Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quinta-feira, 31 de março de 2011

Selinho

Um bico
Uma boca.
Tua boca
Meus lábios
Teus lóbulos.
Auréolas
Anjos.

terça-feira, 29 de março de 2011

Disforme

Levanto
Lamento
Falta ar
Sobra vento.
Respiro
Ele não vem
Não entra
Não sai.
Não sai
Não entra.
Olhos
Nariz
Garganta
Dilatam-se
Em vão.
Vermelhidão.
Sangue a subir
Últimas golfadas.
Meu ex-rosto
É nada.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Culpa

Não sinto
Por ti
Nem por mim.
Muito menos por nós.
Nem por vós, nem por eles.
Não se trata de conjugar um verbo
Ou substantivar um dedo
Apontado
Pelo mundo
A nos julgar.
Trata-se de amar
Viver
E não se envergonhar.

domingo, 27 de março de 2011

Respingos

Que a água que escorre pelo teu corpo
Invada os poros e acalme tua alma.
Hidroelétricas faíscas de sonhos
Explosões de desejos atômicos
Respigam em furacões
A eletrizar nossos corpos nus.

Degustação

Mastigo o amargo sentimento da tua ausência
Entre os dentes ficam restos de saudade
Dos olhos escorrem lágrimas
Com a língua capto gotas
Que se misturam ao fel da boca.
Sabores ocres
Descem pelo tubo digestivo
A digerir meu pensamento
Tua falta é alimento.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Estilete

Teus olhos penetram a alma.
Frio fio a estilhaçar o coração.
Singram o peito, vazam os vasos.
Vísceras expostas da paixão.
Gotas de ódio libertam-se dos olhos.
Disformes imagens
De um amor.
Que o tédio...esfacelou.

terça-feira, 22 de março de 2011

Subserviência

Tetas
Estatais.
Estetas
Ex-tetas.
Molambos
Escravos da bobagem.
Babaquice oficilizada.
Aulicismo
Joelhos curvados
Ao dinheiro público
Escoado.

Amargor

O gosto que entra pelos olhos
Foge pelas narinas
Retorna pela boca.
Penetra nos poros
Domina o cérebro
Corre, voa.
Amargo fel da vida
Bendito santo sangue
Maldito mangue
Que escorre
Foge
Morre
Morde
Fere
Salivas, ingeres.

domingo, 20 de março de 2011

Mansamente

Você chega
Ofegante
Respirante
Insinuante.
Insinua antes
Beija depois.
Olha para um lado
Para o outro
Beija meu rosto
Abraça meu corpo
Deixa-me louco.
Toca meus lábios
Acende o todo
Adormeço
Nas chamas
Acordo morto.

sábado, 19 de março de 2011

Vinhos

Rascante
Seco
Doce
Espumantes
Espuma depois.
Uvas
Verdes
Maduras
Doçura
Amargor.
In vino veritas
Verta
Sorva
Beba
Como sorves
Sorvetes
Sabores
Amores.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Passos

Passo
Passas
A passos largos.
Dás de ombro
Nem me vês.
Tento segui-la
Cutucá-la
Nada a abala.
Vamos ser amigos?
Convite negado
Resta-me seguir....
A facebookeá-la.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Oração

Nem onça
Nem leoa
Nem loba
Boba!
Embevecida
Apaixonada.
Deslavadamente mulher
Fêmea
Alma
Quase gêmea.
Vibra
Não urra
Esturra
De prazer
Ao ver
Meu gozo
Lobo
Desfaleço
Adormeço.
Ela também
Juntos
Amém!

quarta-feira, 16 de março de 2011

terça-feira, 15 de março de 2011

domingo, 13 de março de 2011

Contemplação

Extasiado
Vejo teus olhos revirados
Gemidos uivados
Uivos controlados
Respirares arrepiados
Felinos deslizes linguais.
Amantes, amares amorfos
Em templos, templários, teu corpo
De cabeça à ponta, percorro.
Lento, calmo
Delícias cobertas
Turvas, encobertas.
Nos lençóis
Nus, nós.

Reflexos

O belo?
O velho?
O novo?
As cores?
Os gostos?
O tudo?
Na disso importa!
Valem os reflexos
Capazes de iluminar cada detalhe da tua beleza.
Vale o natural
A natureza
O jeito de olhar
A cintura na mão
O pulsar do coração.
Refletem em ti
As luzes
O jogo
O fogo
O sangue
Langue
Dez
Olhar.

