Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sábado, 31 de dezembro de 2011

Quero


Que os amigos e inimigos
Tenham saúde a botão
Que aprendam o valor
De um aperto de mão.
Que até nos duelos
Dêem dignidade ao outro
Que se um sair vivo
O outro não saia morto.
Que aceitem as divergências
E os pensamentos adversos
Que saibam respeitar a prosa
E os poemas em versos.
Que abominem a violência
Que implantem o afeto
Sejamos todos livres
Dos conceitos e desafetos.
Do ciúme que aprisiona
Do amor que não liberta.
Que cada um de nós
Ao respeito se renda
Que o carinhos se torne
Nossa diária oferenda.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Florescer


Imagino-me a me deslocar
Por entre folhas, flores e espinhos
Rosas vermelhas, verdes ou brancas.
A interferir nas minhas lembranças.
Flutuo em nuvens imaginárias
Com asas postiças de algodão
Carrego-te na palma da mão
Depois te sopro nas nuvens
Para juntos saltarmos ao infinito.
Deslizo como se surfasse
Por sobre o que os olhos não conseguem ver
Impossível conter nas minhas lembranças
Passagens do meu tempo de criança
Quando sonho e fantasia
Eram realidade dia-a-dia.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Nós


Não há laços, elos ou correntes
Que segurem um amor que não seja ardente.
Que não seja movido a ferro e fogo
A uma paixão que se transforme em jogo.
De sedução, de conquista e reconquista
A cada dia, a cada minuto
Que não se liberte nem por indulto
Seja Natal, Ano Novo ou qualquer festa.
Mas que mantenha a nossa portinhola
Livre, aberta, como se fosse gaiola
A nos dar o direito de ir e vir
Porém sem, jamais, dar Adeus ou partir.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Agonia


Dobro os joelhos, caio em prantos aos teus pés
Em ti deposito minhas esperanças
De vida, de amor, de renascimento.
De um dia ter nobre sentimento.
Que seja dor, ternura, compaixão
Baldes de terra em cima do caixão
A promover lenta escuridão
Nesses meus sete palmos de quarto.
Quando nenhuma luz restar pelas frestas
Tento levantar a tampa, abrir as portas.
A paralisia prende minhas costas
Faltam-me forças, foge a respiração.
Tento um pouco mais de ar
Você já sumiu.
Tudo era mágico, encanto, ternura
Minuto a minuto, loucura, tontura
Viver sem te ter, eterna tortura.

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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Hostilidade


Não comungo da tua hóstia
Tampouco da tua hostilidade.
A ti entreguei meu corpo inteiro
Sem lençóis nem travesseiros
Sequer uma gota de maldade.
Fui infantil, terna, quase menina
Pura, puta, mensalina.
Pra sentir teus urros de animal.
A ti dei prazer por inteiro
No quarto, na sala, no banheiro.
Me fiz a mais prostituta das piranhas
Queria dominar tuas entranhas
Só ganhei silêncio e desprezo.
Sou pra ti uma nulidade
Não deixei nem dor nem saudade.
Dói, machuca tua indiferença
Suportar essa distância
muro de Berlim entre nós.



segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Migalhas

O pão não é nosso a cada dia
Miolo, pontas e cascas
Escorrem por entre os dedos
Pulam da palma das mãos.
Não te sacio você me deseja
Renegas antes da última cantiga
Do Galo, da missa, do culto.
Essa vontade oculta
De se postar no altar
Cruzar os braços, receber os pregos
Pontinhas de pão, do ateu, do cristão.
Esse amor em migalhas não seduz a alma.
Corrói o meu corpo, deixa-me o trauma.
Esmolas, bandido, amor proibido
Centavos de prosa, sobras de alimento
Não tenho o teu corpo me falta coragem
Minha eterna heresia: tê-la em miragem.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Nascimentos


Nasceu um menino
Nascem muitos, todos os dias.
Em berços de ouro
Em manjedouras.
Alguns nos viadutos
Nos charcos, na valas.
Nas filas dos hospitais
Nas salas.
Nem sempre em camas.
Alguns em macas.
Nos corredores.
Do Sistema Único de desrespeito humano.
Dia-a-dia: a cada ano.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Abraço virtual


Sinto falta do te abraço
Do teu toque, do teu cheiro
Do doce sabor dos teus olhos
Da tua aura, teu corpo inteiro.
É véspera, logo nasce Jesus
Você é meu anjo de luz.
Ele a iluminar o mundo
Você transborda energia em mim.
Sinto-te presente mesmo na ausência
Na aura azul do teu corpo.
Quero adormecer nesse abraço
Que nunca dei nem senti.
Ainda que seja virtual
Mas com sonhos de Feliz Natal!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Segredos


