Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sábado, 25 de maio de 2013

Friagem

O vento sopra a palha do coqueiro
E eu não te tenho em meu travesseiro
Em maio ou junho, parece miragem
O calor do Acre transforma-se em friagem.
Pela veneziana ouço o barulho dos galhos
Das palhas que se tocam num balé suave
Você chega firme garoa que cai
Teu cheiro de fêmea de mim não sai.
Mistura-se com o cheiro de mato e terra
Invade as narinas, todo o ar tempera
Entrego-me à viagem na fria friagem
Ouço teus rugidos, gemidos de fera.
A entrar pela porta como quem sai de um sonho
E se tornar real nos versos que componho
Esquentas minha vida que estava tão normal
Tudo tão simples, fácil, natural.
Como a brisa a entrar pela janela
A tomar conta de cada sentido
Desenho teu corpo como em uma tela
Só para, em cores, pintar o teu doce gemido.


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