Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Mortes


Os sentidos morreram
Prazer!
Mais vivo estou!
Menos morto!
Fiquei!
Fui!
Voltei!
Despertei!
De uma morte virtual
Cuja vida que nunca tive.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Em vão


Olhos entre os prédios.
Nenhuma sobra.
Qualquer sinal
Quem sabe um vulto
Daquele amor:
Nossos delírios
Madrugada:
Restam a neve
A brisa, o vento frio.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Sem idade


Insensato
Insano.
Às vezes desumano.
Indócil.
Indesejável.
Furacão de emoções.
Matreiro.
Olha para um lado.
Para o outro.
Não vê ninguém:
Entra!
Senta-se num cantinho.
Começa a circular.
Pelas veias
Pelos poros.
Cria nódulos
De saudades.

domingo, 28 de agosto de 2011

Contatos


Sinto teus lábios
A deslizar mansamente
Em meu pensamento.
Em minha mente.
A explorar cada detalhe
Desse meu corpo
Em ritual.
Mágico toque
Da tua língua lascívia
A transformar um dia em noite
E a minha noite em dia.

sábado, 27 de agosto de 2011

Contrastes


Não ligo se me dizes que sou ruim
Adoro quando dizes que sou bom
É tudo mentira ser bom ou ruim.
Verdade é não ser nem ruim nem bom.
Tudo o que digo depende de ti
Nada do que falo resvala em mim.
Se não tiver o teu não e o teu sim.
Somos o sim e o não em um todo
Do nada em eterna contradição.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Rituais


O mito
O rito
O dito
Não-dito.
Passagem.
De um ponto
A outro.
Do nada
Ao lugar nenhum.
Para muitos:
Tempo perdido.
Para outros:
Certeza.
De um sonho
Feito real.
É o ritual
Da formatura.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Caminhos


Desmedido tempo de espera
Pelo reconhecimento dos teus braços.
Enlaço as curvas e retas
Perco-me em meio às metas.
De um dia chegar a ti.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Cheiros


Gosto do teu cheiro
Que nunca senti.
Do teu corpo
Que nunca vi.
O teu beijo?
Jamais provei.
Nem o teu corpo
Cheguei a explorar.
Essências internas,
Posso imaginar.
Suores, odores
Se um dia te amar.

Adição


Não me crie mais problemas
Não são meus os teus dilemas.
Se quiseres ir ou ficar?
Faças o que desejar!
O tempo é a soma das horas
Que se acumulam se vais embora.
Quanto mais tempo sem você,
Mais aprendo a te esquecer.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Santos encontros


Há um Deus em cada santo
Em cada canto,
Em cada olhar.
Dádivas
Divas
Divãs.
Vã filosofia.
Magia
A brilhar.
Tangencio teus pelos
Tocam os meus.
Herético
Errático
Ponto de intersecção.
Entre profanos e pecadores
Humanos e desertores
Deuses pagãos.

domingo, 21 de agosto de 2011

Deslocamentos


Olho o futuro,
Vejo o presente.
Assombra-me o passado.
Tento imprimir viagens.
Passagens.
De uma vida.
Que só se completa ao lado de outra.
Vida.
Pessoa.
Ser.
A mente nos leva.
Traz de volta.
Teletransporta.
Passado e futuro
Encontram-se
Nesse vão escuro!

sábado, 20 de agosto de 2011

Abismo


Desci.
Teu corpo explorei.
Pirei.
Vazio.
Salto.
Ao nada.
Ao Norte.
Ao Sul.
Às flores.
Tuas.
Nuas.
Nuances.
Infinito.
Voo cego.
Vou.
Nunca mais volto!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Fakes


De joelhos,
Nunca juraste amor.
No espelho,
Sempre tocaste o terror.
Em verdade,
És falsa até na idade.
Tens o sorriso postiço.
Até os mais espertos,
Contigo se enganam.
Caí na tua esparrela
Te amei mais que a mim e a ela.
Escondi os teus defakes
Passei a lidar com fakes
Hoje vivo eu e a tela.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Liberdade


Sou livre até para me prender a ti
Tão preso, a ponto de me libertar.
O que me oprime não me sujeita.
Se me sujeito é porque sou livre.
A qualquer momento posso voar.
Para longe ou para perto.
Floresta ou deserto.
Tempo e distância: indiferentes.
Convenções: prisões coletivas.
Convencidos: prisioneiros indulgentes.
Pedaços de vidas, metade dementes.
Inteiros desenhos no fundo do olhar.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Faminto


Não sonho em ser teu homem
Quero-te bicho-com-fome.
A arder, queimar de desejo.
Vejo-te sentada em minha frente
A sugar minha mente.
Com teu desejo-de-flor.
Famelicamente exploro
O doce sabor do teu colo.
Teu cheiro de bicho no cio
Provoca sempre um vazio
Tira-me a saciedade.
Em cada canto da cidade
Busco meu alimento.
Tudo parecem migalhas
Sobras do teu pensamento.

