Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sábado, 3 de setembro de 2011

Outros eus


Quero assumir novas identidades
Aceitar veleidades.
Não me importar com idades.
Nem pra mais, nem pra menos.
Quero saborear o veneno
De te deixar sobre o feno.
Num amor sem limites.
Fazer parte das elites.
Comer caviar, tomar uísque.
Esquecer cerveja e cachaça.
Sorver óleo de linhaça.
Esticar as rugas do rosto.
Rir da tua cara com gosto.
Fazer do Twitter um entreposto
Do aulicismo cego
Que massageia o ego
De quem nunca botou um prego.
Numa barra de sabão.
Que não revela o que tem.
Que diz sempre ser do bem.
Nem que seja do bem bom.
Ser um inescrupuloso
Que abusa do povo.
Sem mostrar um rumo novo.
Só com papo e ironia.
Ilusão e hipocrisia.
Ficar nessa homilia
De te enganar dia a dia.
Político-profissional
Acima do bem e do mal.
Ser esse ser abjeto?
Nem mesmo em verso ou prosa.
Meu sonho mesmo é levar.
Sempre uma vida honrosa.

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