Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O grande vigia (Final)

- Ucê fala issu pruquê num tava lá. Duvidu qui umenus tu olhassi pru bichu?
- Deixa de conversa e conta logo.
- A curiosidadi foi maió quiu medu. Ajuntei minhas úrtimas força e taquei o focu da lanterna bem nu lucal ondi o fogo batia n’água. Num maginã o qui vi.
- Diz logo. Deixa de suspense.
- Era uma cutia. Ela curria pra beira du lagu e se jogava n’água toda vez qui num auentava mai ruer o uriço de castanha. Quandu os denti instavaum im brasa, ela corria pru lagu, esfriava os denti e vortava para ruer mai. Toda vez qui ela batia cuns denti n’água, a nuve de fumaça subia e u barruiu de ferru quenti batenu n’água fria ecuava pela floresta.
- Isso é verdade Jandiro?!
- Foi o maió medu que passei im toda minha vida - respondeu ele com um ar de seriedade que não convencia a ninguém.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O grande vigia (Segunda parte)

- Rapaz, um dia saí pra caçar. Perto dum lago, ouvi um chiado instranhu. Parecia uma caçarola quente quando bate n’água. Me abaixei e fui assim, um pé aqui um pé acolá (Ele se abaixava e repetia os gestos como se estivesse vivenciando a história). Num dexei nem que us pés tocasse n’uma fôia seca. Quis vê o qui se se assucedia. Dexei o revólvi im puntu de bala. Num liguei a lanterna pra num ispantar a caça. Zás.... Vejo passar uma luz vermeia que nem raiu. Rápida qui nem bala, nu rumo do lagu. Escutu de novu aqueli baruiu. Um raio da lua inlumina adondi o fogu tinha sumidu e veju uma fumacinha subino.
- Vamos lá Jandiro. Deixa de fazer mistério. Conta logo o que era?
- Cauma genti. Tainha um poucu de pacênça. Ôces num imaginu o qué qui eu sinti naquela ura. Num tive coragi de acendê a lantcherna. Cumecei a me alembrá das istórias dus nossus amigus caçadoris. Intonce axei qui era argum mistéru da floresta. Im cada veiz qui o raiu de fogu passhava, eu trimia mais qui vara verdi. Já tchava morrenu di medchu. U diachu daqueli raiu só vinha du ladu du meu ôiu isquerdu, murria no ladu direitu do ôiu, dchentru du lagu, quandu a fumacha subia. Deu um friu disgramadu na boca do instomagu. Já num dominava mai meus denti. Quis gritá, num cunsegui. Só vi aqueli fogu passá, uvia um barruiu di ferru quenti im água fria u fumaceru subi.
- Mas Jandiro, você não teve coragem de ligar a lanterna para ver o que era? Como é que tu és vigia se tiveste medo de um bichinho qualquer?

O grande vigia (Primeira parte)

No verão, quando carros vindos de todos os pontos do Estado podiam circular livremente por Sena Madureira, resolvemos tomar uma daquelas providências que só se tomar em cidade grande: contratar um vigia. Os moradores da rua Duque de Caxias e da Avenida Avelino Chaves fizeram uma cota para pagar um homem que zelasse pelo sono das famílias, que, por volta dos anos 70, já se consideravam moradores de cidade grande.
Não foi fácil encontrar o homem certo. Apareceram muitos candidatos, mas nenhum preenchia os requisito exigidos por todos os moradores. Jandiro, um pernambucano meio atarracado e de precisão espantosa com o revólver 38 cano curto, parecia ser o homem ideal. Diziam que ele havia participado do bando de Lampião. Sorriso amarelo, ele não desmentia nem confirmava. Em pouco tempo, todos descobriram que Jandiro tinha mais habilidade para contar suas caçadas do que com a arma em punho. A vizinha se reunia na frente da casa do Eugênio, que ficava bem na esquina da Avelino Chaves com a Duque de Caxias, para ouvir Jandiro narrar suas aventuras.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Teimosia (Final)

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Domingo seguinte, o padre, na maior calma do mundo, celebra uma missa tranqüila, sem ter que anunciar nenhum casamento. De repente, o homenzinho das missas anteriores, nas carreiras, entra na igreja. Aos gritos, chama a atenção de todo o mundo.
- Eu lhe avisei que aquele casamento não iria dar certo. Os dois já se separaram. Culpa da sua teimosia. Nunca vi um padre tão cabeça-dura?
- Vá encher o saco de outro, seu baixinho atrevido. Como é que vens desacatar um padre em plena missa? Que o diabo te carregue!
O homenzinho saiu da igreja todo alegre. Tinha provado ao padre quem estava certo. Ninguém quis assistir o restante da missa. O padre? Até hoje tenta arranjar uma vaga para o baixinho, no inferno.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Teimosia (Segunda parte)

