Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sábado, 30 de novembro de 2013

Uno

Tenho medo de não me encontrar em mim
E querer me encontrar sempre em você
Como se o meu eu fosse todo teu
E o teu eu mais que tudo, meu.
Uno, único, somos eternos
Eternizados por um amor inexplicável
Que ao nascer nos tirou o chão
E nos colocou um em cada mão.
Do outro e de si mesmo
Como se dois fossem um
Num todo mais que inteiro.


sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Perene

A vida não será capaz
De me ensinar o que é paz
Porque paz só terei um dia
Quando você for minha.
Não te quero só de longe
Nem a brincar de esconde-esconde
Quero-te a ser o meu leme
Para torná-la perene.
E pra sempre imortalizá-la
Feito perfume que exala
Ao sair do teu corpo
A me deixar feito louco.
Dominado pelo teu cheiro
Eternizado pelo toque
Serei teu por inteiro
Até o dia da minha morte.


quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Caduco

De tanto ficar maluco
Teu amor parece caduco
Mesmo que não tenha um ano.
É tão novo, mas tão maduro
Que no claro ou no escuro
Provoca-me o engano.
De pensar que não é real
Ou que já vivemos há anos
Sentimentos sobre-humanos
Um amor meio surreal.
Por nos tirar o juízo
E caducar de saudade
Nosso tempo impreciso
Confunde velho com novidade.
Por isso parece caduco
Quando mal começou
Coração bate e escuto
O ritmo do nosso amor.


quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Amor-amigo


Tento estabelecer contigo
Uma relação de amigo
O máximo que consigo
É ser teu amor-amigo.
Sem tirar nada nem por
Enlouqueço com este amor
Que me roubou o juízo
Sem causar prejuízo
E te transformou em inciso
De tudo o que preciso.
Vivo só pra ti
Quero-te aqui
Mas se estás lá
Vou te raptar.


terça-feira, 26 de novembro de 2013

Complexo amor

Saio de mim pra ficar em você
E permanecer quando não estou
Mesmo não sendo, talvez seja,
Um dia serei? Não sei!
Dúvidas inexistem
De fato aparecem
Ao pensar que de fato não sou
De direito, o teu amor.
Amo-te, amado fico
A te sentir em mim
Longe ou perto, é rico
Amor complexo, sem fim.
Complexa é a arte de resistir
Para que nada o atinja
E eu não tenha de viver sem ti
A fingir que não sou o que finja.


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Com loucura

Amo-te com doçura
Suave sabor de loucura
Que acelera o coração
Num simples toque de mão.
Mas quando a mão de ti se apodera
Chegas a urrar como uma fera
A me engolir e morder
Quando sugas meu prazer.
Meu urro se espalha pela relva
Como Tarzan em sua selva
Não sei mais precisar
Quantas vezes chego a gozar.
É como se a insanidade
De mim se apoderasse
E gozar à infinidade
A mim jamais saciasse.


domingo, 24 de novembro de 2013

Partida

Dói ter de te deixar
Sofro em cada despedida
Meu medo é não te encontrar
Sempre que há uma partida.
Quero tudo com você
São tantos desejos e sonhos
Mas sou obrigado a esconder
Em nada contigo me exponho.
Perto curtimos os momentos
Como se fossem eternos
Quando chega a hora de ir
O peito chora ao partir.
Você se vai e eu também
Outro momento só Deus sabe
Da saudade viro refém
Tua falta me invade.


sábado, 23 de novembro de 2013

Entregue

Sinto-me teu por inteiro
Entregue em tudo o que faço
Alma e corpo em um só canto
Vítimas do teu encanto.
Da textura da tua língua
Que desce inteira, felina
A explorar os milímetros
Do que tenho e do que sinto.
Transforma-me em um ser indefeso
Totalmente entregue, ileso
Ex-fera, hoje cordeiro
Teu alimento de felina-fera.
Lábios respigam
Gotas da presa
Preso, eu, teu, todo
Arquejo gritos de gozo.
Teus olhos ainda me comem
Os dentes, potentes mordidas
Lábios que sugam, consomem
Engolem forças escondidas.


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Distantes

Estamos distantes bem mais do que antes
Mais próximos nunca estivemos
Distância física não aparta sentimentos
Quando o amor resiste até ao tempo.
Saudade ajuda a manter viva a chama
Até quando nosso corpo reclama
Chora pela falta do outro ao lado
Mantém vivo o fogo dos apaixonados.
E o nosso é fogo que queima inteiro
Esquenta até nosso travesseiro
Mesmo que o outro perto não esteja
Um ao outro possível ver seja.
Importa-nos carinho e afeto
Manter-nos loucos de tesão
Do chão até chegar ao teto
Longe ou perto, é viva nossa paixão.


