Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

terça-feira, 31 de maio de 2016

Mar e rio

Meu peito parece apertado
Por uma força descomunal
Que se apodera da alma
E se transforma em olhos de mar.
De tanto amar já não sorrio
Sem que o rosto ensanguentado
Revele lágrimas vermelhas
A descer ao peito comprimido.
Pela dor que se apodera
Do corpo inteiro enfraquecido
Saudade quimera dos apaixonados
Rios e mares em mim nascentes.
Ribanceiras de onde jorram
Lágrimas descontroladas
Um fel na boca se espalha
Veneno dos apaixonados.


segunda-feira, 30 de maio de 2016

Tempos

Espero quebrados segundos
Para esperar inteiros minutos
Muito menos espasmos de horas
Que em dias podem se transformar.
Tempos, nossos, não vencidos
Talvez sejam proibidos
Pela suprema corrida diária
Contar o relógio da vida.
Dias passam, corremos mais
Rumo ao fim inevitável
De um começo, feixe de luz
Sonhos esculpidos no passado.
Cujos desenhos floridos
Por nós foram esfacelados
Fomos incapazes de resistir
A algo que nem sonhávamos.


domingo, 29 de maio de 2016

Vazios

Há vazios em mim
A me deixar assim
Cheio de tenra saudade
Que aumenta com a idade.
Em mim se desenvolve
Dias e noites envolvem
Em pequenos pacotes
Para que eu suporte.
O fato de não te ter
Quando vem o querer
E por mais que eu tente
Nada há que eu invente.
Capaz de me preencher
O fato de não ter você
E quanto mais me desespero
Sei que é a ti que eu quero.