- O noivo tá desempregado. A noiva também não tem onde cair morta. O que eles têm muito é ódio: uma família da outra. Se essa casamento se realizar, não dura nem um mês.
- Já lhe disse que isso não é motivo para que o casamento não se realize.
- Depois não me venha dizer que eu não avisei.
Uma semana se passou.
- Padre...
- Vamos lá rapaz, me dê logo um motivo justo para que eu não realize esse casamento?
- Além de desempregados, resolveram que vão morar uma semana com os pais da noiva e a outra semana com os pais do noivo. Isso não vai dar certo. As duas famílias são inimigas ferrenhas. É casar num dia e separar no outro. O pai de um vai querer matar o filho do outro.
**********
Igreja enfeitada. Famílias nada contentes. Noivos risonhos e com ar de felicidade. Na hora do sim, o mesmo homenzinho dos domingos anteriores berra:
- Eu lhe avisei padre. Não vai dar certo. É casar hoje e separar amanhã.
Alguns dos presentes, que só aparecem na Igreja em dia de casamento, ficaram cochichando. Não sabia do que se tratava mas gostaram de ter mais um motivo para as fofocas. Sério, o padre continuou a cerimônia. Deu a benção aos noivos e às alianças. Que visse os olhares trocados pelos noivos imaginaria que aquela era um união maior que o ódio entre as duas famílias. Pelo jeito, era casamento para durar até que a morte os separasse.

sábado, 25 de setembro de 2010

Teimosia (Primeira parte)

- Pretendem se casar, João Raimundo da Silva e Clarice dos Santos Azevedo. Se alguém tiver algo que possa tornar essa união sem efeito, diga agora ou cale-se para sempre.
- Eu tenho, padre.
- Então diga logo meu filho.
- Conheço bem as duas famílias. São inimigas. Se esse casamento se consumar, logo vai ter fim. Por isso, é melhor não casá-los.
- Mas meu filho, isso não é motivo para que eu não case os dois jovens. Eles se amam e isso é o que basta.
- Depois o senhor não diz que eu não avisei.
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Novo domingo. Nova missa, a mesma história.
- Pretendem se casar, João Raimundo da Silva e Clarice dos Santos Azevedo. Se alguém souber de algo que possa tornar esse casamento sem efeito, que fale agora ou cale-se para sempre.
- Padre...
- Você de novo? O que é agora?

O preconceituoso (Final)

- Logo estarei com o meu Deus. Ele não me castigará. Tenho certeza de que ele também detesta negros.
À medida que falava, a respiração do Dr. Branco rareava. Antes do último suspiro, ele ainda teve forças para dizer:
- O... o... o... odeio negros.
Como bom cristão, comecei a orar para a alma daquele desgraçado. De repente, tive uma visão do caminho percorrido pela alma do Dr. Branco. Ela vagueia, vagueia e sobe lentamente. À sua frente, uma porta imensa ostenta a placa “CÉU”. Dr. Branco (digo, sua alma) nem pestaneja.
- Abram, quero entrar, deixei aquela vida. Aquela terra de pretos. Agora só quero viver para o meu Deus.
Num piscar de olhos, a porta se abre. Na frente do Dr. Branco aparece um ser negro, cuja estatura não dá para se imaginar.
- Que fazes aqui?
A voz e a forma autoritária com que o negro falou, não deixou dúvidas em Dr. Branco: tratava-se do porteiro do céu.
- Afasta-te de mim, preto sujo. Quero falar com o meu Deus.
- Pois bem, eu sou o teu Deus.
- Cruz credo, figa, pé-de-pato. Bati na porta errada. Isso não é o céu. Fui enganado. Botaram aquela placa ali para me confundir. Eu que passei a vida inteira odiando os negros, chego no céu e meu Deus também é um deles.
Dr. Branco saiu em disparada, sem saber para aonde ir. Deve estar vagando até hoje, à procura do seu Deus branco.
Não consegui conter o riso. Saí do hospital com a cara mais feliz do mundo. Os enfermeiros, que me viram iniciar as orações, não entendiam nada. Como eu poderia estar com aquela cara de felicidade, se há poucos minutos, um homem tinha morrido conversando comigo?

