Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

domingo, 31 de maio de 2020

Fala

Hoje te olhei
O corpo deu sinal
Olhares trocados
Corpos apaixonados.
A fala do corpo
É de deixar louco
E é nesta fala
Que desejo amá-la.
Fala corpo
Fico louco
Falamos nós
Diz a voz.
Vem do coração
Também da razão
Pronto, falei
Desde que te amei.

sábado, 30 de maio de 2020

Contemplar

Contemplar
E nem tocar
Também é um ato de amor.
Nem que seja pelo outro ser
Pela outra pessoa.
Por mais que não tocar
Seja inteiramente
Violentar você.
E os dois.

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Doar-se

O ato de se doar
Por alguém
Para alguém
É amor?
Ë amar?
Talvez seja o se doar
Doar-se
Doar a si
Aso outros
Por si
Pelos seus.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Assanhados

Eles são dois assanhados
Que pulam intumescidos
Basta eu estar ao lado:
Nem sussurro no ouvido.
Assim, são teus mamilos
Dois meninos atrevidos
Basta eu estar ao lado:
Eles ficam excitados.
E provocam um temporal
Pelo teu corpo inteiro
É quase um vendaval:
Chega a subir um cheiro.
Natural de uma mulher
Que está muito excitada
O corpo revela que me quer
Que adoras ser desejada.
Nossos corpos assanhados
Vibram de tanto tesão
No íntimo, estamos molhados
Na alma e no coração.

Desprezo

Desprezo
O desprezo
Com que me tratas
Em algumas datas.
Deve ser pelo fato
De, de fato
Eu te amar
Meio desesperado.


OBS: Post do dia 27/05/2020

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Ruínas

Tenho de me destruir por dentro
Para me autorizar a viver
Sem machucar ou ferir
O ser que tanto amo.
Estou destruído, consumido
E é desta autocomiseração
Das ruínas desta destruição
Que renascerei ainda melhor.

domingo, 24 de maio de 2020

Contemplação

Quero amar sem querer ter
E esperar um dia acontecer
Olhar-te sem desejar
Desejar sem querer te amar.
Apenas te contemplar
Esquecer que és mulher
Deixar que só o olhar
Seja responsável pelo prazer.
Fazer amor torna-se pecado
Assim como estar ao teu lado
Terei de viver de contemplação
Esquecer que sinto tesão.
Esperar que, talvez, um dia
Seja abençoado com a alegria
De tê-la minha mulher
Como você também o quer.

sábado, 23 de maio de 2020

Generosidade

Generosidade é a palavra
Que nos destrava
E nos eleva
Em meio à treva.
Águas turvas
Mar sem curvas:
A generosidade
Salva-nos da maldade.
Do olhar condenador
Da falta de amor
Sensação de amargura
Vontade de uma loucura.
Generosidade
Tira este gosto de sódio
Estes sangue e ódio,
Cura-me, oh, generosidade.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Abraço

Abraço
As causas
Das minorias e menos favorecidos.
Ah, não aceitas?!
Viva e siga suas
Re-ceitas;
Que eu passo
Com o meu abraço.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Inseguro

Futuro
Ë sempre inseguro
Passado
Já se foi, não volta.
Presente
Viva enquanto é tempo
O tempo todo
Sem medo do novo:
Perca a segurança, mas, não a esperança.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Quedas

Janelas,
Penhascos
Desfiladeiros...
Muito me atraem.
São mais eficazes
Que alguns saltos
No vazio da vida.
(Não se permita
Cair-de-cabeça:
Use, ao menos,
Um paraquedas).

terça-feira, 19 de maio de 2020

Vício

Fugir do amor para quê?
Se ele está em você
Quanto mais tento me afastar,
Mais, só sei te amar.
Você é como um vício
Pode ser meu precipício
Mas, a vida fica uma escuridão
Se não vivermos esta ilusão.
Vamos mentir que somos amiguinhos
Para a consciência não pesar
Porém, com tanto fogo e carinhos
Difícil é viver sem te amar.
Caí de cabeça neste vício
Mergulhei no precipício
Não dá mais para esconder:
Vivo pra te amar: amo você.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

domingo, 17 de maio de 2020

Cacos

Eu te amei,
Você jogou fora:
Restam-me os cacos
Tão cortante quanto os fatos.
Para que um dia façam sentido
As lembranças
De o quê foi vivido.
Dos cacos, farei aço
E me tornarei árido
Um ser (quase) tétrico:
Em vez do desejo
Dar-te-ei o gelo
Nem que o amargo gosto da saudade
Crave-se (em mim) para a eternidade.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Nada

Você é muito inteligente
Esfria o que era quente
Mata até não restar NADA
Nem sonho na madrugada.
Destrói minha sede de futuro
TUDO o que eu tinha de seguro
Vejo fugir por entre os dedos
Razão de todos os meus medos.
Quando um não quer, dois nada fazem
Os sonhos viram bobagem
Nem devem ser partilhados:
Cada um para o seu lado.
Nada sobrevive, se ignorado
Nem os sonhos mais apaixonados
Obrigado por matar aos poucos
Nosso amor, que era louco.
Alguém precisava de sanidade
De encarar a realidade
Transformar o TUDO, agora em NADA
Restam-me soluços na madrugada.
Nem precisa haver despedida
Muito menos, hora da partida
Que seja assim: por inanição
Morte ao nosso amor e à ilusão.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Confissão

Confesso: tenho tentado
Olhar você de outro jeito
E te arrancar do meu peito:
Consigo ficar é mais apaixonado.
Será coisa do destino
Ou um milagre de Deus
Talvez, até um desatino
Eu só ter olhos para os teus?
Vejo o teu corpo vestido
Logo o imagino despido
Perdão pelo gesto consumado:
Imaginar teu corpo desnudado.
Nua a todo momento
A vejo como um templo
Do desejo mais ousado
E do amor mais consagrado.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Labirinto

Talvez eu precise ser
O homem que você quer ver
No meu canto recolhido
Um tanto quanto retraído.
Sem demonstrar emoção
Nem sonhar com a ilusão
De ter você um dia:
Minha maior alegria.
Preciso ser impávido
Jamais dizer que estou ávido
Que quase morro de desejo
Ao pensar no teu beijo.
Devo controlar as emoções
E só agir dentro dos padrões
Que você estabelecer
Para este “nosso viver”.
Jamais demonstrar o que sinto
Tentar sair deste labirinto
Que é te amar feito louco
E TUDO parecer que é pouco.