Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Lave

Que as incontidas lágrimas lavem
Este coração que por ti só love
Nem que eu tenha de tomar Engov
Nada entre nós será mais tão grave.
Quero me sentir mais leve
E não recorrer à Ambev
Nem a um coquetel Molotov
Para demonstrar o amor que me move.
O que dissermos não se escreve
Será marca de um tempo breve
Com desentendimentos nada se resolve
E a força do amor se remove.
Que a alma grave o que nos envolve
E o sentimento sempre se renove
Assim será Lei tudo o que se escreve
Nosso amor permanecerá puro feito neve.
E de tão forte ficará mais leve
Ainda que a situação continue grave
Nossa dor nenhum poema descreve
Venceremos, um a um, cada entrave.


domingo, 29 de setembro de 2013

Agonia

Conviver que a tua saudade
Suportar a tua ausência
É dor de maior idade
Quase leva-me à demência.
É parte de todo o meu dia
Essência do meu universo
Não te tenho, vivo a agonia
De não saber quando tocá-la, ao certo.
Durmo, acordo, durmo de novo
Estico a mão: só espaço vazio
Tu, razão de amor e gozo
Deixa-me assim: animal no cio.
Em sonho, exponho todo o meu desejo
Queria tanto, ao menos um beijo
Tenho apenas lençol amassado
Meu travesseiro é você ao meu lado.
A agonia de conviver com o vazio
Transforma-me em um bicho enjaulado
Até mensagens que a ti envio
Carregam a força de um desesperado.


sábado, 28 de setembro de 2013

Flerte

Adoro flertar com o perigo
Deixá-la inteiramente louca
Tirar o teu sono, roubar teu juízo
Sugar o teu ar, beijá-la na boca.
Fingir-se de morto, ser apenas amigo
Pra ti não ser nada em todos os sentidos
Domar teu espírito, ser tua saudade
E ser todo teu, na intimidade.
Pelo canto dos olhos, vê-la toda hora
Perder parte da alma, quando vais embora
Sentir solidão até quando viajas
A alegria só chega ao voltares pra casa.
Se não é pra minha, a mim pouco me importa
Vale tê-la por perto, até atrás da porta
Mesmo que não estejas, nem por um segundo
És, hoje, meu tudo, dona do meu mundo.


sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Ritmos

Quando nos falta a voz
Sobram os lençóis
A aninhar pássaros errantes
Que jamais assim se amaram antes.
Belas gaivotas, sanhaçus ou inhambus
Lilases sabores jambos
Encoberto corpos nus,
Dançam salsas, boleros e mambos.
Curvas e movimentos ágeis
Confundem-se com miragens
Nas entranhas da nossa agilidade
Semeamos os grãos de saudade.
Os ritmos físicos das almas
Abandonam os corpos suados
O pleno e intenso gozo acalma
Corações em amálgamas, grudados.


quinta-feira, 26 de setembro de 2013

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Entorpecido

Sem entorpecentes vivo entorpecido
Por um amor que me tira o juízo
Pelos teus gritos, urros e gemidos
Que parecem nunca haverem ocorrido.
É como se um filme fosse apenas criado
Por uma mente fora do normal
Vivo intenso e extremo prazer ao teu lado
Mas se abro os olhos parece irreal.
Milhões de fotogramas espalham-se
A menina dos olhos perdeu a inocência
Nossos corpos grudam-se, encaixam-se
Sinal claro da minha demência.
É um prazer intenso, inigualável
Múltiplos gozos intermináveis
Fico em estado deplorável
Nossos gozos são sonhos inimagináveis.


terça-feira, 24 de setembro de 2013

Completude

A loucura que é te querer
É querer e não poder estar
Estar e não poder amar
Amar e não poder te ter.
Tê-la e não poder vê-la
A hora que quiser tocá-la
Tocá-la sem sequer amá-la
Completa loucura se instala.
Real e irreal se misturam
Ternura, pura fantasia
Completo-me no teu corpo
Em urros de animal rouco.


domingo, 22 de setembro de 2013

Profunda

Minha saudade é profunda!
Quero teu abraço
Teu colo.
Teu calor.
Já não sei fazer rima.
Meu verso é uma descrição-poema
Ou um poema-descritivo
Daquilo que sinto, digo, não-digo, pressinto, escrevo, enlevo, a ti elevo o meu amor.


