Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

terça-feira, 4 de junho de 2024

Dores

 No dia 30 de dezembro de 2020, às 16h55min, publiquei o poema "Tempero"

Tento fingir que não vejo

Chego a negar o desejo

Mas, é quase impossível

Resistir ao teu olhar incrível.

Como se as ondas do mar

Vivessem a te temperar

Difícil esquecer teu cheiro

Que fica no meu travesseiro.

E toma conta do meu corpo

Espalha um desejo louco

De a tua boca beijar:

O dia inteiro te amar.

 

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Foi meu último poema publicado. No dia 31 de dezembro de 2020 fui para a UTI, com a COVID-19. Fique 12 dias na UTI e 4 dias no hospital. Foram 16 dias e a decisão de não mais escrever nenhum dos Blogs. Na virada de 2023 para 2024, em Sena Madureira, peguei Chikungunya (Vírus CHICK-V). Foram 33 dias "de cama": cheguei a sentir saudades da UTI. Ganhei um reumatismo que pode durar de seis meses a dois anos: resolvi lutar e viver mais ainda enquanto tiver esta dádiva.

Ontem, na aula de redação (retomei os cursos de redação), em Jucuruçu, interior da Bahia, Extremo Sul, resolvi "brincar" com as palavras juntamente com os estudantes, em um exercício do curso. Nasceu "Dores". E retomei o "Em Toques".

Dores

Distância
Ausência
Falta a essência.
Sobram odores
Misturam-se às dores
A falta que me faz
O que não posso fazer.
Amores que não tive
Tuas dores que não sinto
Vivo em um labirinto
Alimentado pelo instinto.
Devoro a dor
Que me devora
Sem a jogar para fora.
O que está aprisionado
No peito
No passado
Nos passos mal-dados
Dados que não se jogam
Apenas me afogam
Nas mágoas de um passado
Que destrói o presente.
E dói! Como dói! Não saber lidar com as dores!

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