Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Migalhas

O pão não é nosso a cada dia
Miolo, pontas e cascas
Escorrem por entre os dedos
Pulam da palma das mãos.
Não te sacio você me deseja
Renegas antes da última cantiga
Do Galo, da missa, do culto.
Essa vontade oculta
De se postar no altar
Cruzar os braços, receber os pregos
Pontinhas de pão, do ateu, do cristão.
Esse amor em migalhas não seduz a alma.
Corrói o meu corpo, deixa-me o trauma.
Esmolas, bandido, amor proibido
Centavos de prosa, sobras de alimento
Não tenho o teu corpo me falta coragem
Minha eterna heresia: tê-la em miragem.

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