Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Desatino


Desço do pedestal
Para beijar-te
Não faz mal
Amar-te!
Desde que não seja
Aquela paixão que enseja
Loucuras a dois
Sem destino
Só desatino.
Porque amor que enlouquece
Precisa de prece
E se beijo teus pés
Subo a beijar os és.
Porque és um todo
De preces e mereces
Que eu me debruce
Sobre ti e para ti.


quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Defeito


A chuva lá fora
Lembra-me agora
Que você se foi
Nem me diz oi.
É como se eu tivesse
Que fazer uma prece
E te implorar
Pra você voltar.
E se não voltar
Pelo menos falar
E me dizer um oi
Como isso dói.
Este teu silêncio
É falta de senso
Será meu defeito
Dó demais no peito.


quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Abismo


Dos nossos momentos
Folhas ao vento
Da nossa saudade
Pura maldade.
Ficar sem você
Parece um abismo
Não consigo vencer
O intenso perigo.
Que vive a rondar
Minha mente inquieta
Deixo-me levar
De forma incerta.
Por este universo
Amplo e reverso
Quanto mais cismo
Com o nosso abismo.