Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sexta-feira, 6 de março de 2015

Límpida

Cristais de água molham o meu rosto
Passo a língua nos lábios pra sentir o gosto
Em vão, água não tem gosto nem cor
É clara e límpida como o nosso amor.
Que, na vida, tomo um rumo estranho
Quanto mais te quero, mais te amo
Justamente quando eu não acreditava
Pela vida a dois, não mais optava.
Límpida imagem, você me apareceu
Sombras no quarto: você e eu
Dança de imagens, ao fundo a luz
Estremeço e o teu desejo me induz.
A afastar a roupa, abocanhar o seio
Descer a mão até o teu meio
Em meio a tudo descubro o prazer
Da límpida vontade de te querer.


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