Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Assepsia nada convencional (Quarta parte)

Com o dia amanhecendo, saem em busca de um varadouro que levasse a algum local habitado. Paulo Guedes tinha parado de tocar.
De repente, uma onça pintada pula na frente dos três. O músico não se faz de rogado. Põe o sax na boca e tasca as notas de “Mamãe eu quero”. A onça, atordoada, entra no ritmo da marcha. Em pouco tempo, requebrava mais do que a Carmen Miranda dançando “Taí”.
Quando a onça atingiu o pico da animação, o saxofonista sacou do bolso o vidro de lança-perfume, encostou o vidro no focinho da onça e fez com que ela cheirasse até a última gota. A onça soltou um esturro e caiu fulminada.
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Não quiseram esperar para ver se a onça estava morta ou não. Seguiram em frente, andando mais rápido. O comandante havia lavado os ferimentos do rosto. A receita do mijo funcionou. Não demorou, avistaram uma casa de paxiúba, coberta de palha.
- Ô de casa! Somos de paz. Por favor, ajude a nós - disse o João.
Na porta da frente apareceu um cabôco. Cara enrugada, marcada pela idade.
- U qué qui ucês ton fazenu aqui?
O músico falou pelos três.
- Toquei uma festa em Rio Branco. Pegamos o teco-teco para Sena. O bicho caiu no meio do caminho.

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