Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Assepia nada convencional (Terceira parte)

- Ah...ááááááááááááááiiiiiiiiiiiiiiiiiii.
- Comandante, o senhor não disse para eu mijar?
- Ora porra, tu queria que eu não gritasse? Isso arde pra caralho.
Com o grito do piloto, João acordou do desmaio. Naquele momento, estava tendo um pesadelo e pensava que eram o grito eram diabinhos que o carregavam para o inferno. Quando abriu os olhos, gritou:
- Valei-me nossa senhora! O que é isso?!
O músico botava o “instrumento” para dentro da calça e o comandante balançava a cabeça, tentando se livrar dos respingos de mijo.
**********
Não tinha como saber o local exato do acidente. O comandante juntou os pedaços do mapa de navegação, fez uma contas e disse:
- Vamos em direção ao Norte. Logo encontraremos alguém.
O músico voltou a tocar seu sax. As notas das marchas carnavalescas ecoavam pela floresta. Era um forma de espantar qualquer animal feroz que pudesse se aproximar. Em pouco tempo de caminhada, encontraram um paiol cheio de castanhas-do-pará. Famintos, passaram a quebrar as castanhas no dente. Comeram até topar com o dedo.
O paiol era sinal de que havia gente por perto. Mas era muito tarde e eles resolveram dormir ali mesmo. O cansaço, após o acidente, não impediu o músico de tocar “Saxofone porque choras”, sua música preferida, antes de dormir.
Acordam ainda de madrugada. Quebram o jejum com castanhas. Comem até não querer mais.

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