Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Senhorio

Não tente domar a vida
Deixe que ela te tome, te dome.
Conduza o teu destino
Sem rumo, a esmo.
Senhora de ti e de si
A cavalgar por relvas
Selvas, pradarias.
Na robustez da entrega
Ser livre por regra.
Prender os uivos.
Soltar os gritos.
Domar o tempo
Para que seja infinito.

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domingo, 30 de outubro de 2011

Transformações


Flor de entre as pedras e cachoeiras
Aquela flor que resiste aos pingos de água
Aos pisões dos turistas incautos
Ao sol a pino,
Mas cumpre o seu destino.
De ser flor pra vida inteira.
Ama e odeia com intensidade
Entrega-se sem maldade
Embora maldade vejam em cada ato.
Transforma-se em cacto
Vira cogumelo
Mas mantém o elo
Entre a água e a terra.

sábado, 29 de outubro de 2011

Pegadas


Passos na escada
Barulho na calçada
Será sinal da tua chegada?
Pegadas ficaram
Você não aparece.
Será necessária uma prece?
Dobro os joelhos...

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Dúvidas


Ser só?
Ou ter alguém ao lado?
Viver o presente?
Esquecer o passado?
Não pensar no futuro?
Casar?
De novo?
Comprar uma bicicleta?
Corredor ou ciclista?
No salão eu danço,
Fora dele és tu.
Entre o hoje e o um dia
Cada segundo vale a minha vida.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Reações


Reajo aos teus ataques
De amor ou de ódio.
De sódio em sal.
Sou tem bem, teu mal.
Camadas de pré-sal
És meu Carnaval
De sonhos, fantasias.
Heresias.
Terei você um dia?

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Carnes


Em carne viva
Fica meu corpo
Com o toque
Da tua pele.
Sangro de desejo.
Gotas rasgam veias.
Envolvo-me em teias.
De conversas e fofocas
Só não encarnes, nessa carne
Como se eu fosse foca.
E você meu alimento
Nesse desvario de pensamento.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Distorções


Imagens distorcidas
De você em minha vida
Espalham-se pelo mundo
Virtual dos teus sentidos.
Não percebo diferença
Entre ausência e presença.
Noites a fio procuro
Teu vulto no quarto escuro
Obscuros pontos desconexos
Da tua imagem no teto.
Refletida em um falso espelho
De um amor sem zelo.


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

LoveSmart


Desliga esse Samartphone
Desliza os dedos pela letra do meu nome.
No TouchScrenn do teu telefone.
Celular com Android e tudo.
Para me deixar, do outro lado, mudo.
Meus dedos não sabem onde tocam.
Exploram o corpo ou as teclas?
Navegam entre os pelos
Do teu imaginado corpo
Que cresce na tela mental
Do teu Smartcorpovirtual.

domingo, 23 de outubro de 2011

Binárias


Imagens dispersas

Esparsas fotografias

Denunciam

Binárias trocas esfaceladas,

Digitais pixeladas

Em Bites e Bits na madrugada.

sábado, 22 de outubro de 2011

Adversidades


Vitórias
Derrotas
Cidades.
O campo:
Um manto
Saudades.
Não lido
Contigo
Não lidas
Comigo.
Amigo
Inimigo
Deprimido
Acabo
Comigo.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Mídias digitais


Não te amo no Face
Porque você não faz parte do meu book.
Não me segues no Twitter
Pois não sou Jesus Cristo.
Se me cutucares
Não cutuco de volta.
Prefiro esperar
Que batas em minha porta.
Teu corpo é um SmartPhone
Gosto de tocar em cada tecla
Nesse jogo braile em digitais
Amo-te cada vez mais.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Telas


O contato dos teus dedos
Com as teclas do teu não sei quê
IPad, IPode, Iphone...
Se topo com o teu LapTop,
Consigo te ver.
Na camera on board,
No bordo, no topo da tela.
Imagens criadas sem nunca te ter.
Teu corpo são teclas, letras, símbolos.
Que toco, deslizo, na ponta dos dedos.
Segredos, desejos não mais... animais.
Nas unhas, Galaxys, Motorolas, Smartphones
Touch Screen no teu corpo de mulher imaginária.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Cantadas


Não sei o que é cantar
Por isso não te canto.
Mas o que seria do cantor
Se não fossem as cantadas!
Por não te encantar, não canto.
Aprisiono o meu encanto
No encanto do canto dos teus olhos.
Se isso for uma cantada
Não se encante
Pois é puro acalanto
De um bobo cujo canto
Nunca quis te encantar.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Roedor


Gosto de remoer teu cérebro
Deixar-te louca de saudade.
Ainda que teu amor não seja eu.
Quero te enlouquecer de desejo
Sem jamais te dar um beijo.
Fazer da tua lembrança a minha morada.
Talvez não te tenha namorada.
Muito menos minha mulher.
Quero, porém, corroer tuas veias.
Matéria-prima das tuas teias
Não me deixar aprisionar.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Bebidas


Teu suor transforma-se em minha água.
Teu cheiro é minha sede de você.
Você é meu desejo insaciável de beber.
Na fonte do teu, do nosso prazer.
Bebo, sorvo, engulo
Gotas do teu amor.
Embevecido, bêbado de desejo.
Saboreio o gosto do teu beijo.
Enquanto vejo o dia amanhecer.