sábado, 12 de março de 2011

Dançaltear

Analaurando pluma Stoneante
Deslizas sonhos, desejos, fantasias.
Sala, salão, jazzeias
Salas, boleros num quadrante.
Pássaro, garça, felina
Penachos tocam o chão
Sobes
Desces
Rodopias
Alheia aos olhares embevecidos.
Centrada nos movimentos
A engolir a música pelos poros
Percorres o universo sonoro
Nas mistura dança-poesia.
Movimentos
Poemas forjados a cada passo.
Teu balé, tua leveza
Teus olhos de quero-mais
Mágico condão do estilo.
Vê-la dançar é um deleite
Encantos, cantos, meio da sala
A ponta dos pés exala
Cheiro Stoneante: baila.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Agonias

Chamas queimam
Minha carne
Arde.
Teu corpo
Fede.
A alma cede.
Aos desejos da carne.
A mão de explora.
A tua devora.
Do peito, aos limites.
Prazer sem limites
Desfilam nos corpos.
Mortos
Molhados
Ensopados
Bombeiros acionados
Público admirado
Nossos corpos jogados
Lado-a-lado
Incêndio domado.

quinta-feira, 10 de março de 2011

quarta-feira, 9 de março de 2011

Restart

Desliguei meu cérebro
Da realidade real.
Passei a viver
Um lance virtual.
LinkedIn
Facebook
Haja rede social!
Conexões cerebrais fumegaram
Deitei meu cérebro
Em uma rede baiana.
Sosseguei deste mundo
Em muitos goles de cana.
Acordei no Amazonas.
Maria Antônia
Maria Juana.
Índias lindas
Povo selvagem.
Uma puta sacanagem
O progresso mão-em-mão
A tal civilização.
Dou restart no meu cérebro
Desligo as ondas banais
Quero lá saber de Boi
Ou de coisas mais reais
Meu negócio é MPBestas
Junto grana bacarai
Ao nosso show todos vai.

terça-feira, 8 de março de 2011

Vivas

De repente
Apagaram a luz
Vida reduzida
A quase nada.
Você numa cama.
Todos ao redor.
Poucos sinais.
Vitais.
Olhos procuram.
A nós.
A vida.
De um lado
Para o outro.
Quase nada.
Pouco pra nós.
Tudo pra ti.
Luta diária.
Vida mantida.
Quase escondida.
Guerra vencida.
A cada segundo.
Por ti
Por nós
Pelo mundo.

Gritos

Falo
Não falo
Falas.
Gritas.
Liberas.
O temor
Da garganta.
Do corpo.
Horror.
Horrores.
Queimadas.
Em vida.
Vivas.
Em brasas.
Ardiam.
Teu corpo.
Queriam.
Tua alma.
Queimada.
Ideias
Mortas
Ideais
Vivos.
Ecoam.
Em nós.
Filamentos
De voz.
Ferida atroz.
Marcas
Mulher
Mulheres
Teu tempo
Em nós.
Nós.
Sós.
Sol.
Sós.
Sois.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Mulher

Não és mulher por um dia.
És mulher o dia todo.
Não vences uma guerra.
Vences batalhas.
Derrotas os cânceres.
Os cancros.
Os imbecis.
Os viris.
Vírus.
Virais companheiros.
Que te sugam o sangue.
As mamas.
As lembranças.
Os direitos.
Esses machos.
Machistas.
Marxistas.
Machões.
Anões.
Mínimos seres.
A ti oprimirem.
Faquires.
Safados devires.
A domarem almas.
Chorarem dramas.
Apenas pra te levar pra cama.
Amas.
Não amas.
Finges que ama.
Drama.
Choras.
Rires.
Gozas.
Eles doidos.
Malucos.
Famélicos.
Fálicos.
Sonham.
Imaginam.
Que é pelos vossos falos.
Fálicos.
Famélicos.
Famigerados fodélicos.
Idiotas.
Imbecis.
Eternos viris.
Verão.
A força delas.
Em cada varão.
Varados.
Vazados.
Idiotizados.
Homens do mercado.

Vazio

Viro-me
Para um lado
Para o outro.
Absorto.
Toco
Tua pele
Teu rosto.
Louco.
Louca sensação
De tê-la.
Aqui.
Quando longe estás.

domingo, 6 de março de 2011

Guerreira

A morte por perto.
Transpôs teu corpo.
Alojou-se em teus pulmões.
Espalhou-se.
Em nódulos
Em doses
De tristeza
De terror.
Fez o que pode
Pra te levar.
Tirar do meio de nós.
Queria deixar só lembranças.
Descrenças.
Desesperança.
Perdeu!
Coragem em punho.
Força em riste
Você resiste.
Cabelos perdidos.
Dignidade mantida.
Raça divina.
Força heroína.
Voz de menina.
Jeito criança.
Encantas.
Nasces de novo.

sábado, 5 de março de 2011

Desserviços

Pouco caso
Descaso
Desrespeito
Sem noção.
Maustratos
Maltratado.
Vire-se!
Internet?
Temos não.
Só daqui
A cinco anos
Luxo desses?
Quero não!
No saguão
Tem orelhão.
Serve não?