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O preconceituoso (Segunda parte)

- Aqui quem faz as leis sou eu. Que eles acertem o caminho do inferno primeiro que eu. E que levem também todos os seus filhos.
- Não é uma posição muito radical.
- Ninguém sabe o porquê desse meu ódio. A minha raiva vai durar até a morte e se prolongará por toda a eternidade.
Aquilo não era só preconceito. Era ódio mortal. Agradeci a “entrevista” e fui embora espalhar a novidade, através do meu “jornal oral”. Espalhava a notícia e, ao mesmo tempo, ficava pensativo, tentando entender a razão para tanto ódio. O povo tinha sido até gentil nos comentários sobre o Dr. Branco. Ele era um animal feroz. Um cão. Um nazista.
Certo dia, soube que o advogado estava prostrado em uma cama do Hospital João Câncio Fernandes. Decidi fazer nova entrevista para saber se o homem tinha mudado de opinião, pois os médicos já haviam carimbado o passaporte dele para o além. Sem usar qualquer artimanha, dada a falta de fiscalização nos hospitais das cidades interioranas, fui direto ao quarto. Aproximei-me do leito daquele homem desenganado.
- Olá Dr. Tudo bem?
- Qual nada moço. Desta vez eu vou. Enfim, vou poder conversar com o meu Deus.
- Não era hora de o senhor mudar de opinião sobre os negros?
- Não me fales tal palavra. Estou à morte e quero morrer feliz.
- O senhor não tem medo de receber um castigo divino?

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O preconceituoso (Primeira parte)

“Entre sem bater”
Era aplaca em letras grandes, na porta do escritório do Dr. Branco, o único advogado de Sena Madureira, lá pelos idos dos anos sessenta. Em letras menores, só vistas por quem se aproximava da porta, lia-se: “É terminantemente proibida a entrada de negros ou mulatos”.
Quando ainda não existia o crime de preconceito racial e social, Dr. Branco era mais comentado na cidade em razão da segunda placa do que das suas atuações, pífias, numa cidade onde, quase sempre, as pendengas, também mínimas, erram resolvidas na porrada.
- Bom dia Dr. Como o senhor tem passado?
- Estou bem. Diga logo o que veio fazer aqui.
Dr. Branco não gostava muito de mim. Sabia que eu era um dos que o criticavam pela cidade. Metido a repórter, desde garoto, fui entrevistá-lo. Tinha lá meus 13 anos.
- Dr. dizem que o senhor não gosta de preto, isso é verdade?
- Não gosto, aliás, odeio esta raça.
- Mas Dr. (ele adorava esse Dr.) nós somos ou não somos iguais perante a lei?

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A festa (Final)

- Juvenal ouve gemidos. Fica vermelho de raiva. Tira a peixeira da bota. Segue o som dos gemidos. Avista sua filha amada, que ele considerava uma pombinha inocente, atracada com o namorado.
Frio. Calculando cada passo para não chamar a atenção, Juvenal se aproxima dos dois, com a faca na mão. Quando Antônio prepara-se para penetrar sua filhinha, o velho seguro mastro do condenado com toda a delicadeza do mundo, como se tivesse outras experiências no assunto. Ao mesmo tempo, encosta a faca juntinho dos testículos de Antônio. Só com o frio do aço, Antônio percebeu que a mão que segurava seu pênis não era Luzia que o ajeitava para a penetração. Sem saber o que fazer, sente um frio percorrer todo o corpo ao ouvir:
- Condenado. Nunca mais irás abusar da filha de nenhum outro homem honesto.
O velho abaixou-se por trás de Antônio com o intuito de consumar a capação, fato comum por aquelas bandas, quando um homem era pego com a filha de outro. Verde de medo, Antônio não conseguiu conter o jato de merda, que foi de encontro à cara do velho Juvenal. Todo com aquela sujeira na cara, o velho solta imediatamente o mastro de Antônio. Esse aproveita o descuido e sai numa disparada, mata a dentro.
Com a cara toda suja, Juvenal chega em casa esquivando-se para que ninguém o veja. Luzia trata de pôr a roupa e voltar para a festa como se nada tivesse acontecido. Antônio, deve estar correndo até hoje, sem entender como foi salvo, justamente por uma rajada daquelas. Literalmente, escapou fedendo. De cara lavada, Juvenal volta para a festa, capiongo, sem contar nada a ninguém. Pobre pai vingador. Logo tem que fingir alegria, para que ninguém perceba a verdade.