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Centelhas

Do ar que respiro brotam centelhas
De você em cada cristal preso
Ao pulmão da natureza que respira
Sem ouro, prata ou mirra.
Doces fontes de afagos
Rasgos de imaginação
Difícil crer que em nós nasceu
Tamanho fogo da paixão.
Que nos toma a sensatez
Arranca grãos de lucidez
Envolve-nos em labaredas
Como a devorar roçados e cercas.
Para demarcar como território o corpo todo
Sem que possamos decidir limites
Um desejo insano que insiste
A nos queimar em pleno gozo.


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Aos poucos

Raios de sol cruzam a janela
Por ela entro e saio na tua vida
Como pude fazer parte dela?
Se antes nela não existia!
Sopros, fagulhas, aos poucos
Tomaram conta de mim
Aos poucos ficamos loucos
Nunca sentimos amor assim.
Numa velocidade impressionante
O que era nada ficou pulsante
Resistimos dias a fio
Mas nos curvamos ao desafio.
Da vida que nos mostrou o amor
Da forma mais arrebatadora
Desconhecemos as marcas da dor
E a segurança de uma vida promissora.
Um amor que nos tira o juízo
Não deixa gotas de sensatez
Você é tudo o que preciso
Sem querer saber de lucidez.


terça-feira, 19 de novembro de 2013

Suporte

Tenho em você meu suporte
Razão da minha existência
Ainda que nada mais me importe
Morro com a tua ausência.
Sem ti sou nada, você é TUDO
Dona de mim e do meu mundo
Perder-te é um absurdo
Afastar-me? Nem por um segundo.
Nosso amor só se reforça
Por mais que impossível possa
E seja ao mundo invisível
Por isso ainda mais incrível.
Talvez pareça que eu não suporte
Essa distância que é de morte
Nasci pra te amar e assim será
Até quando minha vida terminar.


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Tranquilidade

Bom é acordar de novo
De um sonho que se transformou
Em um peso, um estorvo
Quase um filme de terror.
Tua voz me acalma, tranquiliza
Afasta aquela ojeriza
Traz de volta a paz
Que talvez não seja contumaz.
Esperamos que essa tranquilidade
Seja fato consumado
E nos permita sentir saudade
Lembrar dos momentos lado a lado.
Que acordemos desse pesadelo
De querer e não poder tê-lo
Que a vida pare de brincar
E, enfim, permita-me te amar.


domingo, 17 de novembro de 2013

Nascente

Sinto-me nascer a cada dia
Que a morte se aproxima de mim
Depois dos 50 me vem a heresia
De a cada dia estar rumo ao fim.
Perto de ti, o fim é mais lento
Longe, o fim é recorrente
Vida e morte em um só evento
Morte e vida, nascer, nascente!
Não me deixarei matar
Nem me morrerei
Se não puder te amar
Não te perderei.
Renascerei nascentemente
Nos comprimidos vazios da mente
Estarei na tua vida mesmo ferido
Por um eterno sentimento proibido.


sábado, 16 de novembro de 2013

Dilacerado ser

Chego hoje ao 50
Coração dilacerado:
Peito lamenta.
Essa tua ausência.
Choro por dentro
Riso por fora
Meu Deus, justo agora!
Razão pra tanto lamento?
A vida é real
E é cruel.
Entrega-nos o céu
Depois dá o fel.
Fico com o gosto amargo
De um sonho não realizado
Mas não desisto do nosso amor
Qualquer que seja a dor.
É hora de provação
De um teste profundo
Da vida que nos juntou
E agora vira nosso mundo.
Dilacerado fico
Assim também vou
Sem esquecer aquela semente
Que não me sai da mente:
Fruto do nosso amor.


sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Mãos

Olho meu dedo:
Vem nosso segredo.
Chego aos dois:
Lá vem nós dois.
Chego ao terceiro:
Sinto o teu cheiro.
Na quarta guinada:
Estás excitada.
Desejas que explores
O teu clitóris.
Faço-o com o quinto:
Por puro instinto.
A outra mão livre
Deixa que eu deslize
E toque os teu seio
Sem nenhum receio.
Com o polegar
Em ti toco atrás
Ouço teu delirar
Que a mim satisfaz.
Os dedos exploram
Todos os orifícios
Sem pena, defloram
Mostram nossos vícios.
Aos gritos chegamos
Ao prazer extremo
Sem penetração:
Milagre das mãos.


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Aflitos

O que deveria nos deixar feliz
Põe nossos nervos por um triz
Ameaça não vir e destruir
Nossa fantasia pode ruir.
Erramos em não resistir?
Em agir como adolescentes?
Deixar o fogo nos consumir?
Domar o espaço das mentes?
Sermos um do outro é quase impossível
Outro ser de nós, só milagre da vida
Eu e você num ser só visível
Enlouquecemos, aflitos, querida.
Sangue do teu sangue, venha logo!
Que não chegue ao fim
O que ainda é prólogo
Que a paz, apareça, enfim.


