Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sábado, 21 de novembro de 2020

Asa quebrada

Minha asa foi quebrada

Sonhos não tenho mais

Dói a pessoa ser comparada

A um ser do reino dos animais.

Devo ser um cavalo alado

Que usou asas para sonhar

Por um impulso não controlado

Na crina tentou te levar.

Muitas patadas, reconheço,

No ar, tive de soltar

Fiz isso desde o começo

Por querer mais rápido voar.

Um sonho a dois, pensei que fosse

Mas, só restaram os coices:

Nem mais rápido fizeram voar

E a atingiram até machucar.

Da minha crina você pulou

Quem quer viver com um cavalo?

Nem o alado que um dia sonhou,

Restou ou foi preservado.

Hoje acordo com a sensação

De te causar só decepção

Sem poder voar, arrasto a asa

Da dor de não acertar em nada.

 

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