Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Tormento

É tão triste te amar de longe
Nem sei mais onde te escondes
Sinto no coração um disparo
Sempre que passo pelo teu carro.
Vejo que a cada dia
Aumenta a minha agonia
Serei eu obrigado a conviver
Mais longe ainda de você?
O contexto, as circunstâncias
Aumentam mais a distância
Estarei para sempre condenado
A me alimentar do passado?
A cada dia, no presente
Sinto-te mais ausente
Basta uma tarde de silêncio
Para um dia de pânico, de tormento.


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Meio moderno

Vejo no fundo dos teus olhos
Um brilho maior que o normal
Estás mesmo apaixonada,
Ou é sentimento venial?
Dizem-me que sim, os sinais
E a cada dia, muito mais
Nosso amor tem jeito de eterno
Sem ser algo, assim, meio moderno.
Ao nos entregarmos ao prazer
De moderno não temos nada
Somos dois animais a padecer
A saudade de querer e não ter nada.
Passamos a viver de saudade
Porque se morrer não a teremos
Tua falta, para a minha sorte
Dois fundo mas não é de morte.


quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Domínio

Tento desviar os olhos
Quando teus olhos encontram os meus
Onde ponho as mãos, não escolho
Meu Deus, o que me aconteceu?
O sangue que pulsa em mim é teu
Do ar que respiro, nunca fui o dono
Tento fingir que algo ainda é meu
É muito pior: acabo me expondo.
Os olhos revelam por meio do brilho
O esforço que faço, mas não consigo
Minha vida fugiu, por inteiro, dos trilhos
Só existo em vida se for contigo.


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Homilia

Querer-te feito uma maluco
Não me deve fazer louco
Em tanto de pressionar
A ponto de te perder.
Ou de por em risco o amor
Que plantamos e cultivamos
Em cada gesto de carinho
Feito pássaro no ninho.
Assim vivemos o dia
A noite ou a madrugada
Eternos encanto e magia
Em oração, faço-te adorada.
Teu corpo é minha homilia
Cada gruta, minha morada
O que parece fantasia
Torna-te mais encantada.


segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Cheiro de fêmea

O vento norte que sopra
E balança a copa das árvores
Traz teu cheiro de fêmea
Apraz-me no íntimo das veias.
Deixo-me inundar pelas narinas
A cheirar-te em cada esquina
Dos mínimos limites do teu corpo
Que de sã me transformou em louco.
Teu gosto domou minha saliva
A alma se fez tua inteira
Em cada ponto da gengiva
TUDO em ti é o que mais cheira.


domingo, 26 de janeiro de 2014

Morangos e uvas

Adoro esse teu jeito
Assim, sem defeitos
Mesmo que os tenha:
não os vejo
Pela força do desejo.
Entrego-me ao teu cheiro
Sinto-te na ausência
Esteja de branco ou vermelho
Quero-te na essência.
Tirar o que resta de mim
Ainda inteiro em você
Você, a mim, deixa assim
Seduzido pelo teu querer.
Tens o corpo perfeito
Adoro as tuas curvas
Sorvo a seiva com jeito
Teus morangos e uvas.


sábado, 25 de janeiro de 2014

Em você

Meu sonho de felicidade
Só existe se for ao teu lado
Você minha amada sempre
Eu, pra sempre, teu namorado.
Não importa o tempo de ausência
Nem as cachoeiras de saudade
Em nós, a maior essência
É a certeza do amor em intensidade.
Que dure para a eternidade
Ou que a eternidade não tenha fim
Acima de tudo, na verdade
Importa em você, você em mim.


quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Promessa

Ao abrir a minha alma
E a ti entregar meu coração
Nunca pude imaginar
Sentir tamanha emoção.
Você, de mim, virou dona
Não tive como resistir
O coração, quando apaixona
Pouco importa o que está por vir.
Se resistia, mais me entregava
Ao me entregar, tornei-me teu
O que magoava, arranquei do peito
Em ti não vejo mais qualquer defeito.
Prometi e vou cumprir
Jamais te decepcionar
Enquanto vida existir
Quero, inteiro, te amar.


quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Fortaleza

Você pede que eu entenda
Teus medos, tuas incertezas
Para isso terei de me transformar
Em uma verdadeira fortaleza.
Para poder suportar
A profunda dor da frieza
Que o medo tende a provocar
Quando a insegurança é a certeza.
Sentir o frio de punhal ou bisturi
A expor a carne aqui e ali
Em complexas mostras de saudade
Compensadas por gotas de felicidade.


terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Rabiscos

No verso e no anverso
Da fina flor da tua pele
Rabisco com a língua
Caricaturas de uma realidade
Que, às vezes, nem parece real.
Dos contornos da tintura acre
Reconfiguram-se incolores sabores
Que explodem da alma e pingam
Mansamente
A escorrer como se nascessem naquela hora.
Repentinamente os gemidos são encobertos por um grito
Jatos de prazer perdem a força à medida que os contornos da minha face
São encobertos por lágrimas
A brotarem do teu corpo inerte
E redesenham em mim
O gosto que sugo de ti.


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Encenação

Se eu disser que não te quero
É pura encenação
A mais ninguém tanto venero
Vivo em adoração.
Confesso, até tento
Tirá-la do pensamento
Mas me vem o coração
E se apossa da minha razão.
Bombeia você pelo sangue
A oxigenar meu delírio
O desejo, então, se expande
Em tê-la sempre comigo.
E se enceno é porque não a tenho
O suficiente para o quanto desejo
Redobro as forças e o emprenho
Quer seja em sonho ou quando te vejo.


Persistência

Existe uma existência
Calcada na persistência
Na crença de um amor infinito
Sonho mais belo que bonito.
Traspassa qualquer entendimento
Firma-se apenas no momento
Nas divinas sensações
Dos encontros, das emoções.
Atiro-me nos braços imaginários
Do teu amor sempre irreal
Cenas em antigos relicários
Fantasias de um mundo real.
Criado pela nossa insistência
Feita de atos de demência
Para gozarmos fagulhas deste amor
E depois sentirmos, da saudade, a dor.


domingo, 19 de janeiro de 2014

Mal

Estou mal
Excessivamente abandonado
Tomado
Por uma decepção
Por uma desesperança que não se esvai.
Que os Deuses do encantamento
Enterrem esse momento
E me façam renascer
Mais inteiro
Pra você.


sábado, 18 de janeiro de 2014

Herança

Tenho muito medo
De amá-la em segredo
Para o todo e sempre da vida.
Causa-me torpor
Acostumar-me com este amor
Que se contenta com a despedida.
Não quero apenas viver de esperança
Tê-la, inteira, na lembrança
Como flashes de um filme ou novela.
Vicie-me no teu toque
No teu grito, no teu urro
Sem ti, assombra-me a morte
Por medo, às vezes, nem durmo.


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Perto

Mais importante que o toque
Que o abraço
Que o beijo
Que o desejo. É esta sensação de presença
TUA
Em tudo o que faço.
Mesmo quando troco ideias
No intenso e constante diálogo com a solidão.


quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Ousadia

O passo mais ousado de quem ama
É ter coragem de demonstrar
Em atos, a força do sentimento
Em fatos, toda a intensidade
E, em carinho, a infinitude do encantamento.


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Entregue

Sou um pouco de tudo o que nunca quis ser
Na tentativa de em ti me encontrar
De um ser que se deixou ser
Teu
Sem ser nem de si mesmo.
Por justamente entregue estar

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Obnubilado

Tenho um forte desejo a me perturbar
A tocar o infinito da minha consciência
É a vontade de arrancar tua roupa e te amar
Ainda que não seja na tua presença.
É algo que me perturba até na rua
Vejo-te nas esquinas, nos postes, nua
Inteira e completamente obnubilado
Com imagens de um futuro que nunca foi passado.
É como se o pensamento ficasse obscuro
Sem saber distinguir claro de escuro
Sonho e fantasia misturam-se com a realidade
Ainda que na presença, sinta mais saudade.
São deslumbramentos e ofuscações
Mil encantamentos, milhões de tesões
Incontáveis espantos, ondas de quimeras
Tê-la em meus braços em eternas primaveras.


segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Mais querer

Meu jeito de te desejar
Tem assim um mais querer
De querer mais e adorar
Com o perigo de não te ter.
Teu toque acende de novo
O que ontem nem existia
Um querer mais, de muito gozo
Supremos prazer e magia.
Da língua ao pé
Queremos mais
Tudo o que é
Pouco demais.
Teu corpo em mim
Eu no teu corpo
Um só, enfim
Em gozo rouco.