Escondemos nosso amor de nós e do mundo
Vivemos cada minuto
Em segredo profundo.
Esse amor que nos move
Remove feridas casuais.
Não aceita receitas banais.
Pois corre em segredo de justiça
É fogo que nos atiça.
Prazer que ninguém percebe
Que não deixamos parecer.
Escolhas que não fizemos
Mas unem eu e você.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Tesão


Não tem estado civil nem sexo
Só a busca incessante do prazer.
Vejo-te, o sangue corre nas veias
Na velocidade da luz.
Miro em teus olhos, fortes explosões
Descem pelo corpo, sobem até a mente.
Num contentamento quase descontente
Fogo fulgurante: queima mais que antes
Molha minha gruta como água nascente.
Sigo sem juízo nem sonho bruto
De te ter nos braços, em pele, a noite inteira
E fazer contigo o que homem nenhum fez.
Depois descansar nos braços
Da minha insana lucidez.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Compulsório


Pouco me importa se me amas
Se me queres na tua cama.
Ou até mesmo fora dela.
Nem quero saber se és donzela
Virgem, santa ou prostituta.
Tudo para mim é normal:
Até teu pecado original.
De não me amar como eu te amo.
Se te querer é erro ou engano
Pagarei pelo ato profano
De violar tua inocência.
Padecerei na demência
De te desejar noite e dia.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Abusos


Uso-te por fora
Quero-te por dentro
Quantos elementos?
Sofro na ausência
Sonho com a presença
Mas você não vem.
Se estás comigo
Sou só teu amigo
Quando não, intruso
Oh, quanto abuso!
Esse uso e uso
Que há entre nós.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Sexdigital


Quero ser o teu login:
Enterra a tua senha em mim.
Entra no meu Facebook
Muda esse teu look
Mas cuidado com o meu Orkut.
Pois sou muito liberal
Porém ainda não sou total.
E cutucada no Orkut dos outros
É curtida no Orkut da gente.
Libere essa tua mente
Compartilhe o que for ardente
Retuite o seu FourSquare
Que eu quero invadir o teu Badoo
Mas vamos deixar essa rima de lado
Pois sou um homem educado.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Hipocrisia


Fantasias não me excitam
Sonhos, sim, deixam-me louco
Mas o que é o sonho sem a fantasia?
Mera hipocrisia!
A vida sem hipocrisia se sustenta?
Não! Torna-se violenta.
Falai a verdade em tudo
Melhor ficar mudo.
Nesse mundo imundo hipócrita
Falar a verdade não conta
Porque verdade e mentira
São odes da mesma lira.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Ciclos


Quanto te vi, pressenti e quis: vou ser feliz
Subiu um fogo, fiquei meio bobo: serás minha.
Busquei você
Em cada milímetro de saudade
Minutos, segundos
Criei meu mundo
De felicidades.
Subi o altar, demoras a chegar
Enfim,
Dissemos sim.
Lua-de-mel, intenso amor
“Só vou se você for”.
O tempo passa: intensa rotina
No quarto, na sala
Ou até na cozinha
Onde foi parar nossa adrenalina?

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Na alma


Teu olhar profundo explora minha alma
Pisa em minha Lua de sentimentos
Sinto as marcas dos pés, dos dedos, dos pelos
A arrepiar a textura da pele em chamas.
Ainda que não te tenha, sei que me amas.
Se não há amor sinto o fogo do desejo
Quando me tocas a invadir meus sonhos
Não fujo me entrego aos arpejos e solfejos
Do teu respirar a tentar encontrar o meu
As mãos sem controle revelam os corpos
Desnudam segredos escondidos
No meu e no teu espírito.

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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Devotos


Insano é esse desejo de te beijar
Nos olhos, no rosto, nas mãos.
Tocar tua pele é minha oração
Tê-la nos braços, minha devoção.
Não tem santidade, mas insanidade
Esse querer mais que proibido.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Instintos

O homem é uma besta
A mulher: besta.
Bestiais.
Animais sexuais.
Um vem, outro vai.
Um entra, o outro sai.
Portas fechadas: o que resta?
Nada!


segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Controle


Você aparece, arranca meu sorriso
Perco o equilíbrio, tento enlouquecer.
Não consigo ver, o que me demonstras.
Saio de mim, entro em você.
Você penetra meus poros.
Mordo, a ti e me devoro.
Não me controlo.
Veja em que me transformei
Talvez nunca te tenha.
Mas posso dizer: te amei.

Fragilidades


Fazer amor não é ser amado
O nome disso é sexo.
Fazer sexo nem sempre é fazer amor.
O nome disso é eufemismo.
Usado pela humanidade
Para esconder que age por instinto.
Maldito animal sexual que existe em nós
Que desata todos os nós.
Rasga convenções
Expõe fragilidades
E deixa um vazio em lugar da saudade.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Julgamentos


Não me julgue pelo que pensas que dou
Nem pelo que deixei de te dar.
Se não consegui me entregar
Você também não se doou.
Doeu, dói faz sofrer?
Mas um dia há de passar.
Amores passam, a vida fica
Dores também hão de nos marcar
Importa viver, chorar, sorrir
Marcar sem nunca ferir
Se fui, não sou, o amor passou?
Da mente não vais me tirar.

