Impressiona a tua elegância
Quando andas parece que danças
Pé ante pé num balanço dengoso
Lapidada cintura: provoca loucura
Atiça mil desejos de tê-las nos braços
Imagino teus lábios a roçar os meus
Leves, elegantes em tons cintilantes
A mim entregas tuas curvas
Num doce bailado de finos amantes
Cheiro o teu pescoço, mordisco tua língua
Teus cabelos sedosos, teu corpo inteiro
Exalam um cheiro, de sexo, de vida
Quero tua elegância de mulher em mim
Sentir a fragrância de cada um dos pelos
Salivar de desejo ao sonhar com teu cheiro
Descansar mansamente em teu corpo inteiro.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Obscuros


Fujo dos obscuros
Seres sem brilho, sem luz
Que de ti se aproveitam da aurora
Para arrancar o fulgor da aura.
Sanguessugas, coitados dos vermes
Que pululam sobre tua pele
Sacrossanto bordel da ignorância
Onde puta e santas desdobram-se em loucuras
Não escondem o mais vil desejo a mais obscura
Refinada vontade de enganar o mundo.
Umas fingem ser santas, são putas
Outras putas de tão puras, são santas
Vá entender uma alma fingidora
Que ao invés de jiló é amora?

domingo, 5 de agosto de 2012

Cínicos


Detesto essa gente cínica
Escalada pelo patrão
Para ficar aos quatro cantos
A defender o Mensalão.
São vermes com sede de poder
Que minimizam a corrupção
Que igualaram o PT
A qualquer partido direitão.
Fingem lutar pelo povo
Pelo pobre brasileiro
No fundo não passam, porém,
De imundos mensaleiros.
Vendem a alma em troca
De um cargo ou de dinheiro
Transformaram a arena da política
Em um imenso chiqueiro.
Chafurdam felizes na lama
Comemoram minutos de fama
Espero que saiam algemados
Para servir de exemplo
Quando o Supremo aplicar a sentença
E terminar o julgamento.