A festa (Segunda parte)

- Nêga, tu não viu a Luzia?
- Não sinhô, seo Juvenal.
- Maria, cadê o Antônio. Adonde ele foi com a minha filhinha?
- Acho que eles foram dar uma olhada na lua. Ela está tão bonita!
O velho perguntou de um e de outro. Ninguém dava notícias da dona da festa. Desconfiado, resolve fazer uma busca no quintal.
- An... to... niooooooooooo.
- Luzia deixa que eu te faça mulher agora?!
Luzia já estava perto do gozo, apenas com os carinhos do namorado. Ela ainda não tinha se submetido a tão demorados momentos de carícias, estava sem forças para resistir aos anseios da carne.
Em meio aos gemidos e afagos, vão se despindo e preparam-se para a batalha do sexo. Os raios da lua varavam a copa das árvores e atingiam o rosto ardente de Luzia. Era um momento sublime para aqueles dois jovens apaixonados.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A Festa (Primeira parte)

Luzia completava 18 anos. Tudo era alegria na casa daquele pai, um próspero criador de gado. Tinha a menina como seu maior troféu. Só namorava com ele por perto.
Justamente naquele dia, quando a música estava a todo vapor, o velho procura sua jóia e não a encontra. A pombinha estava, com o namorado, embaixo de umas árvores frondosas.
- Luzia, eu te amo!
As mãos de Antônio não paravam. Enquanto jurava amor, percorria o corpo da garota, que só balbuciava.
- Pa... pa... para com isso Antônio, papai pode ver a gente e não sei que será de nós.
Os dois nem respiravam, resfolegavam. Cada toque de Antônio naquela corpo virgem fazia com que a moça soltasse gemidos de prazer.

sábado, 18 de setembro de 2010

Assepsia nada convencional (Final)

Pé ante pé, foram os dois, João e o Comandante, procurando não fazer barulho para não incomodar o seringueiro e sua família. Só deu tempo de descer as escadas. João, que vinha por último, ao colocar o pé no último degrau da escada, sentiu uns salpicos de merda. Não conseguiu segurar mais nada. Melou metade do degrau com aquele jato.Lá pela meia-noite, Paulo Guedes, que havia se vangloriado de ser acostumado a comer castanha, também passou a fazer parte do grupo que, nem bem entrava na rede, era obrigado a voltar para o terreiro. De madrugada, nenhum deles podia nem levantar as calças. A merda estava saindo solta.No outro dia, o velho seringueiro levantou-se, sentiu um cheiro estranho e foi logo procurar seus hóspedes. Eles não estavam nas redes. O velho foi para o quintal e os viu, cabisbaixos, com as calças arriadas, sem terem como explicar tanta merda. Estavam pálidos. Mais pelo medo da reação do velho do que pela diarréia.- Meus fios, u qui foi isso?- Se..... se... Senhor! Cho... cho... cho... choveu merda.- Cumé qui chovi merda e só móia u terreiru?- Sim ... sim... sim... sinhô - gaguejou, de novo, João, apertando a barriga que voltava a doer - num sei não!
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Assepsia nada convencional (Sexta parte)

Nos seringais do Acre é assim. As pessoas são criadas ao leite da castanha. Quando largam o peito, as crianças passam a tomar leite de castanha. O café com leite de castanha. Mas, quem passa a morar na cidade, perde esse hábito alimentar.
O velho e os três passaram a tarde conversando. Como é tradição no seringal, as mulheres nem aparecem. Só para servir o café, quando os maridos pedem, depois somem. Os quatro falaram sobre a queda do avião, sobre a morte (não teria sido apenas um desmaio?) da onça. O velho seringueiro se divertiu a tarde inteira, principalmente com as piadas e as músicas do Paulo Guedes. O seringueiro quis saber detalhes da vida do músico, que não se fez de rogado e multiplicou  por dez cada um dos seus feitos.
Por volta das cinco horas, os três foram ao garapé, tomaram banho e voltaram. Ao chegarem, estava pronto um café bem quentinho, com leite de castanha e uma broas de milho. Tomaram o café e, cada um, mais duas canecas, daquelas de alumínio, de leite de castanha. Foram dormir cedo. O seringueiro havia mandado preparar três redes, na varanda da casa, e deixado pronta para eles dormirem. Por volta das 9 horas da noite, o comandante começou a se mexer na rede.
- Músico (era como ele chamada o Paulo Guedes), músico. Estou com uma dor de barriga dos cacetes.
- É o efeito das castanhas. Vocês não estavam acostumados.
- Ái, ái, ái, ái, ááááiiiiiii, minha barriga - balbuciou o João, do outro lado.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Assepsia nada convencional (Quinta parte)

- U sinhô dissi qui tocô im Ru Brancu?
- Foi!
- Cumé seo nomi?
- Paulo Guedes.
- Uvimu falá munto do sinhô na rádio.
Orgulhoso do sucesso, o músico pediu:
- O senhor não tem nada que a gente possa comer?
Perdidos na mata, eles não tinham noção das horas. Chegaram na casa do seringueiro por volta de duas horas da tarde.
- Num tem mai nada não? Só uma sobra de feijão no leite da castanha.
- Serve.
Um olhou para o meio desconfiado. Já haviam comido castanhas duas vezes. Aquela história podia não terminar muito bem. Apesar da hospitalidade, o homem olhava meio desconfiado para o três. Ficou mais encafifado com aquela troca de olhares, mas resolveu deixá-los entrar.
- Vamu, homis di Deus. Ocês devi di istar cum fomi. A casa é di ôcês.
Os três entraram e foram direto para a panela de feijão. Não deixaram nenhum caroço e nenhuma gota do caldo de leite de castanha. Aproveitaram para comer umas apetitosas castanhas que estavam descascadas, como sobremesa.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Assepsia nada convencional (Quarta parte)

