Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Reação

Empurra-empurra.



Parada.


Entra mais gente.


Respirar é insuportável.


Ônibus.


Sofrimento do pobre.


Motorista.


Cabelos grisalhos.


Uns sessenta anos.


Óculos no rosto.


Terminal.


Mais empurra-empurra.


Lotação.


Motorista irritado.


- A porra dessa cigarra foi feita pra puxar.


- Mas eu puxei.


- Puxou no terminal, estamos há cem metros de lá.


- Deixa de frescura velho, abre logo a porta.


- Não sou um macho velho, sou um velho macho.


Segundos.


Motorista pega a capanga.


Tira o revólver.


Gritaria.


- Não faça isso. Não mate o homem.


Pedido atendido.


Porta aberta.


Passageiro desce.


Pálido


Fantasmagórico.

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