Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Sofisticado

Meu poema não é gurmet
Não quer impressionar você
Nem parecer sofisticado
Ou por demais temperado.
Nada aparece em excesso
Sequer uma ponta de verso
Tudo sempre faz sentido
Quando estás comigo.
Mas se te vais, pago o preço
Da dor que bem sei, não mereço
Um amor, assim, tão sofisticado
Pode ser mal-interpretado.
De tanto que tudo sentimos
A inebriar nossos destinos
Perdemos todos os abrigos
Na incerteza dos perigos.
Amor que nos tira do prumo
E faz a vida perder o rumo
A euforia e a insensatez
Nos fez perder a lucidez.


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