Com o dia amanhecendo, saem em busca de um varadouro que levasse a algum local habitado. Paulo Guedes tinha parado de tocar.
De repente, uma onça pintada pula na frente dos três. O músico não se faz de rogado. Põe o sax na boca e tasca as notas de “Mamãe eu quero”. A onça, atordoada, entra no ritmo da marcha. Em pouco tempo, requebrava mais do que a Carmen Miranda dançando “Taí”.
Quando a onça atingiu o pico da animação, o saxofonista sacou do bolso o vidro de lança-perfume, encostou o vidro no focinho da onça e fez com que ela cheirasse até a última gota. A onça soltou um esturro e caiu fulminada.
***********
Não quiseram esperar para ver se a onça estava morta ou não. Seguiram em frente, andando mais rápido. O comandante havia lavado os ferimentos do rosto. A receita do mijo funcionou. Não demorou, avistaram uma casa de paxiúba, coberta de palha.
- Ô de casa! Somos de paz. Por favor, ajude a nós - disse o João.
Na porta da frente apareceu um cabôco. Cara enrugada, marcada pela idade.
- U qué qui ucês ton fazenu aqui?
O músico falou pelos três.
- Toquei uma festa em Rio Branco. Pegamos o teco-teco para Sena. O bicho caiu no meio do caminho.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Assepia nada convencional (Terceira parte)

- Ah...ááááááááááááááiiiiiiiiiiiiiiiiiii.
- Comandante, o senhor não disse para eu mijar?
- Ora porra, tu queria que eu não gritasse? Isso arde pra caralho.
Com o grito do piloto, João acordou do desmaio. Naquele momento, estava tendo um pesadelo e pensava que eram o grito eram diabinhos que o carregavam para o inferno. Quando abriu os olhos, gritou:
- Valei-me nossa senhora! O que é isso?!
O músico botava o “instrumento” para dentro da calça e o comandante balançava a cabeça, tentando se livrar dos respingos de mijo.
**********
Não tinha como saber o local exato do acidente. O comandante juntou os pedaços do mapa de navegação, fez uma contas e disse:
- Vamos em direção ao Norte. Logo encontraremos alguém.
O músico voltou a tocar seu sax. As notas das marchas carnavalescas ecoavam pela floresta. Era um forma de espantar qualquer animal feroz que pudesse se aproximar. Em pouco tempo de caminhada, encontraram um paiol cheio de castanhas-do-pará. Famintos, passaram a quebrar as castanhas no dente. Comeram até topar com o dedo.
O paiol era sinal de que havia gente por perto. Mas era muito tarde e eles resolveram dormir ali mesmo. O cansaço, após o acidente, não impediu o músico de tocar “Saxofone porque choras”, sua música preferida, antes de dormir.
Acordam ainda de madrugada. Quebram o jejum com castanhas. Comem até não querer mais.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Assepsia nada convencional (Segunda parte)

João e Paulo Guedes trataram de apertar o cinto e se segurar.

O teco-teco quebrou alguns galhos de árvores e foi se acomodando no meio da mata, como se fosse a pena de alguma ave, num daqueles milagres que só os santos protetores dos bêbados conseguem explicar. Só o piloto saiu com o rosto todo arrebentado, nada grave é claro, pelos galhos que arrancaram o vidro dianteiro do avião.
João, mesmo bêbado, desmaiou de medo. Com o rosto ensangüentado, o comandante ordenou:
- Paulo Guedes, dá uma mijada na minha cara!
- O quê, comandante? O senhor está louco?
- Deixa de conversa rapaz, mija logo. Tenho que desinfetar essa ferida. Se não, pode virar coisa pior.
- Mas comandante - disse Paulo começando a rir - o senhor não vai querer dizer por aí que foi salvo por uma mijada? Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Paulo Guedes não perdia uma chance de soltar uma risada que, como numa embolada, se transformava em gargalhada.
O comandante achava que a urina, misturada com todo o álcool que o músico havia tomado, servia como proteção.
- Vamos logo rapaz, eu ainda sou o comandante.
- Já que o senhor insiste.
O músico não se fez de rogado. Abriu a braguilha, botou o pênis para fora e mijou na cara do piloto.

