Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

terça-feira, 16 de abril de 2013

Deleite


Amo cada fio do teu cabelo
Todos os milímetros dos teus pelos
Tudo de pele que começa na cabeça
E chega ao dedão do pé sem que eu esqueça.
Tão forte e marcante
Quando um café forte, rascante
Daqueles cujo sabor marca a alma
Como esse amor que a nós acalma.
E nos faz sofrer ao mesmo tempo
Com essa sensação insaciável
De não tirar o outro do pensamento
Numa saudade incontrolável.
Como aquele sabor meio Acre
De um café encorpado e solúvel
Que muda a cor da língua
E fica horas e horas na saliva.
O teu gosto que toma conta
Inteiro da minha boca
Do pé da língua até chegar à ponta
Numa saudade que me deixa louca.
Misturo o meu café forte
Com as gotas do teu leite
Salivo de saudade neste deleite
Do amor que é teu até a morte.
Sorvo teu cheiro, saboreio nas narinas
A tua pele-leite, cheiro de cafeína
Que a mim desperta todos os instintos
Capazes de selecionar teus sabores distintos.
Então, bebo você assim meio absorto
No meu sonho viril de domar o teu corpo
Abro os olhos e sinto o teu cheiro-carmim
Tua saudade dorme e acorda em mim.

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