Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Sobrevivência


Há que se resistir
Ao que não há de vir
Porque é da resistência
Que resta a sobrevivência.
Deste amor quase proibido
Ainda que tenha resistido
A todas as intercorrências
Às temporárias desistências.
Por isso ainda sobrevivo
Mesmo sem estar contigo
Fica esta inconstância
Imposta pela distância.
O último poema do ano
Deixa-me quase insano
De tanta falta que sinto
Sobrevivo e não minto.
Chego a me tocar
Para poder te amar
E é desta minha insistência
Que fica a sobrevivência.


domingo, 30 de dezembro de 2018

Natural


Bem-ti-vis a cantar
Tocam corpo e alma
Regozijos a bailar
Voos rasos, calma.
Para de te relembrar
Momentos marcantes
Quisera pode te tocar
Como tocara antes.
Daquele modo natural
Quase fenomenal
De se fazer sentir
Quando não estás aqui.
Ficas no pensamento
Quase todo momento
A regar o meu desejo:
Saudade dos teus beijos.


sábado, 29 de dezembro de 2018

Forte


Renascemos todos os dias
Enquanto vida houver
Até nas noites mais frias
Há de haver o querer.
Quereres são renovados
Ainda que acalmados
Pelos anos de solidão
Vividos na ilusão.
Somos o que imaginamos
Sempre o que planejamos
Somos, porém, mais ainda
O que decidimos para a vida.
E que assim o seja sempre
Da vida até nosso ventre
O que surgiu não morre
Se o sentimento é forte.