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Assepsia nada convencional (Primeira parte)

Paulo Guedes havia sido convidado para tocar a festa do sábado de Carnaval, em Rio Branco. Famoso pela habilidade com o saxofone, fez grande sucesso. Choveram convites para novas festas na capital. Mas Paulo Guedes tinha um compromisso moral com a festa de terça-feira, em Sena Madureira, que já se tornara famosa em todo o Estado. Não aceitou nenhum convite. Voltou para Sena no primeiro monomotor.
O piloto, Paulo Guedes e mais um amigo. O teco-teco levantou vôo e saiu batendo palheta: téc, téc, téc, téc, téc, téc.
Às no saxofone, Paulo Guedes também faz juz à fama de pingunço. Além do sax, viajava sempre com todos os acessórios necessário a uma boa talagada. Começou a tomar umas e outras no início da viagem e nem ligou quando o piloto avisou:
- Estamos sem combustível! Vamos cair!
- Pois vamos, companheiro. Vamos sair logo?!
Por alguns segundos, o avião sobrevoou a floresta. O músico aproveitou para pegar o sax e tocar a famosa “Ái, ái, ái, ái, ái.....Tá chegando a hora....!” ironizando aquele que seria seu último carnaval.
- Agora vamos bater nas árvores.

domingo, 12 de setembro de 2010

Corina, a máquina dançarina (Final)

- Bem, como eu disse, antes era pior para mim. Meu corpo inteiro ficava em brasa. Hoje, só meu fundo, que eu chamado de pranchinha de surf, esquenta. Tenho botões que regulam a temperatura para mais ou para menos, dependendo da roupa a ser passada. Com o tempo, também fiquei mais leve. Ainda tenho um tanquinho para pôr água e ajudar a alisar melhor as roupas. Com tudo isso, meu sofrimento diminuiu. Porém, você não pode pôr a mão em mim porque a minha temperatura é alta, justamente porque serve para alisar as roupas. Na pele dos seres humanos, provoca queimaduras. Não posso surfar na pele das pessoas. Isso só acontece por acidente e quando meninos teimosos desobedecem as mães.
- Então você se vingou?!
- Não meu amiguinho. Agora posso te chamar assim?
- Pode.
- Pois bem. Quando a mãe da gente diz para não fazer uma coisa, ela não pensa só em proibir. Quero o seu bem. Quando ela disse pra você não pôr a mão em mim, ela sabia que você se queimaria.
- Eu só queria te conhecer melhor.
- Você terminou conhecendo do modo mais doloroso. Mas serei sempre seu amigo. Só que você também tem que aprender a ser um bom amigo, de longe. Vai chegar um tempo que você não poderá ficar sempre perto dos seus amigos, nem pegá-los. Ainda assim, não deve esquecê-los nem deixar de ser amigo deles. Agora vai que sua mãe tá chegando.
- O que foi isso meu filho?!
- Ahhh! Ahhh! Ahhh! Ahhh!
Cheio de dengo, Felipe mostrava a ponta do dedo indicador, já vermelha. Nem precisou ouvir o que a mãe tinha para dizer. Já sabia que havia errado. Enfim, Felipe soube que desobedecer é feio e perigoso.

sábado, 11 de setembro de 2010

Corina, a máquina dançarina (Quinta parte)

- Canto daquele jeito para alegrar um pouco mais a minha vida. Quando vi aqueles surfistas na televisão, encontrei uma forma de preencher o vazio que era a minha existência. Você já pensou no tanto de força que a sua mãe faria se eu não deslizasse nas roupas que nem um surfista?
- Ora, mas você me queimou...
- Já disse que não sou brinquedo de crianças. Minha missão é ajudar as mães a deixarem as roupas das crianças bem bonitas. Lisinhas e macias.
- Por que você é tão quente?
- Porque só assim as roupas ficam mais esticadas. Meu calor é tanto que ajudo os fios das roupas a relaxarem, a ficarem mais alongados. Assim, a roupa fica mais lisa.
- E de onde vem sua energia?
- Hoje, da rede elétrica. Mas nem sempre foi assim. No tempo da sua avó, eu era feito de ferro e tinha um buraco no meio. Assim como se fosse uma barriga. Sua avó levantava a tampa e me enchia de carvão. Depois botava fogo. Eu ficava com corpo inteiro em brasa. No entanto, eu pesava muito.
- Você não se queimava?
- Era um calor infernal. Principalmente quando, ao invés de carvão, sua avó botava aqueles coquinhos do mato e tascava fogo. A pressão deles é maior do que a do carvão. Eu quase morria. Agora ficou tudo melhor.
- Melhor como, se a ponta do meu dedinho está vermelha?!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Corina, a máquina dançarina (quarta parte)

- Calma amiguinho....