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Mim e tu

Vivo a te desejar
Como se não te desejar fosse possível
Incrível e me descobrir a te amar:
Algo do campo do impossível.
Talvez tenhamos saído das novelas
Das entranhas da Távola do Rei Arthur
Tristão e Isolda se envergonhariam
Se conhecessem a história de mim e tu.
Há algumas jardas daqui
Nasceram Romeu e Julieta
Se Shakspeare nos conhecesse
É possível que os dois não morressem.
Ele nos mataria, a nós
Após uma vida de dores
Para provar verdade atroz:
Não há vida só de amores.
E o que fazemos nós a sonhar?
Que seremos capazes de vencer tudo
Se mal posso te tocar
Sempre às sobras ou no escuro!


terça-feira, 12 de novembro de 2013

Meu despertar

A vida acorda pela janela
Aviões cortam o espaço
Carros se entrecruzam na rua
E eu a sonhar contigo nua.
Meu despertar é assim:
A imaginar você em mim.
Mas vivo um pesadelo:
Acordo com meu travesseiro.
A cama vazia é um sinal
De que só te tenho em sonho
Ou, no máximo, afinal
Em algum verso que componho.
Não sou teu formalmente
Mas dominas minha mente
Será que um dia hei de despertar
E tê-la, inteira, a me amar?


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Instinto

Às vezes não sei se é instinto
Ou uma louca obsessão
Mas nunca senti tanto desejo
Por ti é imenso o tesão.
Se ouço tua voz o corpo fala
Chora aos pingos e prantos
Como uma cachoeira rara
A escorrer pelos cantos.
Fico inteiramente molhada
Só de lembrar do teu toque
Mesmo que não aparente nada
É impossível que eu suporte.
Deslizo a mão pelo corpo
A te imaginar me tocando
E sem o menor esforço
Já me pego te amando.
De forma tão instintiva
Transformo-me em tua diva
Entrego-me a ti meu homem
Com um desejo que me consome.


domingo, 10 de novembro de 2013

Construção

Tão célere e impressionante
Construímos uma relação
Tudo o que havia antes
Não resistiu ao fogo da paixão.
Que passou a nos queimar
E a cada dia nos tornar unos
Sem ti não sei mais o que é amar
Nossas horas viraram segundos.
Peça em peça, até desentendimentos
Amadurecem mais nossos momentos
Este amor parece feito de aço
Em construção, vivida passo a passo.
Hoje não posso nem imaginar
Você fora da minha vida
Tudo o que antes não era nem gostar
Hoje é uma paixão antes jamais concebida.
E que nos move, toma nossos corpos
Domina os espaços da mente
Nada afeta nossos esforços
Mesmo que sejam inconsequentes.


sábado, 9 de novembro de 2013

Dia seguinte

Deitei pra te esperar
Quase acordo no dia seguinte
Sem saber que irias imaginar:
"Ficar assim é um acinte".
Meu sono é incontrolável
Meu amor por ti mais ainda
Falar sozinha é desagradável
Na marra, a história não finda.
Fico horas sem notícia
Sem saber o que aconteceu
Nada mais te incita
Parece que já me esqueceu.
Você apaga, nem se preocupa
Em saber que eu existo
Que me deixar maluca?
E ainda se irrita se insisto.


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Ser tua

Sonho em vê-la entrar sorridente
Parar, bela, na minha frente
Dizer que veio para ficar
E quer comigo se casar.
Chegas com uma frasqueira
No máximo uma necessaire
E diz, sem brincadeira:
"Vim para ser tua mulher".
Quero se mãe dos teus filhos
Mesmo que filhos não tenhamos
Dos olhos sentirei o brilho
Prova de o quanto nos amamos.
Crente que é pra vida inteira
Que nada abala o nosso amor
Venceremos qualquer barreira
E todos os vestígios de dor.


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Desespero

Meu maior pesadelo
É não ser tratado com zelo
Pela pessoa que mais amo.
Nasce uma sensação de abandono
Alucinado e estranho medo
De que não reconheças nosso amor.
Um desespero bate à porta
Só de pensar que não te importas
Com o tanto de amor que tenho por ti.
Um choro incontido começa
Nada de nós mais resta?
Como parece tão real?
Em prantos ouço meu soluço
Imploro e não te escuto
Preciso de ti agora.
Amor, por favor, não demora
Preciso ouvir tua voz
E vencer essa dúvida atroz.
Sumir desse pesadelo
Se tua, nua, em pelo
Pecado-real de nós.