Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Faminto

É assim que me sinto
Completamente faminto
Com os lábios que te comer
Sem matar a sede de você.
Para aumentar a fome
Não me contento com o teu nome
Quero poder te tocar
E de desejo urrar.
Gemer, perder os sentidos
Quando lambes meus ouvidos
E desces pelo meu pescoço
A me deixar mais louco.
Fome que só aumenta
Quanto mais amor se inventa
Sede que não acaba
Não te deixo por nada.


quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Ao telefone

A linha cai, você se esvai
O sinal some, grito o teu nome
Se me esqueces, mando SMS
Sinal de ocupado, não estou ao teu lado.
Nosso amor é mais forte
Que o serviço prestado
Operadora de morte:
Desejo rediscado.
Quando, enfim, se completa
Cai no primeiro sussurro
Nossa irritação repleta
De luzes no escuro.
Ainda assim mantemos
O tanto que nos queremos
Seja mais próximo ou por telefone
Não vivo mais sem ouvir teu nome.


terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Precipício

Há pouco a se dizer
Sobre o que sinto por você
Amor que parece vício
E pode levar ao precipício.
Tanto a mim quanto a ti
Se não soubermos resistir
E só nos deixamos levar
Por esta vontade de amar.
Que nos move e encanta
Ao mesmo tempo que espanta
Pelo tom da intensidade
E pela dor da saudade.
Vício, amor e desejo
Unem-se no gosto do beijo
E estraçalham a sisudez
De quem já perdeu a sensatez.