- Não me chame de amiguinho. Você é um ferro velho malvado.
- Não sou ferro velho não. E se você tivesse ouvido sua mãe, não teria se queimado.
- Você é um malvado. Não quero mais conversa com você.
- Tenha calma menino. Ouça-me!
- Tá bom, mas não me chame de amiguinho que meu dedo ainda está doendo.
- Ora, quando alguém vai pegar em mim, não posso correr. Só queimo uma pessoa por acidente.
- Como acidente?! Eu quis apenas me apresentar, pegar na sua mão, como todo mundo faz quando não conhece o outro.
- Mas eu não tenho mão. Minha mão é meu cabo. Se alguém pegar na minha pranchinha de surf, vai se queimar.
- Pranchinha de surf?!
- É. Eu chamo meu fundo de pranchinha de surf. Com ela, deslizo pelas ondas das roupas e ajuda sua mãe a esticá-las. Sem mim todos vocês andariam com as roupas amassadas.
- Eu andaria amassado mas não teria meu dedinho queimado.
- Deixe de ressentimentos. Você só se queimou porque desobedeceu a sua mãe. Eu não sou brinquedo de crianças.
- Não é?! E como você canta tão bonito. Você pensa que eu não ouço!?
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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Corina, a máquina dançarina (terceira parte)

- Não meu filho. Esse não é um dos seus brinquedinhos. Você não pode por a mão nele. Ele só serve para passar as roupas. Ninguém pode pegar no fundo dele. Se não fica todo queimado.



Felipe não entendeu nada do que a mãe disse. Mas procurou fazer de conta que tinha entendido tudo. O que ele queria, na verdade, era um descuido da mãe, para botar a mão no ferro. Enquanto isso, ela passava Corisco pelas roupas e ele cantava - Vuuum, vuuum, vuuum, vá, vá, vá. Vuuum, vuuum, vuuum, vá, vá, vá. Vou deslizando a sua roupa esticar.


- Zig, zig, zag, zig, zig, zag, vencendo as ondas quero a roupa alisar.


- Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, siiiiiiii, siiiiii á, toco na água e começo a chiar.


Felipe sentou-se ao lado da mesa de centro e começou a pegar todas as revistas e jogar em cima das perninhas. Com jeito de gente grande folheava as revistas página a página. Nem olhava para a mãe, que passava a roupa na sala. Era tudo uma forma de despistá-la. Ela, achando que Felipe nem se aproximaria da tábua de engomar, foi à cozinha para tomar um copo de água.


- Agora é a minha vez - pesou Felipe. Sorrateiramente, levantou-se e, ao chegar bem perto da tábua, tascou o dedo no ferro.


- Ahhhh! Ahhhh! Ahhhh! Ahhhh!


- Desculpe-me amiguinho. Mas você não ouviu sua mãezinha dizer que não era para pegar em mim?!


- Ái! ÁI! Meu dedinho está doendo.

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quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Corina, a máquina dançarina (Continuação)

- Vuuum, vuuum, vuuum, vá, vá, vá. Vuuum, vuuum, vuuum, vá, vá, vá. Vou deslizando a sua roupa esticar.



- Zig, zig, zag, zig, zig, zag, vencendo as ondas quero a roupa alisar.


- Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, siiiiiiii, siiiiii á, toco na água e começo a chiar.


Corisco, além de surfista, transformou-se em compositor. Sempre que estava tão quente, quase pegando fogo, deslizava pelas peças de roupas e não parava de cantar:


- Vuuum, vuuum, vuuum, vá, vá, vá. Vuuum, vuuum, vuuum, vá, vá, vá. Vou deslizando a sua roupa esticar.


- Zig, zig, zag, zig, zig, zag, vencendo as ondas quero a roupa alisar.


- Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, siiiiiiii, siiiiii á, toco na água e começo a chiar.


O menino Felipe, ao ver a sua mãe empunhar o ferro de engomar e ouvir aqueles sons meio estranhos, tentou perguntar:


- Mamã, mamã, hã, hã, hã?!


Era como se ele dissesse: “Mamãe, o que é isso?!”


Como toda mãe, a de Felipe também adivinhou seus pensamentos.


- Meu filho, esse é um ferro de engomar. Ele serve para ajudar a mamãe a passar suas roupinhas. Com a ajuda dele, mamãe consegue fazer com que suas roupinhas fiquem bem lisinhas e elegantes.


- Mamã, mamã... Felipe esticou a mão e queria pegar no ferro.

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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Corina, a máquina dançarina

Esta é a minha primeira história infantil. Será contada em posts, numa espécie de folhetim virtual. É uma experiência. Vamos ver no que vai dar! Boa leitura a todos e todas!