domingo, 12 de janeiro de 2014

Teus braços

Sinto uma dor profunda
A ficar ainda mais fecunda
Ao voltar para o teu lado
E ao teu lado não estar.
Teus braços seriam meu destino
Ainda que eu seja teu bebê, teu menino
Na prática eles não os são
És uma doce ilusão.
Na prática, não a tenho
E não posso
Dar vazão aos meus desejos
O máximo que faço, sem remorso
É roubar teus intensos beijos.
Isso é pouco quando se volta
De um tempo longe de casa
Não tê-la causa-me revolta
Teu braços, sonho que não passa.


sábado, 11 de janeiro de 2014

Horizonte

Vejo teu olhar ao longe
Uma brisa sopra
Toca
Suavemente
Teu rosto.
O mar.
O horizonte.
Ao longe.
Um arco-íris
Desenha as cores do nosso amor.


sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Com você

Durmo e acordo
Com você.
Deito e levanto
Com você.
Solto meu pranto
Canto e acalanto
É quase um espanto
Amor de tanto em tanto.
Desço e subo
E até me curvo
Claro e escuro
Amor sem expurgo.
Com você sou nada
Sem você sou tudo
Nada de sofrimento
Tudo de lamento.
Entro, saio, volto
Volto, saio, entro
Com você me solto
Em você, me prendo.


quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Alimento

Queria poder acordar
E dizer apenas "Eu te amo".
Seria mentir, dizer-te isso:
Se te amo mais todos os dias!
Muito além das minhas forças
E da capacidade de compreensão
Este amor em mim renova
Todas as formas de tesão.
Alimentas meus desejos
E a fome diária
Em homeopáticos beijos
E gotas imaginárias.
Que sorvo em goles com gula
A sentir a textura
Dos grandes e pequenos lábios
Alimentos da minha loucura.


quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Um dia

No início, nem sabia
Que por mim passarias
Como parte da minha vida,
Um dia.
Eras apenas alguém
Não diferente de ninguém
Sem nada muito além,
Um dia.
De repente, tudo muda
Quem apenas passava, fica
Toma-me e me desnuda,
Um dia.
Hoje ficas até quando vais
Quero-te sempre mais
Sem perdê-la, jamais
Um dia.


terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Fagocitose

Em milionésimos de segundos
Aprendi a te amar por osmose
Num átimo juntamos nossos mundos
Numa espécie de fagocitose.
Intensas reações químicas
Despertadas pelo cuidado
Por te querer proteger
Estar sempre ao teu lado.
Um amor em espelhose
Que não se contentou só em olhar
Passou todos os limites da exemplose
Para chegar ao tocar e gozar.
Engulo pequenas partículas
Que brotam dos teus minúsculos canais
Da nossa intensa osmose
Sorvo-te, além, em pinocitose.


segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Vivo ser

Quero não ter receio
De te falar o que sinto
E até o que nem sei
Se um dia sentirei.
Dizer de sentimentos mortos
Depois que inoculaste em mim o amor
Que jamais imaginei fosse sentir
Por qualquer vivo ser.
Pois vives a ser
TUDO em mim
Quando em ti estou
E em mim também estás.
Teu gozo é meu néctar
Do bom, do bem
Do estar bem
Magia, mágica do além.


domingo, 5 de janeiro de 2014

Vontade

Assumo que te quero mais
A cada dia que passa
Uma saudade me consome
A mim corrói e traspassa.
Cada veia deste coração
Que sente um frio punhal
A dilacerar-me dos pés à mão
Tua falta é descomunal.
Marcas imaginárias
Espalham-se pelo meu rosto
Como se fios de navalhas
Deixassem o sangue exposto.
Gotas espirram do corpo
De sangue, suor e saudade
Lembro de ti, e de longe gozo
Não diminui minha vontade.


sábado, 4 de janeiro de 2014

Gosto

Gosto
Daquele gosto sem gosto
Quando passas tua língua
Em meu rosto.
E desces pelo pescoço
A lamber os mamilos expostos.
Depois chegas ao umbigo
Solto apenas um gemido
Chego ao ápice do esforço
E deixo que sintas o meu gosto.