Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quarta-feira, 27 de março de 2019

Cios


As águas de março
Nem levaram o verão
O que agora faço
Com esta solidão?
Trazidas pelas águas
Densas de todos os rios
Que juntam as mágoas
Em torno de muitos cios.
Ficam também os vazios
Que a falta do teu corpo faz
Vivo dias sombrios
Sem ti, a vida não me apraz.
De cio em cio, aprecio
Filetes de água no rio
São caudalosas lembranças
Que ainda me dão esperanças.
De um dia te tocar de novo
Sentirmos, juntos, o gozo
A avivar toda a saudade
Quando o cio nos invade.


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