As crianças criam um mundo particular. Nele, tudo é belo, mágico, encantador. Navegue nessa magia. Conheça a história de Corina, a máquina de lavar roupas. Uma dançarina que, por muito tempo, fez parte dos sonhos do menino Felipe. Solte a imaginação e descubra a beleza da fantasia infantil.

- Vuuum, vuuum, vuuum, vá, vá, vá. Vuuum, vuuum, vuuum, vá, vá, vá. Vou deslizando a sua roupa esticar.
- Zig, zig, zag, zig, zig, zag, vencendo as ondas quero a roupa alisar.
- Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, siiiiiiii, siiiiii á, toco na água e começo a chiar.
Corisco ficava cheio de energia, às vezes tão elétrico, tão quente que nem brasa, todas as vezes que era chamado para ajudar na tarefa de deixar as roupas do pessoal da casa bem lisinhas. Trabalhar, para Corisco, era pura diversão. Quando a mãe do Felipe, garotinho de um ano e dois meses, que mal balbuciava alguns sons, ia passar as roupinhas dele, dela e do pai dele, geralmente ligava o televisor. Por uma daquelas coincidências que ninguém sabe explicar, quando o Corisco ficava sozinho tomando mais calor, para as roupas ficarem mais macias, as reportagens da televisão eram sempre sobre surfistas.
Eles venciam desafios, pegavam ondas cada vez maiores. Brasileiros, americanos, australianos.... Corisco se deliciava....

Até amanhã com mais uma part da história de "Corina, a máquina dançarina".

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Planos

Silêncio.

Solidão.
Sombras.
Brasília.
Labirinto.
É noite.
Luzes ao longe.
Rodoviária.
Asas.
Norte.
Sul.
Tudo é novo.
SQS.
SQN.
Siglas.
- E o endreeço.?
- Não sei!
Cruzeiro?
Taguatinga?
Planaltina?
- Não, Sarney lançou o cruzado.
Fecham-se os supermercados.
É novo dia.
Tabelamento.
Achei meu destino.
O Brasil perdeu seu rumo.

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domingo, 5 de setembro de 2010

Só-mar

Do futuro.

Do passado.
Do presente.
É a praia.
Cheia de gente.
Frutos do mar.
Caranguejo.
Camarão.
Ostras.
Não resisto.
Ypioca.
Água-ardente.
Mar.
Do Nordeste.
Do mundo.
Fortaleza.
Calma-ria.
Entro n’água.
Sol forte.
Moça bonita.
- Sou Maria. E você?
- Mário.
-Vem comigo.
Amarelinho.
Chave de ouro.
Só.

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sábado, 4 de setembro de 2010

En-fim

Ele.



Olha.


Ela.


Desvia o olhar.


Caminhos paralelos.


Ele.


João.


Ela.


Maria.


E a vida continua.


Ele.


Aproxima-se.


Ela.


Distancia-se.


Que correria!


Ele pensa:


“Um dia consigo”.


Ela:


“Que moço chato!”


Prosseguiram.


Ele.


Insiste.


Ela.


Desiste.


Mas não resiste.


- João


- Maria! Eu sabia...


Sim.


Nasce Francisco.


Nasce Raimundo.


É o mundo.

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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Reação

Empurra-empurra.



Parada.


Entra mais gente.


Respirar é insuportável.


Ônibus.


Sofrimento do pobre.


Motorista.


Cabelos grisalhos.


Uns sessenta anos.


Óculos no rosto.


Terminal.


Mais empurra-empurra.


Lotação.


Motorista irritado.


- A porra dessa cigarra foi feita pra puxar.


- Mas eu puxei.


- Puxou no terminal, estamos há cem metros de lá.


- Deixa de frescura velho, abre logo a porta.


- Não sou um macho velho, sou um velho macho.


Segundos.


Motorista pega a capanga.


Tira o revólver.


Gritaria.


- Não faça isso. Não mate o homem.


Pedido atendido.


Porta aberta.


Passageiro desce.


Pálido


Fantasmagórico.

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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Estudos

- Eu chovo.



Tu choves.


Ele chove.


Nós chovemos.


Vós choveis.


Eles chovem.


-Minha filha, isso não é o verbo chover?


- A senhora tá certa mamãe...


Eu chuvo.


Tu chuves.


Ele chuve.


Nós chuvemos.


Vós chuveis.


Eles chuvem.


- Minha queridinha, você está demais.


- É mesmo mamãe? Veja o que aprendi:


- Abajur, abajus... Rei, reses...


Pá, pára... Vou tirar você da escola.


Por que mamãe?


Precisa responder?


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