Perigo

Nada é mais perigoso para um amor tão intenso que não saber lidar com as dificuldades por ele gerada. Um amor no qual tudo parece inexplicável pode nos levar à insanidade e nos fazer perder o melhor dos focos: o da felicidade!


sábado, 21 de setembro de 2013

Cegueira

O maior e mais devastador dos erros de um ser humano é acreditar no sonho, na fantasia, quando, todos os dias, em cada atitude, em cada fato, a vida mostra que é, e sempre será real. Quando o amor é capaz de nos cegar, real e fantasia se confundem: a loucura está instalada!


sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Embaraço

Se a ti lanço os olhos
Ainda sinto um embaraço
Como se você entrasse em mim
Com os olhos, arrancasse um pedaço.
Não sei que magia é essa
Que me pira os sentidos
E me faz desejar sempre
Sussurrar ao teu ouvido.
Coisas que já disse por engano
Quando imaginava amar alguém
Tudo é diferente depois que te amo.
É como se o antes não existisse
E o depois jamais fosse chegar
Mesmo que chegue é mero filme
Que em mim teima em passar.
Tudo vira pesadelo
Se penso em te deixar
Vejo-te nua em pelo
Quando desejo te amar.
Nem fico embaraçado
Por te desejar em sonho
Sinto-me o homem mais amado
Quando meu amor a ti exponho.


quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Transpirar

Lindo e te comer com os olhos
Sentir teu gosto na língua
Transpirar teu gozo pelos poros
Com ânsia de quem vive à míngua
Teu cheiro forte de mulher
Mistura-se com meu cheiro de homem
Até quando não se quer
O desejo nos consome.
Por isso te sinto no ar
Mesmo quando você não está
Em ti estou ainda que não seja
A todo momento que eu te veja.
No suor que pinga por entre as narinas
E escorre nos lábios a me seduzir
Descubro cristais em tuas minas
Que em ti ficar e nunca mais sair.


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Desenhos

Olho pro céu
Estás nas nuvens
Como um desenho de giz.
Na placa espessa
És a modelo
Que no anúncio
Está em pelo.
Se fecho os olhos
A mim aparece
Até a marca
Da cirurgia
Que deu passagem
Pra duas vidas.
Hoje é minha vida
Que está em ti
Como se fosses
Parte de mim.
Quase miragem
Ou tatuagem
Contornos fitos
De nanquim.


terça-feira, 17 de setembro de 2013

Novenário

Entro pelo Skype
Vou direto ao Facebook
Nem de Personal Stylist
Consigo ver o teu look.
No ponta dos dedos as teclas
Touch Screnn do smartphone
Nem que use todas as mesclas
Consigo ver o teu nome.
Vejo-te nas ruas, em outdoors
Alucinadas imagens superpostas
Como se o real fosse Gounod
Avemarias, de joelhos, postas.
Bate o sentimento primário
Da saudade incontida
Ajoelhado rezo um novenário:
"Não saia da minha vida".
Em cada conta do rosário
Aperto um nó deste terço
Teu rosto é meu santo sudário
Nem de joelhos te esqueço.


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Irreal

Na TV meus filhos veem Rock In Rio
Na rede, sou animal no cio
A lembrar de cada momento
Que parece sair de um sonho.
Tudo o que acontece é tão irreal
Como se a fantasia fosse mais real
Que a realidade a nos tocar dia-a-dia
Quando o silêncio vira agonia.
A luz vermelha já não pisca
Nenhum sinal de SMS
Um dos aparelhos até vibra
Não é você, o coração padece.
Se estou contigo tudo é real
Quando te vais, fica a fantasia
Serei, eu, um louco total
Por te querer dia após dia?


domingo, 15 de setembro de 2013

Ser feliz

Posso ser feliz na dor
E também no amor
Só não posso ser feliz
Se contigo não estou.
Ser feliz é uma opção
Que não tem estado civil
Basta haver desejo e tesão
E que nenhum dos dois seja vil.
É preciso pensar no outro
Em quem conosco esteve
E nos amou feito louco
Mas nada a ele se deve.
A não ser respeito e carinho
De pai, amigo e irmão
Não se pode, porém, ficar no ninho
Por quem não se sente mais tesão.
Nem amor, muito menos desejo
Ou vontade de dar um beijo
Já te amei como nunca na vida
Hoje não passas de pessoa querida.
Optei por ser feliz
Deixá-lo não é o que quis
Mas a vida me deu novo amor
E feliz, quero ser, e vou.


sábado, 14 de setembro de 2013

Fantasia

Você tem tons de alegria
Sonhos e fantasia
Mas chega a realidade
E não passas de saudade.
Tens o dom de parecer
Que o nada é quase tudo
Quando vais embora, porém
Deixa-me completamente mudo.
Vejo-te a caminhar
Sem nem olhar para trás
Lágrimas regam o meu olhar
Um sonho que se esvai.
É como se o mundo acabasse
Na hora que você parte
O que há de fantasia e arte
Espero que nunca passe.


sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Fogaréu

Teu amor é como fogaréu
Um cometa a cruzar o céu
Da minha vida passou a tomar conta
Paixão que a cada dia desponta.
E me queima como fogo em brasa
Em todos os cantos da casa
Faz de mim teu prisioneiro
Todos os dias, pelo ano inteiro.
Entrego-me a ti com toda fúria
Para vencer até a injúria
De quem tentar nos separar.
Sou teu em tudo o que há de vida
Até na mais aberta ferida
Deixada pelo ato de te amar.
O que há de bom supera qualquer marca
Que a dor tente apagar em mim
Nosso amor, nunca, jamais passa
Não há quem faça chegar ao fim.


quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Apogeu

De tudo o que a vida me deu
Quase tudo se perdeu
Você, no entanto, apareceu
E começou o apogeu.
Horas e anos a fio
Fiquei que nem bicho no cio
A ruminar um amor que não vinha
Valorizar o que de bom eu tinha.
Este amor surgiu do nada
Como em um conto de fada
Hoje sou todo teu
E você tudo o que é meu.


quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Desavisado

Ninguém abriu meus olhos
Nem me fechou os poros
Para as travessuras
Que a vida nos aplica.
E mais bonita fica
Quando tudo era calmaria
E você jamais aposta
Que algo mudaria.
Salta lá das historinhas
Das novelas de época
Um bichinho atrevido
Que chamam de cupido.
Sem que você consiga
Esboçar reação
Enterra lá no fundo
No sangue do seu mundo
A flexa da paixão.
Já perto dos cinquenta
Você desorienta
Ela não te sai da mente
Você vira adolescente.
Mas tenta resistir
Ao que jamais sentiu
Pode até arrancar a flexa
Mas, quando viu, já se feriu!


terça-feira, 10 de setembro de 2013

Morpheu atrevido

Tuas palavras
Escritas ou no ouvido
São como os braços
De um Morpheu atrevido.
Que chega
E mansamente se apodera de mim
Sem que eu consiga, dominar, enfim
As pálpebras que se fecham em sono profundo.
Tua voz acalma e tranquiliza
Teus escritos entorpecem
Tua presença eterniza.
Essa impressionante sintonia
Que mais parecia uma sinfonia
Construída e tocada a quatro mãos
Antes, soporificamente adormecida
Hoje, razão de nossas vidas.


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Encanto e calma

Teu sorriso me encanta e me acalma
É como néctar para a alma
Leves nuvens de amor.
Flocos de desejos que se formam
Dos nossos cheiros íntimos e suores
Fortes fontes que brotam
Do teu manancial mais proibido
E jorram em tímidas gotas amarelas
Ao invadirem minhas narinas
Com a inconfundível marca feminina
Que é só natural e tua.
Marcante cheiro de mulher que me alucina
Úmida gruta do prazer de onde mina
Indescritíveis gotas do teu líquido natural
Fonte do meu prazer irracional.
Bebo cada gora que de ti sai
Ao morder tua intimidade ouço um "ái"
Que se transforma em um grito lancinante
Entorpecido, amo-te, mais que antes.


domingo, 8 de setembro de 2013

Riscos

A razão diz vai embora
O coração manda ficar
A paixão me faz inteiro teu
O tesão meu corpo estremeceu.
Estar na tua vida é um risco
De não poder tê-la pra sempre
Deixá-la mata-me antes
Ficar é ideia fixa na mente.
Se não ti tenho o dia inteiro
Amo-te a cada segundo
Entrei em ti em janeiro
Hoje és o meu mundo.


sábado, 7 de setembro de 2013

Devaneios

Encostar na tua pele
Ainda que imaginária
É como deslizar na neve
Loucura revolucionária.
De quem acredita em tudo
Até nos próprios devaneios
O maior milagre do mundo
É poder tocar teus seios.
E tê-la materializada
Tirada de sonhos e fantasias
Transformá-la em amada
Motivo das minhas alegrias.
Eleita no fundo da mente
Para estar sempre presente
Em cada segundo da vida
Com uma loucura desmedida.


sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Cometa

Rápido como um feixe
Difícil é que eu te deixe
Por mais que assim não pareça
Fazes com que eu não te esqueça.
Tua saudade é sem fim
Jamais esquecerei de ti
Promessas feitas aqui
Trazem você a mim.
Gozamos tanto que foi um espanto
Aquele cheiro forte a subir
E se tornou a razão do encanto
Que até hoje mantenho por ti.
Teu cheiro entrava pelas narinas
E te fazias mais feminina
Tudo tão veloz e gostoso
Que passei do sólido para o gozoso.



quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Desencontro das águas

Somos Solimões e Rio Negro
Quando vais, eu chego
Se chego já fostes embora.
Nossos temperamentos
São como água e vento
Qualquer desentendimento:
Lá se vem um temporal.
E se o vento sopra mais forte
A água faz corredeira
Arrasa por onde passa
Destrói convicções inteiras.
Águas não precisam se juntar
Bastam apenas se tocar
Para o furacão ficar calmaria.
Por isso não somos perfeitos
Mas cada um do seu jeito
Emerge do temporal
Mais fértil do que o antes normal.