Uivos


Ao som dos móbiles
O vento uiva.
Pela varanda,
Invade a sala.
Deus de alívio
Nesse inferno
Vai-te verão!
Que ainda nem veio
Fértil igual seio
Sonho com o inverno.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Incerteza


Diante da impossibilidade da certeza,
Contento-me com a tua beleza,
Com o teu jeito-menina
De se fazer mulher
De invadir meu pensamento
De se apresentar todos os momentos.
De arrancar juramentos.
De amor eterno
Sem ao menos me ter.

domingo, 14 de agosto de 2011

Teu homem digital


Não desejo o teu corpo
Porque é de carne e osso.
Quero estar na tua alma.
Presente a cada dia.
Ser teu tu, tua poesia.
Estar diante de ti.
Até no ar que respiras.
No suor que foge da pele.
No cheiro natural que exalas.
Quero estar no teu quarto,
Na tua sala.
Na tua mesa de trabalho
No topo do teu Lap Top.
Dominar teu Facebook.
Ser seguidor no teu Twitter.
Ser cada letra do teu SMS.
Morar no teu MSN
Transformar-me em Bit e Bites
Dominar teu mundo virtual.
Ser para o todo e sempre
O teu homem digital!

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sábado, 13 de agosto de 2011

Prepotência


Se nada fui na tua vida.
Se pouco deixei de saudade.
Muito ficou de lembrança:
Dos sonhos
Dos momentos juntos
Da aflição.
Da dor.
Do amor.
Da primeira vez.
Teu orgulho
Tua prepotência
Tua dificuldade em lidar com falhas
Próprias do ser humano.
Plantaram a indiferença.
E como diz Veríssimo,
Não o Fernando, mas o Érico:
“A falta de amor não é o ódio
Mas, a indiferença”.
Fique com o nada que restou
Que eu fico com a minha dor.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Querer mais


Um sorriso de quero-mais
Brota do rosto amorfo
Num quadro de Mona Lisa.
Decidida!
A querer
Quereres
A sós.
Insaciável fome,
Gotículas de suor
Deslizam...escorrem...

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Invasor


Felino é esse olhar
Que me penetra os poros
Adentra a alma
Sequestra a calma
Tira o prumo
Deixa-me sem rumo.
Que força é essa!
Que me faz descer pelos ombros
Explorar os escombros
Inventar caminhos
Nos desalinhos
Dos teus cabelos.
Pontiagudos
Carnudos.
Como lábios
A tocar meu corpo
A morder meu todo.
A arrancar gemidos
Sussurros
Urros.
De um prazer absurdo
Que, um dia,
Talvez nunca venha a ter.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Paixão


Chega!
Cega!
Cometa Azul!
Cinza!
Incolor.
Convés da dor.
Singras meu rio
De sangue a pulsar
Pret-à-porter do desejo.
Entrego-me a ti.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Liberte-se


Seja livre!
Prenda-se a alguém.
Mas o faça consciente.
Do direito de ir e vir.
Venha!
Afogue-se nos meus braços.
Adormeça.
Amanheça.
Cresça!
Depois volte.
Ou vá para mais longe.
O limite da tua liberdade
Não deve ser demarcado
Nem pelo homem ao teu lado.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Indiferença


Desço a escadaria
Dos Remédios.
Igreja acima
Bêbados de um lado
Mendigos do outro
Ou na ordem inversa.
Pouco importa!
Poucos se importam.
Deles ninguém que saber.
Dormem ao relento
Um passa: não olha!
O outro foge
Acovardado pelo medo
Dor solitária
De cada um deles.
Estorvos em casa
Sem casa, sem teto
Sem vida e afeto.

domingo, 7 de agosto de 2011

Dia quente

Manaus
50 graus.
Nada
Anormal.
Verão.
Esquentam
O corpo
A alma.
O espírito
Perde a calma.
As árvores
A cor,
As folhas
O viço.
Um forno: socorro!
Água: urgente.

sábado, 6 de agosto de 2011

Imprecisão

Palavras pouco dizem
Sobre o que tenho a te dizer.
Tento criar imagens,
Recuperar teu esboço,
Nas fotos.
Pura ilusão.
Revejo teu busto,
Pescoço.
Contornos transcritos.
Imagens entrecruzadas
Dilaceradas
Desconexas.
Do teu sexo.
A me provocar.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Em preto e branco

A luz? Um manto
A descer, mansamente, sobre o teu corpo.
Nu.
Despido pela Iris dos meus olhos.
Em cada poro da retina
Saudade-menina
Morena.
Reflete-se
O branco-seda.
Sedoso olhar
Domina.
E me faz teu.
Desbotado súdito
No contraste cinza
Do preto no branco.

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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Desertos

Quando um corpo não desperta
Ao toque do outro
A aridez impera.
Num ímpeto,
Esse corpo procura outros corpos
Outrora mortos.
Não há ressurreição
Onde não há mais tesão.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Desespero

Não sei se espero
Ou deixo de esperar
Esse dia
De você chegar.
Expiarei aqui
Todos os pecados.
Espiarei ali
Pela fresta
Da janela
Fechada
Para o amor.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Despertar

O corpo acende
Quando me olhas!
Os pelos ganham vida,
Os poros dilatam-se.
As veias também.
Que santo poder é esse.
Que os teus olhos têm?

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Digitais

Teus dedos
Envolvem, alimentam
O viço da planta.
Manta
Envolta no corpo
Sobressai um V
De voracidade?
Prefiro não vê
Que nesse V se esconde
Meu desejo voraz
De Vc.