sábado, 15 de outubro de 2011

Professor, profissão-paixão


Em toques de paixão
A emoção nos domina.
Uma carteira, uma esquina
Da escola: nossa vida.
Sorriso largo, ela aparece
Com uma nova teoria
Nega o distanciamento
Prega envolvimento
Com o objeto de pesquisa.
O frio punhal da objetividade
Transforma-se em excentricidade
Dos velhos guardiões do templo.
Pesquisa é respeito ao outro
Não é trabalho absorto
De um lobo solitário.
Professor não só ensina: realiza.
Faz extensão, produz pesquisa
E é nessa roda-viva
Que a paixão se eterniza
Nos três Ps de professor:
Paixão-profissão-pesquisa.

Em mim


Estás presente
Até na ausência.
Paixão adolescente.
Inconsequente!
Não bate, nem avisa!
Entra!
Sai!
Sai!
Entra!
Enfrenta!
Concentra teu eu
No que é meu.
Transforma em nosso
Tudo o que é vosso.
Vai, não vai!
Se fostes, voltas.
E ficas.
Aqui!

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Sossego


Um suspiro mais longo
Antecedido por um grito
Um urro.
Um espasmo.
Minha pele nua
Colada a sua.
E uma sensação de paz.
Nada mais.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Estupro


Violaram tua infância
Doparam teu mundo.
Que ser mais imundo!
A profanar teus sonhos,
E deflorar a meninice
Que trazias no olhar.
O infinito é teu único ponto.
A revelar o desgosto
De não poder escolher.
Roubaram tua adolescência
Arrancaram a inocência
Pelo puro prazer animal
De um desejo sexual.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Obsessiva


Tens o monopólio dos meus pensamentos
Dos sentimentos.
Dos desejos.
Se não te vejo, piro.
Deliro
Perco o pulso.
Explodo em soluços.
Não me domino.
Os olhos esbugalham
Nem salivo.
Que alívio!
Quando chegas.
Vejo um vulto
Estou de luto
Pela morte
De mim mesma.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Pistas


Digitais não deixam marcas aparentes
Apenas sinais.
De que na tua mente passei momentos.
Teu corpo e o meu
Conduziram energias.
Chocaram-se!
Explodiram em prazer.
Nada mais ficou
Ou restou
Dessas marcas
Ameninadas pelo tempo
Ou envelhecidas por nós.
Algozes
Assassinos
Matamos nossos destinos.
Antes mesmo do nascer.

domingo, 9 de outubro de 2011

Ritmos


Curvas macias se tocam
Afastam-se.
Retocam-se em sussurros.
Deslizam mansamente
Rumo aos poros
Ao pelos
Aos dedos
Aos cabelos.
Suores
Cheiros de corpos que se querem.
Íntimos odores se misturam.
O compasso da respiração
É a única marcação da nossa música.

sábado, 8 de outubro de 2011

Ofegantes


Tons
Sons
Gritos
E risadas.
Nada.
Ninguém.
É capaz de me tirar
Desse transe
Dessa locura.
Desafinadamente
Em semitons
Colcheias
E semicolcheias.
Dissonantes
Uivantes
Sussurros
Urros
Respiração ofegante.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Fumaça


No teu caderno
Listo meus acertos.
Na agenda,
Você diz: só erro.
Basta um deles
Pra você esquecer
A minha vida
Os meus acertos.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Esconderijo


Não quero ser maduro,
Nem verde.
Não quero água.
Quero sede.
Divirto-me com a dança:
Dos teus olhos,
Dos teus lábios.
Com o teu sorriso-menino
Que não chega à adolescência
E volta a ser feto.
Nessas horas te vejo pequena
Serena, dócil.
As quatro pernas da mesa
Transformam-se em tua fortaleza.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Alma de poeta


Quer ser livre
Até para se prender.
Mas não se prende.
Nem a você.
Tem no voo
Seu plano de vida.
Ave que pousa
Mas não repousa.
Alimento no bico
Alça novo voo.
Uns com volta,
Outros: nunca mais.
E por onde passa
Deixa sua marca
E um pouco da alma
Como semente que brota.
Novo alimento
Em uma nova horta.


terça-feira, 4 de outubro de 2011

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Intensa


Queimo por dentro
Em sorrisos, lágrimas.
Sinto odores
Flores.
Amores.
Também odeio.
Parto-me ao meio
Vejo um seio
Depois o outro.
Santos e demônios
Que em mim habitam
Transitam
Id e ego
Não os nego.

domingo, 2 de outubro de 2011

Florescer


Florescem
Flores
Da manhã
No amanhã
Que será ontem
Depois de vencer o hoje.
O amor de ontem
São lembranças de um hoje
Que amanhã talvez não haja.
Assumir a inexistência do eterno amor
É ter consciência da finitude
Do prazer e da dor
E da própria existência.

sábado, 1 de outubro de 2011

Preces


Dobro os joelhos
Toco o chão.
Dobro o orgulho.
Não toco o teu coração.
Ergo os olhos
Não encontro os teus.
Mereço, oh Deus,
Tão duro castigo,
De não ter você comigo?