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sábado, 10 de dezembro de 2011

Curvas


Você está em mim
Até quando escurece
Madura flor
Essência em pétalas
Perfeitas curvas, uvas, vulva.
Respingos, pingos, gotas...
Brotam grutas a explorar.
Viagem,
Meu transe
Minha transa,
Orgasmo mental
Dos deuses, das deusas...divino desejo.
Daquele teu beijo que me arranque o cérebro.
Engula meu sangue... sorva os miolos.
Deixe-me esquelético!
Escravo
Oh minha senhora!
Dos pelos, tua gruta...é meu travesseiro.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Reverso


Penso!
Lapidar versos talvez seja meu incenso!
Intenso!
Corto palavras, cunho significados
Recrio o espaço
Na infinita viagem mental
De provocar o outro.
Leitores, leitoras!
Não liguem para o que digo
Nem criem sonhos comigo.
Assumam os seus
Refaçam os meus
Em prosa ou verso
Vale o verso e o reverso
Dessa moeda chamada vida.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Penumbra


Convoco as estrelas para uma assembléia
Vejo pouco brilho em cada uma delas.
Perderam a luz, o élan, o fulgor,
Ou deslocam-se assazes por falta de amor?
Não rasgam o horizonte, apenas piscam
Cintilam aos poucos, não querem brilhar
Apelo aos deuses, mas eles pouco fazem
Poder sobre elas não hão de usar.
Se há algo de grave na greve de estrelas
É o jovem poeta vivê-las sem tê-las
Só há trevas, terror, heresia
Quando o escuro encobre a poesia.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Mistério



Tento descobrir o que escondes por trás do sorriso
Ou na frente dessa cara de mulher
Com traços de menina assustada.
Devoto todos os dias da minha vida
A essa insana perseguição.
Avanço, recuo e nada descubro.
Apenas encubro
A posse, o desejo, a dominação.
Obcecado, cego
Impotente, demente
Ajoelho-me aos teus pés.
Lágrimas copiosamente descem do rosto
Alcançam meu corpo roto: deformado pela loucura.


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Lapidar


Vejo-te nas pedras, contornos brutos
De pedra-sabão, argila, barro enrugado
Marcas de um tempo a tecer tua imagem
Sombras de traços a invadir minha iris.
Teus olhos, duas tochas de fogo
Cintilam na mente, formatam-se em lembranças.
Pedras, um olhar distante.
Tua silhueta recorta o mar, as cachoeiras
De Figueiredo ao Rio de Janeiro.
Desço do fio, empunho a navalha
Assumo a paixão, rasgo o preconceito
De suspiro em suspiro, em cortes profundos
No coração, que era pedra
Bruta
Brotam detalhes: tua escultura.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Tempo-nada


Tento não lembrar do que já foi
Pois o que já foi não é o que já era.
Na linha do tempo o ontem morreu.
E o amanhã, quem sabe se viverá?
O hoje, as horas, os minutos
Já são passado em segundos.
O que é o futuro se não o ontem transformado em hoje
De um amanhã que chegou mais cedo?

domingo, 4 de dezembro de 2011

Gotas


Sou mera gota,
Essência de nuvem.
Nem obra, nem arte
Exposta no Louvre.
Não passo de um nada
Poeira ao infinito.
Alado ser de metal
Preso em um tubo de aço.
Dedilho símbolos
Imprimo letras.
Em vôo cego
Com rota marcada
Numericamente digitada
Por quem pilota mais de 200 vidas:
Grãos de nada ao nada conduzidos.

03/12/2012. Vôo 1630. Na volta de Brasília.

Para o Poeta Thiago de Melo que me revelou ser inédita a experiência de publicar um poema a cada dia: “Merecia um Seminário na Livraria Valer e uma matéria com destaque nos jornais de Manaus”. Obrigado poeta!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Dependência


Destruo cada conexão do teu cérebro
Em ondas fotoelétricas percorro teu sistema nervoso.
Espalho-me pela tua corrente sanguínea.
Roubo cada fio de resistência
Dos teus glóbulos brancos e vermelhos.
Fixo-me na tua mente
Deixo-te demente.
Respiração ofegante
Pele suada de desejo
Inteiramente dependente
Das minhas carícias, dos meus beijos.

Destinos


Há caminhos que não se cruzam
Como verso e prosa de mãos dadas ao redor do mundo.
Os dedos se tocam, as mãos se apertam.
Mas os caminhos são sempre paralelos.